O assunto já rendeu até um livro. Em ''Meus Cabelos Estão Ficando Brancos - Mas Eu Me Sinto Cada Vez Mais Poderosa'' (editora Globo), a ex-tingida e atual grisalha Anne Kreamer divaga sobre sua opção e conta a reação da família, amigas e homens. Nos Estados Unidos, onde 65% das mulheres pintam os cabelos, a publicação de Kreamer colocou lenha na fogueira das vaidades. Ela fez as contas e apurou que, durante os 24 anos em que foi ao salão retocar as raízes - sempre a cada três semanas -, desembolsou 65 mil dólares.
Mas não basta coragem para aposentar as tinturas. Personalidade, estilo, tipos de rosto e de pele são fatores que influenciam no resultado. Se usarem os cabelos sempre presos em um coque de vovó Donalda, as incautas vão parecer mais velhas do que realmente são. Aquelas que adotam um corte e visual modernos passam uma imagem de poder e sofisticação, como a atriz Cássia Kiss, que só se sujeita às tinturas quando um papel exige.
Outro bom exemplo é a modelo Carmen Dell'Orefice, na casa dos 70 anos. Alta, esguia, chiquérrima, ganhou destaque em desfiles e nos editorias de moda da Vogue ao assumir os cabelos brancos como flocos de algodão, na década de 1970, quando tinha 42 anos.
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'Na Europa ninguém liga'
Há sete anos, a promoter carioca Lalá Guimarães, de 57 anos, madeixas completamente brancas, largou as tintas de vez. ''O meu cabelo estava caindo, danificado por anos de química. Fui ao salão e pedi para o meu cabeleireiro cortá-lo bem curtinho. Me acostumei com o visual, até porque sempre fui uma pessoa transgressora'', brinca. Na época, as reações foram as mais variadas possíveis. ''Algumas pessoas acharam o máximo e outras que me criticaram por ter entregado a idade de todo mundo. Na Europa ninguém liga, mas, num país latino, o preconceito é forte. Vivemos sob essa paranóia de rejuvenescimento a qualquer custo, Botox, preenchimentos e plástica.'' Como cuidados especiais, a promoter lava os cabelos com xampu Silver, da L'Oréal, que proporciona brilho e reflexos prateados, evitando que os fios fiquem amarelados.
A stylist Patida Mauad, de 49 anos, nunca teve a curiosidade de mudar a cor do cabelo. Trabalhando há mais de 30 anos com produção, cercada de estilistas e profissionais da área de beleza, sempre era cobrada para tingir os fios. ''O máximo que já usei foi henna natural, para dar brilho.'' Como sempre praticou natação, seu único cuidado era passar uma rinçagem prata para evitar que os fios brancos ficassem queimados do sol. ''Sou vaidosa e acho lindo os reflexos prateados.''
Sinônimo de idade
Na terra onde mais se cultua a juventude, além de coragem e estilo, as grisalhas precisam ter paciência para lidar com situações embaraçosas. Como lembra a cabeleireira paulistana Celina Nakamura, ao menos em terra brasilis, cabelo branco é sinônimo de idade. ''Uma cliente nossa, na época com 50 e poucos anos, contou que, durante uma viagem, assim que o avião aterrissou, as aeromoças pediram uma cadeira de rodas para ela. Outra cliente, também grisalha, porém jovem, se fez de surda quando o segurança de um banco insistia para que ela fosse atendida no caixa reservado aos idosos.'' Na opinião da profissional, é preciso ter tipo para adotar o estilo branco. ''A mulher também deve ser cuidadosa com a escolha de um bom xampu, adotar um corte moderno e fazer hidratação regularmente. Caso contrário, passa um ar de desleixo'', alerta.
Fator hereditário
Segundo o tricologista (especialista em cabelos) Valcenir Bedin, os fios ficam brancos porque o melanócito (célula que produz a melanina) sofre um processo chamado apoptose (morte celular programada), fazendo com que o pigmento de melanina seja substituído por uma gota de ar. ''O fio, inicialmente, fica mais espesso, mas depois volta ao normal. Arrancá-lo não adianta nada, nascem sete no lugar'', brinca, fazendo referência à crendice popular.
O fator hereditário determina o surgimento dos primeiros fios ainda na juventude. ''Há famílias cujos genes fazem com que seus membros tenham cabelos brancos antes dos 18 anos. Mas, de uma forma geral, eles surgem por volta dos 35 e 45 anos, nas pessoas brancas; na faixa dos 45 e 55, entre os asiáticos, e após os 55 anos, no caso dos negros.'' Bedin explica que existem dois tipos de melanina: a eomelanina, que é mais escura, e a feomelanina, que é amarelada. ''Incrivelmente, a mistura desses dois tipos criam uma infinidade de cores de cabelos.''
Hoje, sabe-se que uma dieta pobre em cobre (encontrado em frutos do mar com casca, como mariscos e ostras, e no chocolate amargo) pode deixar os cabelos ainda mais brancos. ''Mas se a dosagem do cobre estiver normal, só a tintura pode resolver. Existe no mercado um aparelho massageador, o Masster, que promete estimular a circulação e adiar o aparecimento dos fios brancos. Já os suplementos alimentares indicados para a recuperação do tom natural dos cabelos, segundo o médico, são apenas complexos vitamínicos, sem qualquer efeito na cor.