Uma brasileira foi premiada por identificar 25 asteroides em um projeto coordenado pela Nasa, a agência espacial americana. Um desses corpos celestes, que é raro e entra na categoria dos que normalmente podem se chocar contra a Terra, tornou-se objeto de novas pesquisas nos Estados Unidos.
A responsável pela descoberta é Verena Paccola, 22, estudante de medicina da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto) da USP (Universidade de São Paulo).
Chamado oficialmente de Iasc (International Astronomical Search Collaboration –Colaboração Internacional de Pesquisa Astronômica, em livre tradução do inglês), o projeto para caçar asteroides chamou a atenção da jovem quando ela estudava para prestar vestibular no Brasil.
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"Estudar coisa do ensino médio era muito entediante", diz ela.
A jovem viu, então, a chance de participar do projeto internacional, que é coordenado pela Nasa e conta com a participação de outras organizações ao redor do mundo –no Brasil, o MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) realiza campanhas para a comunidade local se engajar na iniciativa.
"Quando eu vi essa oportunidade, fiquei super interessada porque era a chance de fazer uma coisa mais científica."
Paccola entrou no projeto em junho de 2020 e, para participar, ela fez um treinamento com a Nasa e com o ministério a fim de aprender a usar um programa de computador que consiste em comparar imagens que são capturadas de um telescópio.
Ela explica que recebia vários pacotes com quatro dessas imagens em sequência e daí precisava averiguar, por meio do programa, se podia ser ou não um asteroide. "O software piscava essas imagens para mim [...] e eu tinha que analisar mais visualmente se eu via alguma coisa se movendo, porque, por exemplo, as estrelas ficavam estatísticas, mas os asteroides, como seguem uma órbita, se moviam".
Se tivesse alguma suspeita na análise ao ver as imagens em sequência, ela então examinava uma série de números que indicavam o padrão do que poderia ser um asteroide.
A partir daí, a estudante enviava um relatório para a Universidade Harvard apontando quais pacotes de imagens tinham ou não a suspeita de ser um asteroide para que houvesse outras análises.
A jovem esteve ativa no projeto por três meses –de junho a julho de 2020 e depois em setembro do ano passado. Neste período, 25 dos palpites dela confirmaram ser asteroides e outros seguem sendo investigados. Destes, um tem grande importância porque entra na categoria de asteroide fraco.
"Normalmente os que colidem aqui na Terra são os asteroides fracos, então eles exigem uma atenção maior", afirma.
Com as descobertas, Paccola foi convidada pelo MCTI para participar da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, que ocorreu em dezembro de 2021, pois a pasta faria uma premiação para os brasileiros que tivessem descoberto algum dos corpos celestes.
Foi só durante a cerimônia que a estudante descobriu que um dos asteroides identificados por ela era categorizado como fraco. "Para minha surpresa, quando achei que já tinha acabado toda a premiação e entrega de medalha, eles me chamaram no palco novamente para me entregar um troféu. Foi quando descobri que tinha descoberto esse asteroide raro."
Atualmente, cientistas estão estudando para identificar com maior precisão a órbita do asteroide já que ele é diferente dos que normalmente são identificados.
A jovem explica que, embora haja uma chance de ocorrer um impacto do corpo celeste em nosso planeta, acredita que isso é difícil de ocorrer.
"A probabilidade é bem pequena de causar um estrago. Normalmente, os asteroides que caem aqui na Terra caem no mar ou viram pedra, porque para entrar na atmosfera pegam fogo e diminuem muito de tamanho. Não sei te dizer o que vai dar, mas as probabilidades [de ser algo sério] acho que são pequenas", afirma.
No momento, a estudante planeja treinar, por meio de sua conta no Instagram, jovens que estejam interessados em participar do projeto de caça a asteroides.
Sobre o futuro, a jovem afirma que deseja continuar na medicina e se especializar em neurocirurgia, mas com toda a repercussão dos asteroides ela já tem dúvidas sobre o caminho que irá trilhar. Uma saída seria a medicina espacial.
"Se não me engano, [a medicina espacial] tem um grande campo de trabalho, porque você pode ser uma médica que vai ao espaço, fazer experimentos lá, ou você pode ser uma [profissional] que irá auxiliar os astronautas", afirma.
Caso siga por esse caminho, a jovem prefere a ideia de fazer experimentos científicos no espaço. Mesmo assim, ela ressalta que a neurocirurgia ainda é o que pensa em fazer –pelo menos por enquanto.
A VIDA IMITA A ARTE
A história da descoberta de Paccola tem certas semelhanças com o filme "Não Olhe para Cima", lançado no final do ano passado pela Netflix.
Na obra, a cientista Kate Dibiasky, interpretada por Jennifer Lawrence, descobre um asteroide que deve se chocar contra a Terra. Ela e seu professor Randall Mindy, vivido por Leonardo DiCaprio, tentam avisar as autoridades sobre o risco que o corpo celeste representa para a humanidade –e encontram grandes dificuldades por não serem levados a sério.
Para a estudante de medicina, o filme mostra o que significa fazer ciência atualmente, como ao retratar os empecilhos que o negacionismo gera para disseminação do conhecimento científico. "[A obra retrata] como a sociedade acha que a ciência permite opiniões, sendo que [não é permitido]", afirma.
Paccola também diz que se viu na personagem encarnada por Lawrence pelo fato de ser mulher e as dificuldades que ela encara no meio científico.
"Ela tenta falar as coisas e as pessoas não ouvem, não levam a sério, ainda mais por falar de ciência. Muitas vezes eu já me senti não ouvida nesse ramo científico, então, eu me identifiquei muito com a personagem nesse aspecto", diz.