O velho cão gania à porta da pequena casa.
A lua, espreitando por entre os galhos das árvores,
assemelha-se a lanterna etérea,
reverberando-se por entre a densa neblina.
A passos lentos e pesados reviso minha airosa existência
e sinto que não existo;
são os outros que me percebem como querem que eu seja.
Dói-me o corpo; não posso abaixar-me: escoliose, cifose.
Sinto saudades das andanças por ruas quase desertas,
voluptuosas ruas de minha adolescência,
nas úmbrias madrugadas, com muitas cervejas e amigos.
Não que a tristeza tenha pousado em minha sina;
é só saudade mesmo.
Há muito do meu passado que quero apenas no passado.
Moldei-me; já não sou o mesmo de outrora – estranho se o fosse.
Não tenho tempo mais para frases soltas.
O silêncio habita meu mundo, mas não há o vazio,
não há a solidão ou os sentimentos entorpecidos,
o que há é uma obstinada sensação de veleidade.
As fantasias contorcem-se na essência da memória,
frêmitos lancinantes misturam-se com desejos obcecados,
distendendo meu corpo numa lassidão sublime,
e eu fico sem saber o que o velho cão,
ganindo à porta da pequena casa,
tem de interessante para entrar nessa história.