Coitados dos Hives. No passo atual da indústria do hype, o quinteto sueco liderado pelo maluco Howlin’ Pelle Almqvist acabou atropelado pelas ondas seguintes: Yeah Yeah Yeahs, Franz Ferdinand, The Killers, Bloc Party, Kaiser Chiefs, Arcade Fire, Arctic Monkeys... O terceiro e melhor álbum da banda, "Tyrannosaurus Hives" (2004), nem de longe despertou a mesma repercussão obtida pela coletânea "Your New Favourite Band" (2002), que fez a moral do grupo no Reino Unido.
E agora? Antes de retornar à Suécia para lamber as feridas e começar os trabalhos do quarto álbum, o quinteto lançou o DVD "Tussles in Brussels" (Universal Music – importado), no final do ano passado. Em um show na Bélgica, os Hives mostram que fazem um dos melhores shows do rock atual.
Na seara do chamado novo rock, a banda sueca é uma das mais barulhentas. Justamente porque, ao invés de se apegar à new wave e ao pós-punk (principais taras de Franz Ferdinand, Interpol e tantos outros), os Hives são fascinados pelo punk inglês safra 77 ("Dead Quote Olympics" é Clash puro) e pelo rock de garagem americano dos anos 60 (Sonics, MC5, Stooges). Ao vivo, essas referências altamente hormonais ganham (ainda mais) velocidade e peso.
É possível deixar de gostar de uma banda que abre um show com uma música chamada "Abra Cadaver"? Dali em diante, entre seus poucos hits "(Main Offender", "Hate To Say I Told You So"), os Hives aproveitam para enfiar goela abaixo da platéia majoritariamente adolescente canções extremamente punks, quase hardcore ("Outsmarted", "a.k.a. I-D-I-O-T"). Tudo muito divertido – como é que o pessoal que organiza festivais ainda não trouxe essa banda ao Brasil?
Como seria de se esperar, os extras do DVD não estão à altura do show. Há um documentário sem-graça sobre o grupo, clipes e apresentações na TV, que mostram os Hives meio contidos. É necessário soltar a turma de Almqvist no palco para perceber a real potência desse quinteto. Numa geração em que a imensa maioria das bandas é travada no palco, os Hives são item obrigatório.
LANÇAMENTOS
Radiohead – "The Astoria London Live" (EMI)
Antes disponível apenas em VHS, "The Astoria London Live" finalmente ganha edição em DVD. O vídeo traz uma apresentação do Radiohead na capital inglesa, em 1994. O clichê "momento de transição" poderia ser aplicado ao grupo de Thom Yorke naquele ano – o Radiohead iniciava o salto entre o roquinho ingênuo de "Pablo Honey" (1993) e a musicalidade mais ousada de "The Bends", que seria lançado no ano seguinte e prenunciaria a revolução de "Ok Computer" (1997) e o aprofundamento insano a partir de "Kid A" (2000). O quinteto surge impregnado de gana adolescente, em canções recheadas de guitarras pesadas ("Just", "Maquiladora", "Pop Is Dead", "Bones"), que por vezes embalam a angústia ("Fake Plastic Trees", "The Bends", "Black Star") que fez de "The Bends" o disco favorito de muitos fãs. Só que essa banda não existe mais.