Mitos e Sonhos

Medéia e Alienação Parental

10 jul 2009 às 18:53

MEDÉIA E A ALIENAÇÃO PARENTAL


PARA AS MEDÉIAS


Filha de Eetes, rei da Cólquida, hoje Geórgia nos E.U.A., Medéia é a princesa nefasta que sem ela, Jasão não teria conquistado o Velocino de Ouro, um talismã que levaria ao auge do poder aquele ao qual pertencesse.


Em algumas tradições, Medéia é filha de Hécate, a mais tenebrosa e primitiva das feiticeiras. Desse modo, seria também a irmã de Circe, outra feiticeira tão poderosa quanto sua mãe.


Medéia é dotada de uma violência inquieta e do fogo das paixões. Apresenta mudanças súbitas de humor; constante melancolia e comportamento criminoso que se volta contra aqueles aos quais ela ama.


Um exemplo no cotidiano consiste em retirar todo o afeto da pessoa que não correspondeu a sua expectativa e, usualmente, o alvo são os filhos que ficam completamente destituídos de seu amor de um momento para o outro.


Quando enfim, fazem aquilo que ela deseja, então os seduz novamente parecendo imbuída de um grande amor, para em seguida, alertar que poderá retirar seu afeto novamente.


Freqüentemente, isso é expresso com atitudes cheias de grande emoção e intempestividades: gritos, ameaças, chantagens e extremo mau humor. Se a vítima for uma criança, ela não tem muitas alternativas: ou morre psicologicamente ou morre psicológica e fisicamente.


Tal qual sua mãe e irmã, Medéia só pode reinar nas extensões desérticas, longe da cultura e da civilização, perseguindo o homem e recolhendo mil ervas venenosas para engendrar seus planos endiabrados. Planos que não são executados de forma objetiva e rápida, mas de modo astucioso e por longo, longo tempo.


Medéia é símbolo da perversão banal e são as terras incultas que lhe oferecem os instrumentos de seu poder: os venenos e remédios.


Jasão representa o masculino que, devido a sua mente inculta, cai preso na teia perversa de Medéia. No decorrer da sua história com Medéia vai, progressivamente se tornando menos honesto consigo e conseqüentemente, se destrói como indivíduo, voltando-se para a intriga e perversidade.


Jasão representa o homem aparentemente cordato e servil para com ela, mas que, no íntimo, alimenta uma grande ambição. Não ama Medéia, serve-se dela para alcançar o poder.


Por outro lado, Medéia também sabe disso. No entanto, tal qual Jasão, possui grande ambição pelo controle e serve-se de Jasão para, enfim, controlar toda a família. Depois, usará os filhos com a mesma intenção.


A primeira das muitas tentativas de controle se faz pelo meio mais comum: Medéia o ajuda a fazer conquistas. Depois, lhe dá filhos e por último, não havendo mais como controlar mata-lhe os filhos e destrói suas conquistas.


O herói Jasão cai vítima das mesmas astúcias de que se valeu junto a Medéia e sua perversidade se converte em um flagelo que devasta o país e o mundo.


Medéia configurou as forças destruidoras do inconsciente que não sendo, elas mesmas, mobilizadas pela consciência exercem seu poder nefasto sobre todas as conquistas do homem.


De modo que o Velocino de Ouro que deveria ser encontrado como símbolo da grandeza e pujança do desejo imbuído da intensidade da vida, acaba sendo encontrado como símbolo da perversidade e banalização dos afetos e virtudes.


A feiticeira representa as forças inconscientes da psique. Por isso ela fascina e pode mesmo permanecer por longo tempo em seu reinado de controle e poder nefasto.


Considerar fazer terapia para que o ego se aposse dessas forças e trabalhe com elas de maneira objetiva e consciente, de modo a devolver ao símbolo do Velocino de Ouro o seu devido propósito, requer grande força psíquica para abrir mão do poder "mágico" e isso infelizmente, não é possível para todos que se encontram "possuídos" por este arquétipo.


Nem todos possuem intensa energia psíquica para se desprender do pseudopoder que o arquétipo lhe dá e assumir sua individuação. Na verdade, a grande maioria se contenta em ser nefasto e banal. Na modernidade, estamos assistindo ao grande espetáculo do orgulho da doença.


Em termos individuais, a feiticeira é a parte obscura da psique do homem. É sua sombra feminina que o torna gratuitamente agressivo e cheio de dengos e desejos a serem imediatamente satisfeitos. O torna propício às diversas expressões agressivas, inclusive contra si mesmo. Alem do que, essas forças inconscientes podem predispor o homem a se comportar feito vitima e fraco.


No caso da mulher, a feiticeira é um arquétipo que a possui contra as forças racionais e objetivas de sua psique representadas pelo masculino. O que significa que essa mulher jamais é razoável. É sempre intempestiva e se esmera em alcançar o poder de comando seja via "gritos" seja via "espiritual".


A mulher possuída busca destruir o seu homem, às vezes de modo violento e às vezes de forma sutil como, por exemplo, tratando de torná-lo fragilizado ou se empenhando em vitimizá-lo. Assim, ela será a figura forte do casal.


Quanto mais longe do corpo, daquilo que ele representa em termos de instintos, mais se busca o misterioso e o gnóstico. Desse modo, temos que em termos de movimento social e de grupo, Medéia está por de trás das religiões, das pseudo-religiões e de todos os demais movimentos que buscam o poder e o controle através da irracionalidade.


Muitos autores consideram que o Mito de Medéia é o mito que faz a ponte entre a Idade Média e a Idade da Razão, quando o homem deixa de se apoiar no mistério e religiosidade sem críticas para descobrir a liberdade de utilizar suas próprias forças e intensidades, mesmo correndo o risco de não ser mais protegido pelos deuses.


A SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL


Alexandra Ullmann, psicóloga e advogada é autora e responsável por um artigo da Revista Visão Jurídica, nº 30, págs. 62 a 65, sobre essa síndrome que assola muitas famílias e que como diz Ullmann, a Justiça deve ter coragem para punir a mãe ou o pai que causa essa agressão psicológica, principalmente em seus filhos.


A Síndrome da Alienação Parental, é o assassínio atual de Medeia. Trata-se de ações e atitudes de um dos responsáveis pela criança que buscam influenciá-la contra, ou mesmo que incentive o sentimento de ódio pelo outro genitor, mesmo sem nenhum fundamento real.


Todos os obstáculos são impostos tanto para impossibilitar quanto dificultar o convívio entre a criança e o genitor ou familiar que foi afastado por alguma razão.


Essa pessoa que faz tal crueldade, juridicamente, é chamada de ente alienador. Seu comportamento psicologicamente agressivo tem a clara intenção de manter o controle sobre o menor de modo a, por extensão, manter o controle e vingança sobre o outro.


Em sua sede de vingança, algumas mulheres chegam ao cúmulo de inventar uma agressão sexual do genitor alienado contra a criança, mesmo sabendo que esse menor também sofrerá as conseqüências psicológicas desse ato.


Após a confirmação de que o adulto está mesmo sofrendo da Síndrome de Alienação Parental e que, portanto, a criança está sendo vítima de uma mente doentia e manipuladora, os representantes do Ministério Publico afastam o menor do ente alienador.


Enfim, uma atitude coerente com a Psicologia, pois, em muitos casos, a agressão psicológica tem sido ainda mais terrível do que a agressão física.


Talvez seja mais difícil de provar porque não causa escoriações e nem hematomas. Causa feridas e seqüelas psicológicas que poderão levar a mais e mais agressões, porque uma criança que sofre desse tipo de agressão pode se identificar com o (a) agressor (a) e posteriormente aplicar o mesmo tratamento em seus filhos ou em direção à comunidade.


A punição ao ente alienador, não apenas auxilia na questão imediata como também previne a agressividade psicológica futura advinda da atual.


São sinas da Síndrome: fazer comentários "inocentes" sobre o familiar que deseja afastar; fazer comentários para desmoralizar o outro; ensinar a criança a dizer que odeia o outro; ensinar a criança a ver o outro como mais fraco e ou estúpido; exigir estar presente em todos os eventos mesmo quando a criança já tem a companhia do outro genitor; determinar o tipo de programa e a duração dele que o outro genitor fará com a criança; ensinar a criança a se manter emocionalmente distante do outro; exigir que a criança telefone o tempo todo em que estiver com o outro genitor; etc, etc...


Ullmann termina com o apelo de que o Judiciário não mais tema aplicar a devida punição àqueles que, "em nome do amor", extirpam de forma doentia o outro genitor, bem como um parente próximo da vida da criança vítima.


Os cuidados psicológicos deveriam ser tão ou mais imprescindíveis que os cuidados médicos e educacionais. A saúde mental negligenciada numa sociedade tende a se transformar num monstro que assola e solapa toda a organização de um modo nefasto e cruel.


Se houvesse mais cuidado com a psique das crianças e dos adultos, o Velocino de Ouro poderia ser aquilo que é: o aceite à intensidade da vida e não a imensa fúria contra ela.


O MITO


Quando Jasão chega a Cólquita para reinvindicar o Velocino de Ouro junto ao rei Eetes, Afrodite já providenciou para que Medéia dele se enamore.


O rei impõe a Jasão várias tarefas para que alcance o direito de receber o Velocino de Ouro. Jasão não conseguiria cumprir tais tarefas se não fosse pela magia de Medéia.


Posteriormente, não apenas a magia, mas sua natureza criminosa acaba por se revelar quando mata seu próprio irmão em prol de uma estratégia para livrar Jasão da perseguição do pai.


Depois disso, fogem para Corinto e ali, Medéia já com filhos foi alvo de intrigas do rei Creonte que influenciou Jasão a se separar de Medéia para desposar sua filha Creúsa.


A vingança de Medéia tem seu início com um vestido que manda entregar para Creúsa. Ao vesti-lo ela se incendeia em chamas misteriosas, fruto da magia da feiticeira. Na tentativa de ajudá-la, acontece o mesmo com o seu pai e depois com o resto do palácio.


Medéia foi expulsa de Corinto, no entanto, antes de sair dali, num ato de fria e premeditada vingança contra a infidelidade do marido, mata seus dois filhos e foge para Atenas onde se casa com o rei Egeu e com ele tem um filho chamado Medo.


Posteriormente, Medeia e Medo voltam para a Cólquita onde reina agora o irmão de Eetes, Perses. Ambos matam Perses. Medo se torna rei e após MEDÉIA
conquistar um grande território lhe dá o nome de Média em homenagem à mãe.


Agradeço sua tão apropriada colaboração: MEDÉIA E SEUS INOCENTES


Poema de Luiz Roberto de Oliveira Pereira


Respeite os inocentes,
que não pediram para estar presentes,
nada sabiam dos fatos passados,
não conheciam as regras do jogo,
nem mesmo que elas poderiam mudar.


Respeite os inocentes,
pelo pouco tempo de vida,
pelo olhar assustado e reticente,
pois não sabiam da tua ferida,
nem são culpados por ela sangrar.


Respeite os inocentes,
porque eles têm o direito
de se escusarem de teu banquete,
de não serem espancados pelo porrete
que manejas em tua vingança.


Respeite os inocentes
e aparte-os de tua presença,
não lhes conte teu mal de nascença,
tua lascívia, ganância, estupor.
Eles não precisam viver tua dor.


Respeite os inocentes,
porque eles precisam crescer,
precisam viver em paz.
Eles não são parte de teu cortejo,
Funéreo, fúnebre, fugaz.


Respeite os inocentes
e dê-lhes alguma esperança
de ver a luz da manhã.
Eles ainda têm belos olhos
que o brilho do sol querem ver.


Respeite os inocentes
e recolha tuas armas brutais,
tuas armaduras, teus arsenais.
Não mate os inocentes
e deixe a ti mesma morrer.


Respeite assim a ti mesma,
em um momento silente,
em uma oração piedosa,
sendo uma só vez amorosa
e liberte teus inocentes.

Consultório de Psicologia & Estudos Junguianos Sonia Lunardon Vaz
email: sonialunardon@gmail.com


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