Quando se fala em mitologia, logo nos vem à referência a mitologia grega porque, de fato, o pensamento grego e, por conseguinte, a civilização grega exerceu e ainda exerce grande influência sobre o mundo, sobretudo no ocidente.
A filosofia e a matemática são "invenções" gregas, bem como a maioria das palavras que dão nome às ciências como: física, geografia, biologia, zoologia, história, etc. E as palavras mais fundamentais que governam o relacionamento social também tem origem grega, tais como: ética, política e democracia.
Os romanos dominaram a Grécia política e militarmente, no entanto, assumiram culturalmente os modelos gregos. Tanto é que os deuses romanos são os mesmos dos gregos, somente salvaguardando seus nomes.
A civilização contemporânea possui uma importante herança grega que remonta há 3.000 anos. Com o fim do império romano do ocidente, em 476 d.C., a civilização passa a ser modelada pelo cristianismo, no entanto, a cultura e a mitologia greco-romana ainda exerce sua influência e é retomada com maior força no final da Idade Média através do período que ficou conhecido como Renascimento e também com o Neoclassicismo, movimento cultural já no século 18.
Em suas origens mais remotas, a mitologia grega ou mesmo a greco-romana, se desenvolve a partir de uma visão de caráter religioso, pois se trata ainda, naquele período, de uma civilização muito ligada ao pensamento primário, embora seja na civilização grega que se inicia o desenvolvimento do pensamento secundário baseado na razão e não mais na primitividade das imagens como organização de mundo, sobretudo de caráter supersticioso e religioso.
À medida que avançamos no tempo em direção aos nossos dias, a mitologia vai se esvaziando de seu significado religioso e ganhando um caráter mais artístico onde se procura retratar um ideal estético de beleza.
Muitas são as obras que tratam como personagens as entidades mitológicas. Em destaque temos as tragédias gregas que fundamentam as obras teatrais de Sófocles, Eurípedes e Ésquilo. Através destas conseguimos perceber o significado simbólico que os mitos têm para a própria existência humana. Por meio delas pode-se evidenciar o significado que os mitos possuem em termos psicológicos, que acabaram levando psiquiatras como Sigmund Freud e Carl Gustav Jung a analisar o significado psicológico dos mitos como leitura da psique ocidental.
Para os gregos não foram os deuses que criaram o universo, muito pelo contrário, foi o universo que criou os deuses. Assim também ocorre para a Psicologia Analítica Junguiana, ou seja, não são os deuses que nos criaram, mas nós que criamos os deuses.
E como esse é um processo de criação desde o início da primeira civilização, temos, por conseguinte, uma forma, ou, melhor dizendo, matrizes de pensamento que formam a base na qual se depositam as criações e criaturas geradas pelas diversas sociedades e civilizações através dos tempos. Os nomes mudam, mas não muda sua forma primeva. Por exemplo: Odim na civilização teutônica, Zeus na civilização grega e Xangô na civilização africana. A matriz de pensamento dos três é a mesma, só muda o nome, local e a época em que existem como deuses. A esse processo em série de pensamento ao longo dos tempos, Jung denominou de arquétipos.
Sendo assim, o arquétipo, ou matriz de pensamento, de Zeus, Odim e Xangô é o mesmo.
Outra grande diferença de hoje, que já conta com o olhar da Psicologia, e de antes é que esse arquétipo é analisado e interpretado não mais como religiosidade, mas exclusivamente como conteúdo psíquico das civilizações.
Odim, Zeus e Xangô, representam o instinto guerreiro e ávido de justiça em seu melhor aspecto e ávido de poder em seu pior que existe em nós.
Desse modo, vamos observando, junto à mitologia, as várias manifestações dos nossos instintos e suas variadas representações em cada um dos deuses.
A deusa Deméter representa o instinto materno. A deusa Afrodite o instinto de procriação. A deusa Héstia o instinto do amor maduro. O deus Eros o instinto da ligação afetiva. O deus Dioniso o instinto da intensidade de vida e assim por diante.
Desse modo obtém-se uma interpretação psicológica de cada civilização e, claro, da mente humana. Foi por isso, que o Dr. Jung se aplicou em estudar as religiões todas, desde as primitivas às contemporâneas.
Onde mais se encontram tais projeções psíquicas da humanidade passíveis de serem analisadas e interpretadas? Nos contos de fadas, nos sonhos, nos delírios, nas fantasias e na crença nos espíritos, assim como na crença dos deuses.
Freud e Jung estudaram as religiões e as mitologias, hoje temos nomes bastante conhecidos nessa área como é o caso de Joseph Campbel, Robert Johnson, Erich Neumann, Jean Shinoda Bolem e outros não menos importantes. No estudo de contos de fadas dentro do propósito de conhecer a mente humana, podemos citar Marie-Louise Von Franz, Clarissa Pinkola Estes, entre outros também não menos importantes.
Em seu texto A Natureza da Psique, Carl Gustav Jung diz sem rodeios: "(...) Sob o ponto de vista psicológico, os espíritos são complexos inconscientes autônomos da psique que aparecem em forma de projeção. (...)".
Como a consciência não reconhece que aquele determinado conteúdo é de si mesmo, então emprega o sistema de defesa da projeção, logo a culpa é do outro e o feio também e se caso, dependendo da situação cria-se um deus ou outro tipo de espírito.
Somente mais tarde quando o processo de pensamento alcança o patamar secundário, no qual se insere o conhecimento racional, é que o deus e ou outro espírito, duendes, fadas, etc., são considerados e percebidos como conteúdo psicológico que fora projetado.
Assim, graças à projeção, temos contos de fadas, mitologia e outras criações projetivas como o desenho, a pintura, os romances, etc. E todos passíveis de serem interpretados do ponto de vista psicológico.
Sonia Regina Lunardon Vaz
Psicóloga Analítica Junguiana e
Psicoterapeuta Corporal Godelieve Struyf-Denys
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