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Amor na pele

Tatuar o nome de "amores" vira moda

Yrit Sitnik - Folha de Londrina
13 jan 2010 às 11:15

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‘‘É uma homenagem que faço ao meu filho. Quero que ele saiba um dia que é a coisa mais importante da minha vida’’, conta Flávio - Theo Marques
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Verão, praia e corpo à mostra. É a época em que até as tatuagens mais escondidas acabam ficando visíveis. Antigamente sinônimo de rebeldia, as tatuagens estão hoje muito mais democráticas, nos corpos de todas as tribos, das patricinhas aos roqueiros. Pode-se até mesmo dizer que ela já faz parte do universo da moda e, como tal, tem suas fases.

O tatuador Marcelo Baptisti, de Curitiba, revela que tendência atual é a personalização do desenho, ou seja, está cada vez menos comum encontrar alguém que vá a um estúdio e escolha uma figura de catálogo. Eternizar nomes de filhos, pais, namorados, ou mesmo frases com algum significado importante é o que mais tem se visto. ''A procura aumentou muito, principalmente entre as mulheres. Os desenhos tradicionais, como flores, por exemplo, continuam sendo requisitados, mas sempre com um toque personalizado'', diz.

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Já a sócia da Teix Tattoo, Jô Maciel, observa a mudança do perfil de quem procura o estúdio. ''Frases e nomes sempre foram bastante requisitados. O que mudou foram os clientes. Não são mais só os jovens. Hoje, quem mais procura o estúdio são profissionais de classes mais altas, pessoas mais velhas e que já têm filhos. Isso prova que estamos caminhando para o fim do preconceito''.

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Marco Teixeira, também da Teix Tattoo, comenta que o estúdio não trabalha com tatuagens prontas. ''Todos os desenhos são personalizados. Antes da tatuagem, fazemos uma entrevista com o cliente e fotografamos a área que ele deseja tatuar. Em seguida, por meio de um sistema de computação, colocamos o desenho sobre a foto, para que ele consiga visualizar como vai ficar depois de pronta'', explica.

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Homenagem eterna


Quando lindas histórias justificam a escolha do desenho, fica mais difícil se arrepender. Foi assim com Flávio Bonacordi, de 34 anos, analista de sistemas, que tatuou no braço direito o nome do filho, Bruno, 2 anos. ''Quando era mais novo, sempre quis ter uma tatuagem, mas não sabia direito o que queria. Assim que soube da gravidez da minha esposa, senti que havia chegado a hora. Pesquisei bastante os tipos de letras e já levei o desenho pronto para o tatuador. É uma homenagem que faço ao meu filho. Quero que ele saiba um dia, quando crescer, que é a coisa mais importante da minha vida'', conta Flávio, adiantando que no nascimento do próximo, seja menino ou menina, fará outra tatuagem com seu nome.

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Já a designer Mariana Carvalho, de 29 anos, encontrou em uma música da banda The Doors um modo de declarar seu amor pelo rock. A frase tatuada na altura da cintura ''When the Music is Over Turn Out the Lights'', na tradução literal ''Quando a música terminar apague as luzes'', tem um significado importante para ela. ''Sempre fui uma pessoa muito ligada à música. Além disso, sou apaixonada por rock'n'roll desde criança. Tive então a ideia de tatuar algo que demonstrasse esse amor, porém, símbolos, como uma guitarra ou uma nota musical, não iam conseguir transmitir esse sentimento. Tinha de ser a letra de uma música, e mais, uma música que falasse de música'', lembra.


Gianinne Simão, 28 anos, jornalista, conta que desde criança pensava em tatuar o próprio rosto em alguma parte do corpo. ''Nunca soube o porquê, mas era algo que sempre quis. Como sou descendente de índios, tive a ideia de tatuar uma índia, porém, com meu rosto'', afirma. Assim, após conversar com vários tatuadores, acabou levando uma foto sua até um profissional que transformou seus traços em um desenho. ''Ficou perfeito, mas o medo foi grande. Se na hora de fazer a tatuagem ele errasse qualquer traço, não seria mais eu''. Gianinne diz que arrependimento é algo que nem passa pela sua cabeça, mesmo depois de dez anos. ''Ela tem um significado para mim, é única, ninguém mais tem. É muito bacana quando as pessoas me param na rua para perguntar se sou eu mesma na tatuagem. Além disso, como está em um lugar em que não vejo, às vezes até esqueço que ela existe''.

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Ilegalidade e doenças


Representantes dos tatuadores e aplicadores de piercing de Curitiba, das secretarias municipais da Saúde e das Finanças e da Câmara Municipal estão formando um grupo de trabalho que se reunirá, a partir de março de 2010, para deliberar sobre o que fazer para legalizar estúdios informais e melhorar a qualidade dos serviços prestados por esses estabelecimentos.

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De acordo com Lucinéia Bencke Lino, da área de vigilância sanitária de produtos e serviços da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, a intenção é proteger os dois lados, tatuador e tatuado. ''Queremos ampliar a educação da prática. São procedimentos invasivos, que exigem cuidados, pois podem transmitir doenças como hepatite B e até Aids. A ideia é aproximar o grupo de profissionais para repassar as práticas corretas de segurança e orientá-los sobre a necessidade de estar com a licença sanitária e alvará em dia. Além disso, a secretaria oferece aos tatuadores vacinas contra hepatite B (única prevenível por vacina), disponíveis gratuitamente nas unidades de saúde da cidade'', explica. A profissional ainda diz que existem hoje em Curitiba entre 100 e 150 tatuadores e aplicadores de piercing, porém, apenas 40 estão na legalidade.


Múmias tatuadas

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A verdadeira origem da tatuagem é incerta. O relato mais antigo de seu uso foi descoberto em 1991, entre a Itália e a Áustria, em um homem do gelo de aproximadamente 5.300 anos, que tinha a maior parte do seu corpo pigmentada. O homem estava tão bem conservado que pôde se contabilizar suas tatuagens, 57 ao todo. No Egito também foram encontradas múmias tatuadas, que datam do período entre 4000 e 2000 a.C. Entre os povos da Ásia, indícios apontam que a tatuagem está presente há pelo menos quatro mil anos.


Mas o momento célebre da tatuagem foi em 1769, quando o inglês James Cook e sua tripulação ficaram encantados ao chegar no Taiti e ver a população com o corpo coberto de desenhos. Foi Cook que inventou a palavra tattoo, que deriva do taitiano tatau, que significa marcar. Tatau também seria a onomatopéia para o ato de tatuar-se, na qual tat seria o barulho do instrumento que perfura a pele e au o grito de dor da pessoa sendo tatuada.


Nas últimas décadas

Anos 1950 e 1960 - A tatuagem era associada a classes sócioeconômicas mais baixas, aos militares, aos marinheiros, às prostitutas e aos criminosos. Eram comuns tatuagens de corações espetados por flechas, rosas e mulheres nuas
Anos 1970 - Flores, fadas e outros símbolos hippies
Anos 1980 - Dragões, panteras, águias e tigres
Anos 1990 - Desenhos tribais
Anos 2000 - Década da personalização. Tatuagens feitas especialmente para cada pessoa. Nomes queridos e frases estão em alta.


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