Música pop

White Stripes brinca de ser grande em "Elephant"

04 abr 2003 às 19:04

O White Stripes fez o seu "Out Of Time". A exemplo do disco de 1991 do R.E.M., que traz o hit "Losing My Religion", "Elephant" representa para a banda americana de Detroit o pulo de gato, o ponto de mutação onde um grupo deixa de ser uma bem quista atração underground para cair de vez no gosto popular. Sem que, utilizando ainda o exemplo da turma de Michael Stipe, isso signifique que este seja o seu melhor trabalho.

"Elephant" é o quarto álbum da banda, restrita à dupla Jack (cantor e guitarrista) e Meg White (bateria) – os fãs adoram ressaltar a ausência do contrabaixo e levantar a polêmica boba sobre se os dois são irmãos, marido ou mulher, ou o que seja. Na sua semana de lançamento, o disco chegou ao 1º lugar da parada inglesa logo no seu primeiro dia nas lojas, 31 de março, desbancando o novo álbum do milionário Linkin Park. Bem mais adorado em solo europeu, o White Stripes ameaça quebrar até a tacanha resistência em sua terra natal, onde ainda é quitute alternativo, já que "Elephant" cravou uma improvável 15ª posição na Billboard. A Sum Records promete lançamento brasileiro para 7 de abril.


O hype proporcionado pelo ótimo "White Blood Cells" (2001), aliado ao vazamento das canções na internet há dois meses (o que praticamente forçou uma antecipação de uma semana no lançamento), só fez aumentar a expectativa pelo álbum. Musicalmente, "Elephant" adiciona a pitada de pretensão que faltava para que o som do Stripes pulasse a cerca do underground.


Comparado ao anterior, canções com jeitão épico, como "There’s No Home For You Here", que abre com um coralzinho e aspecto de musical, ou até mesmo o primeiro single, "Seven Nation Army", rockão com cara de hino, chegam a assustar. Essa vontade de ser grande gera momentos deliciosos, como a doce e minimalista "In The Cold, Cold Night", cantada por Meg, ou a versão de "I Just Don’t Know What To Do With Myself" (Burt Bacharach), que começa delicada, semelhante à original, antes de cair num insano rock pauleira, temperado pelos gritos de Jack.


Essas novidades acabam por incrementar o prazer que o ouvinte sente ao reconhecer o velho White Stripes, que, diga-se, está bem presente em "Elephant". Duas idéias fixas de Jack White, Beatles e a música country, estão representadas respectivamente pela ótima "You’ve Got Her In Your Pocket" (que, a exemplo de baladas anteriores da banda, poderia ter sido assinada por Paul McCartney) e por "Well, It’s True That We Love One Another", gozação caipira que fecha o CD.


"Ball And Biscuit" rememora a porção blues e a sensacional "Black Math" reafirma outra paixão do vocalista e guitarrista, o Led Zeppelin. Os agudos e a indolência à Robert Plant da interpretação entregam o jogo. Por fim, "Elephant" também vale pela tosqueira punk das garageiras "Hypnotise" e "Girl, You Have No Faith In Medicine", que honram o nome Detroit (a pátria do rock tosco) na certidão de nascimento da banda.


Ao mesmo tempo em que não renega o passado, "Elephant" é o White Stripes brincando de ser grande. Que as paradas sigam confirmando o fenômeno.


Lançamentos


Beth Orton – Daybreaker (EMI)


Cantora inglesa que já está no seu terceiro álbum, Beth Orton tem seu nome invariavelmente associado a vedetes como Chemical Brothers e Beck, já que cantou em discos destes artistas. Mas seu som tem muito pouco do apelo moderninho dos citados – está mais para a placidez do folk, especialmente para as representantes femininas do gênero (Joni Mitchell, Emmylou Harris, que aqui faz uma ponta). Ainda que menos inspirada do que nos trabalhos anteriores, Beth saca um leque de boas canções, com destaques para "Paris Train", de suntuoso arranjo de cordas, a melancólica "God Song" e "This One’s Gonna Bruise", escrita a quatro mãos com o superestimado astro alt-country Ryan Adams.


Para quem gosta de: Cat Power, Beth Gibbons (Portishead) solo, Ryan Adams.


Badly Drawn Boy – Have You Fed The Fish? (Sum)


Segundo álbum do cantor e compositor inglês Damon Cough (terceiro, caso seja contabilizada a trilha sonora de "Um Grande Garoto"), "Have You Fed..." aprimora as harmonias e os arranjos complexos da estréia do rapaz. As músicas têm camadas e camadas de instrumentos, e possuem o mérito de injetar complexidade na base voz-e-violão de onde Cough partiu. É difícil resistir a pérolas como "All Possibilities" ou "The Further I Slide", mas infelizmente nada aqui traz o mesmo brilho de "The Hour Of Bewilderbeast" (de 2000, o tal primeiro disco) ou de "Silent Sigh", canção composta para a trilha de "Um Grande Garoto", que entrou nas mais confiáveis listas de melhores de 2002.


Para quem gosta de: Elliott Smith, Wilco.


Excelsior – The Cloak, The Boat And The Shoes (Independente)


O Excelsior é um quinteto curitibano que reza na cartilha do indie nacional: melodias tristonhas, guitarras delicadas e letras em inglês, entoadas de forma tímida pela vocalista Aline Roman. Gravado num estúdio caseiro de oito canais no ano passado, "The Cloak..." traz doze faixas bem produzidas, além de dois remixes. Seu trabalho encontra paralelo em nomes conhecidos do underground nacional, como brincando de deus e Valv, na inserção de violões e detalhes ensolarados em canções melancólicas. A letra de "O Do Not Love Too Long" empresta versos de W.B. Yeats. Para comprar: excelsiortheband@yahoo.com.br.

Para quem gosta de: Yo La Tengo, Ride, Mojave 3.


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