A fabricante e varejista de calçados Arezzo&Co e o Grupo Soma, de varejo de moda, decidiram se unir em uma nova empresa. O controle da companhia será da Arezzo, que terá 54% do capital, enquanto o Soma fica com 46%. Os novos sócios estão reunidos neste domingo (4) para acertar os detalhes do negócio, que será anunciado oficialmente em breve, possivelmente nesta segunda-feira (5).
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A informação sobre o acerto da fusão foi antecipada pelo jornal Valor Econômico e confirmada pela Folha.
Ambas as empresas já tinham divulgado um comunicado ao mercado no último dia 31, informando sobre as negociações para a fusão. Na ocasião, disseram que o atual CEO da Arezzo, Alexandre Birman, será o presidente da nova empresa, que terá Roberto Jatahy, atual presidente do Soma, como principal executivo da unidade de vestuário feminino. Essas definições se mantiveram na reunião deste domingo.
A reportagem apurou ainda que Rony Meisler, ex-presidente do grupo Reserva, adquirido pela Arezzo em outubro de 2020, será o presidente da unidade de vestuário masculino.
No momento, segundo uma pessoa que acompanha a negociação, que falou em condição de anonimato, a discussão gira em torno da composição do conselho. Existe a proposta de formação com sete membros: três de cada uma das empresas -além do presidente, um nome indicado pelas duas companhias.
Hoje a Arezzo tem nove membros no conselho e, o Soma, oito. Em ambos os boards, o presidente do conselho é um membro independente, não vinculado às companhias.
Arezzo e Soma juntas teriam um faturamento estimado em R$ 12 bilhões, conforme projeção feita pelo banco BTG, o que as colocaria à frente da Renner, atual líder do setor, que fatura R$ 11,7 bilhões ao ano (o balanço do 4º trimestre das empresas de capital aberto ainda não foi divulgado). Em 2022, Arezzo e Soma registraram juntas R$ 9,1 bilhões de receita líquida.
As companhias indicaram nos últimos dias que a transação tem potencial para gerar R$ 4,5 bilhões em sinergias, boa parte disso na possibilidade de "venda casada" entre as marcas -lojas Farm com calçados da Arezzo, por exemplo. Juntas as empresas teriam mais de 30 marcas, a maior parte delas destinada ao mercado premium. Apenas Hering, hoje sob o guarda-chuva da Soma, seria a marca mais popular do grupo.
Mas há também expectativa de redução de custos em despesas gerais e administrativas, nas áreas de recursos humanos e tecnologia. De acordo com estimativas do banco Safra, essa redução giraria em torno de R$ 200 milhões ao ano.
O anúncio da fusão chega em um momento delicado para as gigantes da moda no Brasil. O avanço das varejistas asiáticas, especialmente da Shein, colocou o mundo da moda em suspenso, na tentativa de avançar com o uso de inteligência artificial e redução de estoques a fim de reduzir custos e ganhar em eficiência.
O ritmo de lançamento de peças da varejista online asiática é frenético: cerca de 2.000 produtos novos por dia. A Shein já fatura mais de R$ 10 bilhões no país, de acordo com estimativas do BTG (ultrapassando, portanto, redes já consolidadas como Marisa e C&A), e é a dona do aplicativo de moda mais baixado do país em 2023: foram 53 milhões de downloads, segundo a ferramenta de pesquisas de mercado AppMagic.
Em 2024, a companhia deve abrir o capital nos Estados Unidos. O valor de mercado estimado da Shein está em US$ 100 bilhões (R$ 485,4 bilhões). No ano passado, a multinacional fechou um compromisso com o governo brasileiro para investir R$ 750 milhões dentro de três anos no país, com a contratação de 2.000 fábricas locais.
NOVA EMPRESA DEVE CONCENTRAR MERCADO DE MODA PREMIUM NO BRASIL
"Há vários potenciais ganhos que dão sentido a esta fusão, como a complementariedade das marcas premium, como Arezzo, Reserva, Farm, Animale, além da Hering, que é democrática", diz o consultor Alberto Serrentino, sócio da Varese Retail.
"A nova empresa resultante da fusão será uma 'house of brands' [casa de marcas] bastante musculosa e abrangente, com várias sinergias entre os negócios", diz ele, referindo-se à forte estrutura de distribuição dos dois grupos, que envolvem lojas próprias e franquias, principalmente em shopping centers, além de lojas multimarcas e as respectivas operações de comércio eletrônico.
A nova empresa não vai concorrer com o mercado de massa, como Renner e C&A, diz Serrentino. "Ela vai dominar o mercado premium, que é relativamente pequeno no Brasil. Mas as duas companhias têm projetos de internacionalização de suas marcas", afirma. "O país é muito competitivo no mercado de calçados e de moda, uma vez que tem a cadeia completa: desde a diversidade de matéria-prima até o número de pontos do varejo."
Para o especialista, este será um bom ano para o negócio de moda, uma vez que o brasileiro vê a recuperação dos níveis de emprego, renda e confiança.