O hábito de reaproveitar roupas dos filhos mais velhos no guarda-roupa dos mais novos chega às vitrines. Em Londrina, três brechós especializados em comercializar peças usadas de vestuário infantil fazem do antigo hábito de reutilizar roupas - comum entre famílias e até mesmo amigos - um negócio lucrativo para quem vende e também para quem compra.
Roupas com pouco uso, peças de grifes mais caras e uma infinidade de opções a preços baixos para a criançada ''bater'' estão nas araras e prateleiras dos brechós. Por esse motivo, a professora Ana Cláudia Fabo Borges está sempre renovando o guarda-roupa do pequeno João Ricardo, de quase um ano, nessas lojas.
''As crianças perdem roupas muito rápido porque estão sempre crescendo. No brechó encontro peças mais elaboradas, de boa qualidade, a preços até 70% mais baratos que nas lojas convencionais'', compara. As peças são usadas principalmente no dia-a-dia. ''Vale muito a pena'', acredita ela, que costuma doar as roupas que não servem mais no filho a famílias carentes. ''Sempre compro, mas não costumo vender'', conta.
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Vendedora do brechó Dinovo, Kelly Fernanda Gonçalves revela que a oferta de roupas, calçados, brinquedos e acessórios é sempre grande. ''Só compramos acima de 20 peças, para o preço ficar mais convidativo para quem vende a roupa'', diz ela, que atende clientes de todas as classes sociais. ''Os que têm maior poder aquisitivo procuram marcas, outros procuram bom preço'', afirma.
Cynthia Camargo, proprietária do Brechozinho, explica que o conceito de reutilização, propagado pelos brechós, ecoa nos princípios do consumo consciente tão defendido atualmente por todos os que se preocupam com o futuro do planeta. ''Sou educadora ambiental e defendo o reaproveitamento. A roupa tem uma durabilidade maior que o tempo da criança. Quando não serve mais, pode ser tranquilamente utilizada por outras'', afirma ela, que também veste o filho Leo Wawzyiak, de sete anos, com produtos do brechó. ''Em países como Inglaterra e Estados Unidos é comum o hábito de frequentar lojas de usados'', reforça.
Comerciante de roupas, calçados e acessórios nos tamanhos 0 a 16, a proprietária do Carinha de Anjo, Lucélia Barioni, observa que as peças mais procuradas em sua loja incluem os tamanhos de 4 a 8 anos. ''É nesta fase que as crianças mais perdem roupas'', explica. Há quatro anos no ramo, ela revela que as pessoas com preconceito contra roupas usadas acabam seduzindas pelas compras quando vêem o estado das peças. ''Tem muita gente que veio aqui vender e acabou virando cliente'', diz.
Critério é a qualidade
Roupas em bom estado de conservação sempre encontram acolhida nos brechós infantis. Também são observadas as marcas, com preferência para aquelas com maior apelo entre o público infantil, incluindo as grifes que divulgam personagens de desenhos animados e brinquedos. ‘O tipo de roupa também conta. Jeans e casacos, por exemplo, são sempre muito procurados’, comenta, acrescentando que as peças para bebês são as que mais vendem porque normalmente são bem conservadas. A loja também trabalha com artigos novos, comprados em pontas de estoque e que são vendidos a preços convidativos.
No Brechozinho, parte dos vendedores é formada por clientes que acabam fazendo trocas. A proprietária Cynthia Camargo adquire qualquer volume de peças, desde que estejam limpas, sejam de boa qualidade e não apresentem defeitos. No Carinha de Anjo, o critério é parecido, com preferência para as peças de excelente qualidade e sem defeitos. A proprietária Lucélia Barioni explica que nem sempre encontra com facilidade mercadorias que atendam a esses requisitos. ‘Minha maior dificuldade é comprar artigos para meninos. Como eles brincam muito, as roupas acabam ficando desgastadas’, observa.