"Deu no jornal: experiências genéticas produziram minúsculos jacarés que foram vendidos aos milhares em Nova York como brinquedo. Mas eram ferozes como seus ancestrais, e os pais, receosos de que os filhos fossem mordidos, despejaram os jacarezinhos nos vasos sanitários e puxaram a descarga. Foi um erro fatal: centenas de jacarés sobreviveram e fizeram dos esgotos da cidade seu habitat. E lá, durante anos, se reproduziram. E cada geração (...) aumentava de tamanho, acabando por produzir espécies muito maiores que os crocodilos do Nilo."
(Jaguar)
Esse texto de Jaguar trouxe-me à mente que nós somos muito parecidos com esses jacarezinhos: fomos produzidos para praticar o bem; os jacarezinhos, para serem brinquedos de criança; muitos se transformam, entretanto, em espécies perigosas, como ocorreu com centenas dos jacarezinhos.
O HOMEM TENDE PARA O BEM
Aristóteles, um dos maiores filósofos de todos os tempos, dizia que o homem tende para o bem e para a felicidade e que se devem educar os jovens para a vida em comum, para o bem viver. A melhor Educação, então, é a que ensina o indivíduo a conviver bem com os seus pares, para ter relacionamentos saudáveis e felizes, e com tudo o que está ao seu redor, para poder usufruir de modo sustentável do meio ambiente, sem agredi-lo, conseguindo, assim, preservar a natureza e garantir a sobrevivência de seus descendentes, afinal, um dos objetivos da Educação é fazer o educando se transformar num cidadão ilibado no tocante à manutenção e à melhoria da sociedade.
ERRAR É HUMANO
Aristóteles, porém, dizia também que somos imperfeitos. A falha faz parte de nossa vida. Errar é humano; queremos, no entanto, ser perfeitos; buscamos a perfeição cotidianamente, mas falhamos vez ou outra. Sócrates, o mais famoso filósofo, dizia que a perfeição é inatingível, mas que nada impede que tentemos alcançá-la, mas, cada vez mais parece que o que o ser humano procura é a maldade. Nós mesmos produzimos muito dessa maldade. A ação mais comum, concernentemente a isso, é a impetuosidade em muitas ocasiões de nossa vida: como os jacarezinhos, mordemos um dedão aqui, outro acolá; ferimos uma panturrilha de alguém mais deseducado; atacamos a jugular dos mais insolentes. Porém, quando sentimos que nos aproximamos do "esgoto", recolhemo-nos à nossa bondade natural (debatendo-nos, às vezes, contra isso) e deixamos nossa raiva, nosso ódio, esvair-se, até que morra. Não queremos que dentro de nós se estabeleça constantemente a fetidez de ações e reações execráveis. De vez em quando, vá lá, mas sistematicamente, jamais.
PESTILÊNCIA
Alguns, no entanto, chegam ao esgoto e acostumam-se com o mau cheiro - apesar de estranharem no começo - e suas narinas se sentem confortáveis com a pestilência, passando a ter aquele ambiente pútrido como a sua morada perfeita. Estes se transformam em monstros e passam a admirar a podridão. Estes perdem o senso moral e se esquecem do que é viver com honra. Estes são os que se transformam em facínoras, em bandidos, em corruptos e corruptores, em ditadores, em indivíduos sem caráter e de maus sentimentos, em seguidores de ideias extremadas e intransigentes, em militantes de partidos ditos não conservadores, em maus-caracteres. A escuridão dos esgotos obscurece sua visão e denigre seus pensamentos. Eles já não sabem mais que estão num caminho brejoso e julgam-se certos, justos e equânimes. Passam a crer na sua própria mentira e a se considerar os donos da razão. Os fins justificam os meios, acreditam eles. Não lhes importa quantos se afligem por suas ações nefastas, pois se tornaram cegos relativamente aos sentimentos alheios; perderam todos os traços de compaixão que acompanham o ser humano desde seu nascimento. Agem fundamentalmente por seu interesse particular em detrimento da obediência à lei moral, como dizia Kant, filósofo alemão, sobre a paixão humana fundamental, chamada egoísmo.
MULTIPLICADORES DO BEM E DA FELICIDADE
Eles dificultam sobremaneira o bem viver. E o maior problema é que muitos dos cidadãos comuns acabam acreditando que essa é maneira adequada de se viver e se transformam em aprendizes de "crocodilo do pântano", piorando a situação dos cidadãos de bem. Por isso nosso trabalho como Educadores é extremamente importante para a formação de cidadãos éticos. Ensinar virtudes e valores para tentar minimizar esse problema é a nossa missão. Não podemos deixar que a maldade prevaleça e temos de nos transformar em multiplicadores do bem e da felicidade.