Após desembarcar em Santos e peregrinar em busca de negócios pelo interior paulista, Salomão enxergou o futuro na terra fértil do Norte do Paraná
Era o mês de abril de 1933 (portanto, 20 meses antes da emancipação de Londrina) quando por aqui chegou o pioneiro Salomão Jorge Hauly, com a esposa Jamile e o filho primogênito Emil no colo. Mas a longa jornada de Salomão havia começado em 1924, exatamente há 100 anos, quando, com apenas 21 anos, sem perspectivas na sua pequena comunidade de Kab Elias (Monte Elias), no Líbano, decidiu migrar para o Brasil.
Após desembarcar em Santos, investiu as parcas economias em compras em São Paulo. De mala cheia, iniciou suas viagens pelo interior. Em São Carlos, ele encontrou sua fiel companheira de vida, Jamile Ayub, com a qual se casou em 1932. Em Monte Aprazível nasceu Emil; os outros sete filhos, Nágila, Jorge, Anwar, Aparecida, Henry, Eduardo e Luiz Carlos são pés-vermelhos.
Atraído pela riqueza gerada pela terra vermelha, Salomão chegou decidido a criar raízes em Londrina. Como não encontrou um local ideal, ele então mudou para uma pequena comunidade ainda mais remota onde, 14 anos depois foi criado o município de Cambé, do qual também se tornou pioneiro.
Como os demais pioneiros, ele enfrentou muitas dificuldades. A primeira moradia alugada em Cambé era um rancho e pelos vãos entre os palmitos passavam o vento, o frio, a chuva e os insetos. Muitos não resistiram a tantas adversidades.
Mas Salomão enxergou o futuro promissor e decidiu abrir ali a Casa São Jorge. Com a nova opção de transporte a partir de 1935, as mercadorias chegavam de São Paulo de trem. Para não depender apenas dos clientes que visitam a sua loja, passou a fornecer mercadorias para os mascates que se aventuravam atrás dos compradores.
Com a chegada do trem, e depois do asfalto, o núcleo urbano de Cambé cresceu muito, e também a concorrência. A Casa São Jorge (ele abriu outras duas além da matriz) que havia sido referência nas décadas anteriores, perdeu espaço no mercado. Em 1957, com os filhos mais crescidos, ele decidiu abrir em Cambé a Churrascaria Gaúcha, à margem da BR-369 por onde passava o progresso da região. Assim como fora na loja, a esposa Jamile, com sua simpatia e carisma, assumiu o caixa do novo negócio. Além de cuidar dos oito filhos, de ser a líder religiosa da casa, ela sempre incentivou e participou dos negócios do marido.
Nove anos após abrir a churrascaria (ele teve duas churrascarias), Salomão partiu depois de um infarto fulminante. Descansou em paz, participou ativamente da construção desse mundo novo, viveu um matrimônio feliz ao lado da esposa Jamile, acompanhou de perto o crescimento dos seus oito filhos e investiu na formação deles - alguns ele conseguiu enviar para escolas tradicionais de Jacarezinho e Botucatu. Enfim, realizou o sonho de constituir uma família abençoada na terra fértil do Norte do Paraná.
Luiz Carlos Hauly, o caçula, levou bem longe o sobrenome da família
Apaixonado por esporte (sempre praticou o basquete), formado em educação física e ciências econômicas pela Universidade Estadual de Londrina, o grande sonho de Luiz Carlos Hauly era ser professor - deu aulas em colégios de Cambé e Londrina. Mas, desde muito jovem se envolveu tanto em organizar eventos, viagens de estudantes, desfiles de 7 de setembro e tantas outras atividades comunitárias que ele pegou gosto pela política.
Após retornar do Rio de Janeiro onde cumpriu o serviço militar na Polícia do Exército, Hauly foi eleito o mais votado vereador em 1972, com apenas 22 anos. Depois, foi secretário de Administração e de Finanças, presidiu a Comdec e em 1982 foi eleito prefeito de Cambé.
Liderou uma gestão participativa e inovadora o que resultou em um convite do governador Alvaro Dias para ser o secretário da Fazenda do Paraná (1987-1990), cargo que exerceu novamente no período de 2011-2013 no governo Beto Richa.
Em seu 8° mandato como deputado federal, Hauly é autor ou relator de importantes leis de impacto nacional, entre elas o Simples, o MEI e agora a Reforma Tributária. Salomão faleceu quando Hauly tinha apenas 16 anos; ele certamente iria se orgulhar da trajetória do seu caçula que, entre outras funções de destaque, presidiu durante quatro anos o Parlamento das Américas com sede em Ottawa, no Canadá.
Nágila Hauly, a 1ª londrinense completou 90 anos em setembro
Nágila Hauly foi a primeira criança oficialmente registrada em um cartório de Londrina. Ela nasceu em 30 de setembro de 1934, mas foi registrada no dia 1º de janeiro de 1935. Aliás, Nágila acaba de completar 90 anos e esse aniversário foi mais que especial pelo clima de festividade que também marca a comemoração dos 90 anos de emancipação de Londrina.
O fato é que, desde o seu nascimento, Nágila entrou para a história de Londrina. Tanto que o original de seu registro de nascimento é parte do acervo do Museu de Londrina. Ao longo desses anos, ela recebeu inúmeras homenagens. Quando tinha 9 anos, foi a convidada de honra da grande festa de inauguração da Praça da Bandeira.
Nonagenária, mas com excelente memória e boa saúde, Nágila relata em detalhes como atravessou cada estação de sua vida. Ela manifesta gratidão a Deus e aos seus pais, a infância feliz com os irmãos em Cambé, e por fim, o maior orgulho de sua vida: os 4 filhos, 9 netos e 8 bisnetos.
Recentemente, ela visitou o Museu de Londrina e recordou do período de sete anos de viagens de trem para estudar em um tradicional colégio religioso de Botucatu (SP), e também dos muitos passeios que realizou com os seus filhos. Ao caminhar pelos espaços do museu, Nágila observou atentamente as fotografias e os objetos do seu tempo que, assim como ela, também entraram para a história de Londrina.