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Pureza de intenções

01 dez 2009 às 15:53

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PUREZA DE INTENÇÕES


A primeira frase que Michael de Montaigne escreveu no Volume 1 de seus "Ensaios" foi: "Eis aqui, leitor, um livro de boa-fé". Nos dicionários Houaiss, Aurélio e Aulete, há o registro do vocábulo "boa-fé" como sinônimo de "ausência de intenção dolosa; sinceridade". O Houaiss registra também a locução "de boa-fé" com o significado de "com pureza de intenções; conforme com a sua consciência do que é correto". O intuito de Montaigne era escrever um livro, apresentando suas ideias com sinceridade, sem a intenção de prejudicar pessoa alguma.
Todos aqueles que se interessam em tornar-se melhor e em ter uma sociedade melhor deveriam ler "Os Ensaios" (livros que fazem parte da coleção "Os Pensadores" da Editora Nova Cultura) e deveriam indicar a leitura aos demais para que estes aprendam a arte de viver com boa-fé, com pureza de intenções, que consiste em ter uma existência na qual predomine o juízo correto e criterioso em todas as ações empreendidas.

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QUEREMOS VIVER BEM.

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Queremos viver bem. Queremos satisfação plena de nossos desejos materiais e imateriais a ponto de alguns de nós perderem o controle sobre sua própria mente e transformarem seus desejos em vícios, sentindo-se frustrados quando não os realizam.
Muitos são os que tentam incansavelmente satisfazer as exigências do corpo e do espírito para ter uma existência agradável, esquecendo-se de que vivem em sociedade. Importam-se demasiadamente com seus próprios interesses e consideram estes mais urgentes que os dos demais. Sentem-se exclusivos. Julgam-se os melhores no que fazem e desprezam as opiniões das outras pessoas. Querem tornar-se o centro das atenções e muitas vezes conseguem, mas de uma forma negativa e não proveitosa para nenhuma das partes envolvidas.

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VIVER BEM É PREPARAR-SE PARA MORRER BEM.


Esses, que assim vivem, não atinam que ter um juízo correto e criterioso em todas as ações empreendidas não significa apenas saber viver bem, mas principalmente aprender a morrer bem. Cícero, filósofo do séc. II a.C., já dizia que "filosofar não é outra coisa senão preparar-se para a morte", é aprender a morrer. Filosofar é ter uma vida de reflexão para melhorar-se; filosofar é viver melhor, e viver melhor é preparar-se para morrer bem.
É muito comum tomarmos conhecimento de casos em que idosos à beira da morte se arrependem de todo mal que fizeram a outrem e de todo bem que deixaram de praticar. Ou de doentes terminais, ainda com vigor, que mudam radicalmente sua vida, passando a agir com mais benevolência e com mais resignação, querendo conviver mais com os entes queridos e tentando reconciliar-se com as pessoas com as quais tiveram desavenças.

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VIDA VIVIDA E VIDA NÃO VIVIDA


Essas mudanças representam a angústia perante a morte pela vida vivida e também pela vida não vivida. É o medo daquilo que enfrentará depois da morte. É a consciência de que não se preparou adequadamente para aquele momento que revelará o mistério de nossa existência: Haverá continuidade? E se houver, seremos interpelados pela vida que vivemos? Teremos de pagar pelo mal que causamos mesmo que involutariamente? Receberemos as graças pelo bem que praticamos? Ou será simplesmente o fim de tudo? Como se preparar para esse momento?
As reflexões acerca de nossa vida com nós mesmos e com a sociedade são importantes para que tenhamos uma vida comedida e repleta de virtudes, sem arrependimentos por males impensados nem padecimentos por atos inconsequentes que praticamos no decorrer da vida. O ideal seria parar a vida por um instante e refletir sobre tudo o que faz, o que fez, o que deixou de fazer e o que fará a partir de agora. Analisado isso, passar a, progressivamente, eliminar os vícios, extirpar os maus hábitos e alimentar os bons, enriquecer afetivamente os relacionamentos e incorporar virtudes nas ações do dia a dia, sempre à procura do bem próprio e alheio.


ESFORÇO HERCÚLEO PARA MELHORAR-SE.

Melhorar-se não é fácil. Exige um esforço hercúleo, mas a compensação que advirá desse esforço é muito mais proveitosa do que uma vida desprovida de intenções virtuosas, que se transforma numa vida sem sentido, pois o objetivo da vida é conviver. Então tenhamos uma convivência de qualidade! Isso é ação para homens e mulheres de coragem e com grandeza na alma; pessoas que se interessam por si próprias.
E você? Fará parte desse grupo ou demonstrará indiferença? Espero que você seja mais um a optar pela vida virtuosa e que possa dizer com satisfação: Eis aqui, meus amigos, uma vida de boa-fé!


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