O Carnaval é realizado em vários países como na França, nos E.U.A. e na Itália. No
entanto, foi no Brasil que o Carnaval se transformou na maior festa popular do mundo.
Essa festa tem suas origens no paganismo que é anterior a era cristã. Fazia-se como prática religiosa ligada à fertilidade do solo.
Por ocasião do solstício da primavera, era simulado pelo povo o casamento entre a Deusa da Terra com o Deus da Chuva, de forma que o ritual era conduzido de acordo com a crença do povo nas forças da natureza até chegarem a, como Deus e Deusa unidos, copularem sobre o solo da eventual colheita, garantindo assim sua fertilização.
Essa festa de casamento e cópula sagrada foi substituída pelo Carnaval numa adaptação do Cristianismo que não via nesse ritual sagrado nada de especial a não ser como que um grande pecado. Até hoje ao relatarem sobre tais festas, muitos escritores se referem a elas como orgias do tipo moral, quando, na realidade, essas orgias não possuíam qualquer intuito pervertido, muito pelo contrário, era tão sagrado quanto o padre tomar o vinho e dizer que está tomando o sangue de Cristo. No futuro, em seguindo a linha do mesmo raciocínio, algumas outras religiões poderão se referir a esse ato ritualístico como canibalismo, principalmente porque o pão, a hóstia sagrada, representa o corpo de Cristo.
A diferença entre aquele Carnaval e este é que aquele tinha um objetivo maior baseado na crença dos povos e esse nosso Carnaval parece que só serve à indústria capitalista. Se no Carnaval dos pagãos o sujeito era privilegiado com um corpo tão sagrado que se permitia receber os Deuses, nesse o corpo é tão desprivilegiado de sentido que não é mais sujeito, senão um mero objeto de troca entre outros corpos objetos.
Na Roma antiga, o rei Momo era escolhido para ser o anfitrião do ritual e findado o encontro, ele era sacrificado ao Deus Saturno, por isso se escolhia o mais gordo que representava abundância e riqueza.
No Egito, os rituais eram oferecidos ao deus Osíris, por ocasião do recuo das águas do Rio Nilo, momento em que poderiam plantar e colher.
Na Grécia, Dionísio, o deus da embriaguez pela vida, que depois passou a ser tomado como simplesmente embriagado, era o centro de todas as homenagens por que ele também representa o Deus da Natureza.
Com o advento da religião cristã, os rituais pagãos foram subvertidos e reprimidos. O Carnaval sobreviveu por que em seguida viria a quaresma onde os cristãos fazem a abstinência da carne. De modo que, para compensar o sacrifício, o movimento cristão deixou passar os três dias de festa. Com o tempo, essa festa foi sendo destituída de seus devidos propósitos pagãos e assimilada pelo cristianismo.
O sagrado que até então regulamentava a vida das pessoas, fora profanado e aquilo que antes era uma alegria de união mística, de loucura sagrada, passou a ser uma alegria obsessiva, quando antes a loucura era a possessão dos deuses e a maior alegria para um povo era ele ser visitado pelos seus deuses.
A Festa dos Loucos chegou ao Brasil trazido pelos portugueses no século XVII com o nome de ENTRUDO e se transformaria na maior festa cristã do mundo onde, inconscientemente e de modo primário, os foliões repetem o ritual de adoração aos deuses pagãos!
Caso ainda fosse uma festa pagã com o seu sentido de fertilizar a terra e colher abundante colheita, o carnaval poderia ser tido como a antítese da ordem que é representada pelo deus Apolo, sendo a desordem seu oposto e próprio do deus Dioniso. Assim, de um lado a ordem e a lucidez racional e de outro a desordem e a embriagues dos sentidos. Naqueles tempos, contemplava-se ambos os opostos.
Na cultura ocidental marcada pela moral cristã, a embriaguez dos sentidos passa a ser o lado sombrio da razão, o que perfaz uma tensão de opostos e uma valorização desproporcional entre consciente e inconsciente, sendo que este último é desvalorizado. Dessa situação surge uma vida sombria, onde à luz da consciência tudo é certo e moralmente correto, mas sob a máscara os sentidos negados espreitam com gulodice por nunca serem devidamente alimentados. Em breve, ele solapa esse ego e toma as rédeas, provocando distúrbios psíquicos no individual e grupos ensandecidos no social.
Ao passo que, se os sentidos dionisíacos fossem devidamente alimentados e com parcimônia, fariam parte, eles também, da consciência, não haveria necessidade de uma vida sombria e de seus segredos e todos os dias poderia ser carnaval pagão de alegria e loucura controlada.