NINGUÉM SABE TUDO, TODO MUNDO SABE ALGO.
Pierre Lévy, filósofo que estuda as interações entre a internet e a sociedade, diz, em seu livro As tecnologias da inteligência que "Ninguém sabe tudo, todo mundo sabe algo. Formar e reformar coletivos inteligentes é a arma do conhecimento". Quando li essa frase, lembrei-me de Fernando Savater, cujas teorias uso muito em minhas palestras, que diz o seguinte: "Ninguém é sujeito na solidão e no isolamento, sempre se é sujeito entre outros sujeitos: o sentido da vida humana não é um monólogo, mas provém do intercâmbio de sentidos, da polifonia coral. Antes de mais nada, a educação é a revelação dos outros, da condição humana como um concerto de cumplicidades inevitáveis".
É muito comum encontrar pela vida pessoas que se julgam os sabe-tudo e que tratam todos como se fossem uns "sabe-nada". Esses indivíduos se julgam superiores aos outros humanos, pois, de fato, julgam saber mais sobre todos os assuntos, inclusive sobre a vida alheia e as opiniões e decisões das pessoas ao seu redor. Supervalorizam demasiadamente sua opinião em detrimento à dos demais. Ignoram, porém, que, por mais desconhecimento que alguém tenha de determinado assunto, sempre haverá um tema sobre o qual esse alguém conheça, mesmo que parcamente. Ignoram que sempre há algo a aprender e que seria soberba – no sentido de arrogância, presunção – não aceitar isso como verdadeiro.
CONHECE-SE A PRÓPRIA ESSÊNCIA PELO OUTRO.
É por meio dos outros que cada ser humano conhece a sua essência. Cada escolha efetivada na vida, certa ou equivocada, traz consequências, que se mostrarão principalmente na convivência com as outras pessoas. São elas que nos demonstram, por intermédio de suas ações e reações, se somos plenamente aceitos pela comunidade ou se obstáculos se nos apresentam no decorrer de nossa existência. Esses obstáculos, na maioria das vezes, são construídos por nós mesmos, em virtude de nossas crenças errôneas e de nossos comportamentos inadequados.
Por isso é tão importante o autoconhecimento, preconizado por Sócrates, o maior ícone da filosofia universal. Quem se conhece a fundo não se julga o melhor ou o mais importante, não se considera único, pois sabe que, apesar de sermos totalmente diferentes uns dos outros, temos a mesma e primordial característica: a humanidade. Quem se conhece sabe de sua condição falível de ser humano; sabe que a falha é inerente a todo homem e a toda mulher e que ele, ou ela, como homem ou mulher, é suscetível a erros como qualquer outro. Como, então, se julgar superior?
NÃO QUERO SER O MELHOR; QUERO ESTAR ENTRE OS MELHORES.
Não se deve querer ser o melhor (a não ser que participe de uma competição), e sim estar entre os melhores. Deve-se, sim, querer formar uma sociedade inteligente e rica de informações acerca de todos os assuntos para sempre ter com quem trocar informações e aprender algo que não aprenderia sozinho. Sempre há algo que desconhecemos, mesmo concernentemente ao assunto que julgamos conhecer profundamente e que sabemos empregar com proficiência. O conhecimento nunca se esgota...
Ninguém é cidadão quando isolado; constitui-se a cidadania em sociedade, convivendo em estado gregário. Só se formará uma sociedade com padrões éticos e morais quando houver uma educação que produza efeitos proveitosos e que ensine o indivíduo a conviver; este é o objetivo maior da educação: conviver. Perceba que há um ciclo nesse raciocínio: Só se é cidadão em sociedade; só se forma uma sociedade se houver a educação; a educação só é proveitosa se ensinar a viver em sociedade. Com essa teoria, comprova-se que a base da sociedade está na educação.
Isso que temos de ter em mente em nossos relacionamentos, principalmente em se tratando de nossas crianças (e de nós mesmos): É preciso buscar uma educação que leve ao autoconhecimento, que incuta o desejo de buscar a sabedoria e que ensine a conviver harmonicamente com os demais. Desse modo, forma-se um mundo mais humano, cuja preocupação seja o desenvolvimento coletivo, e não o meramente individual.