Música pop

A grande banda média

13 ago 2004 às 11:00

Desde 2000, as bandas que fizeram o rock britânico dos anos 90 vêm tentando resumir suas carreiras – com a pretensão de demonstrar sua importância e a sanha de ganhar uma graninha fácil. Blur, Oasis, Primal Scream, Pulp, Teenage Fanclub, Suede: praticamente todos os grupos importantes das ilhas da rainha na década passada lançaram coletâneas ou o genérico, o disco ao vivo. Só o Radiohead, o melhor e mais influente de todos, resistiu à tentação.

O Supergrass sempre foi um azarão. Se projetou com um hit engraçadinho, "Alright", em 1995, foi jogado pela imprensa no balaio do britpop (que viraria defunto menos de três temporadas após ser laureado por jornalistas brasileiros deslumbrados) e depois adquiriu o status de banda média. Daquelas de quem sempre dá para esperar qualidade, mas que dificilmente vão voltar a fazer sucesso estrondoso ou empreender grandes mudanças de estilo.


O trio – ou quarteto? O tecladista Rob Coombes, irmão do vocalista e guitarrista Gaz, recebe créditos separados nas canções que ajudou a compor, o que indica que não é integrante oficial da banda; ao mesmo tempo, faz shows com o grupo e posa eventualmente para fotos promocionais – acaba de lançar a coletânea "Supergrass Is 10: The Best Of 94-04" (EMI). Um DVD duplo de mesmo nome ganhou as prateleiras, e compila clipes, um documentário e extras.


As 21 faixas do best of (duas inéditas) não foram dispostas em ordem cronológica, o que impede que o desavisado flagre a leve mutação que o som do Supergrass sofreu. No álbum de estréia, "I Should Coco" (1995), o que continha "Alright", Gaz Coombes e seus colegas reciclavam o punk rock melodioso dos Buzzcocks com um sutil tempero mod (Who, Kinks). A partir do segundo disco, "In It For The Money" (97), adicionaram tons de glam rock à receita: T-Rex, David Bowie fase Ziggy Stardust.


Como a baladinha "Time", do primeiro álbum, já havia sinalizado, o Supergrass provou dali em diante que sabia falar sério ("Late In The Day", "Mary", "Moving"). E também pegar pesado ("Richard III"), ao mesmo tempo em que não perde sua aura de saudável desencanação, melodias solares e banda festeira. Perdidas entre faixas de maior popularidade, as canções da ótima produção recente do grupo, subestimada pela imprensa e sem grande sucesso nas paradas, acabam chegando perto de alcançar o reconhecimento devido: "Rush Hour Soul", "Seen The Light" e "Grace" são pérolas.


É difícil de acreditar que após "Supergrass Is 10" esta gloriosa bandinha volte a alcançar a repercussão de seus primeiros passos, mas a coletânea prova que a Gaz Coombes nunca faltaram canções inspiradas, coerência, consistência e genuíno entusiasmo roqueiro. O mesmo talvez não possa ser dito de Oasis, Blur e Suede.


LANÇAMENTOS


Snow Patrol – "Final Straw" (Universal Music)


O pop tem dessas coisas. Ninguém nunca prestou atenção no indie rock desta banda escocesa, liderada pelo vocalista Gary Lightbody. Aí, quando o grupo está praticamente decidido a encerrar suas atividades após a recepção fria a dois álbuns, ele consegue um contrato com uma grande gravadora, emplaca um hit ("Run") na parada inglesa e... vira mania no Reino Unido. "Final Straw", o disco que proporcionou o milagre, foi lançado na Inglaterra no segundo semestre do ano passado e chega agora às lojas brasileiras. Valorizado pelo título de "novo Coldplay" (embora tenha surgido bem antes), o Snow Patrol sabe apertar o pedal da guitarra, ao contrário da banda do chatíssimo Chris Martin. Mas "Final Straw", apesar das melodias bonitinhas, não decola devido à auto-comiseração adolescente, à repetição nas idéias e arranjos, à melancolia exagerada. É só mais uma bandinha indie. Mas está tocando até no Caldeirão do Huck – é bom se preparar.
Para quem gosta de: Coldplay, Sebadoh, Doves.


Phoenix – "Alphabetical" (EMI)

Os integrantes da banda francesa Phoenix já fizeram shows como banda de apoio do Air, talvez o nome de maior sucesso na história recente do pop da terra de Asterix. "Alphabetical" é o segundo álbum do grupo e uma aula de pop relaxante semelhante a "Talkie Walkie", último disco do próprio Air. As referências do Phoenix, entretanto, são diferentes – ao invés de chill out, soul de branco. No lugar de Pink Floyd, as fases respeitáveis de Stevie Wonder e Michael Jackson (só que sem falsetes). Insinuantes e curtas – o disco todo não chega aos 40 minutos -, as dez músicas de "Alphabetical" são bastante parecidas entre si e poderiam tocar em qualquer FM sem susto. A grudenta "Everything Is Everything" e a linda baladinha "Victim Of The Crime" são destaques.
Para quem gosta de: Michael Jackson com poucas cirurgias, Steely Dan, Air.


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