Música pop

Aprovados com louvor

07 out 2005 às 11:00

Nessa onda do tal novo rock, em que a oferta de bandas é bem maior do que a demanda, o segundo álbum, que já carrega uma tradicional aura de "disco difícil", é mais complicado ainda. Os White Stripes se saíram bem com "Elephant" (que não é o segundo disco da banda, mas foi o primeiro lançado após "White Blood Cells", álbum de 2001 que detonou o hype em torno de Jack e Meg White), assim como o Interpol fez com "Antics".

Porém, o Kings Of Leon e o Strokes não conseguiram manter a badalação quando lançaram, respectivamente, "A-ha Shake Heartbreak" e "Room On Fire". Os Libertines implodiram após o segundo álbum. O Franz Ferdinand se submete à mesma prova com "You Could Have It So Much Better" (Domino – importado), que chegou no início desta semana às lojas européias e norte-americanas e que deve ser lançado no Brasil em breve pela Trama (aliás, fica aqui a perguntinha: por que a Trama nunca consegue lançar discos na mesma semana em que eles chegam às prateleiras gringas?).


Se depender da qualidade do repertório, o quarteto escocês não deve perder nada em prestígio. "You Could Have It..." é o que todo segundo álbum deveria ser: realça as qualidades do disco de estréia e expande a sonoridade da banda. Dessa forma, a veia dançante que fez a fama de "Franz Ferdinand" (2004) está presente na maioria das novas canções: o single "Do You Want To" já é hit nas pistas indie e deve ser seguido por "The Outsiders", "Well That Was Easy", "The Fallen" e "You’re The Reason I’m Leaving".


O único defeito do álbum de estréia do Franz Ferdinand era o fato das canções serem parecidas demais entre si. "You Could Have It..." preenche essa lacuna com sobras. O músculo roqueiro da banda, que começava a ganhar nitidez em "Jacqueline", do primeiro disco, fica definido na curtíssima, quase punk "Evil And A Heathen", na saraivada de guitarras da faixa-título e no refrão feroz de "I’m Your Villain".


E o novo disco apresenta nuances inéditas do som do Franz Ferdinand. As delicadas "Eleanor, Put Your Boots On" e "Fade Together" demonstram influências de Beatles (segunda fase) e de Simon & Garfunkel que o quarteto não havia manifestado. A baladona "Walk Away" indica um parentesco musical com os Smiths, com melodia, arranjo e dedilhados de guitarra que não soariam estranhos em "Strangeways, Here We Come", último álbum da banda de Morrissey e Johnny Marr.


Por falar em Moz, até as letras de Alex Kapranos melhoraram. O tom hedonista é mantido, mas agora comporta reflexões amargas, dotadas daquele cinismo que impregna a lira de quem já viveu um pouquinho (o vocalista já entrou no clube dos trintões). Vide a ácida puxada de orelha de "I’m Your Villain": "se eu pudesse rir, eu amaria você/ se eu pudesse sorrir com qualquer coisa que você dissesse/ nós poderíamos ser amantes risonhos/ mas você prefere ficar deprimida".

Entretanto, nada supera a honestidade desnorteante de "Walk Away", a canção de despedida mais seca da história recente da música pop: "eu amo o som de você indo embora/ por que você não vai?/ prédios não vão cair/ nenhum terremoto vai partir o chão". O Franz Ferdinand se candidata não só ao título de melhor representante do novo rock, mas também ao cargo de melhor banda do mundo.


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