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Fiscal da Gramática

30 set 2009 às 16:42

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Hoje farei jus ao epíteto que um integrante de um blog coletivo usou para me caracterizar: serei o Fiscal da Gramática. A intenção não é acusar de inepto quem comete deslizes gramaticais, mas a de alertar os que lerem este texto para que não os cometam também. Principalmente os que têm a palavra como ferramenta de trabalho, como professores, jornalistas e advogados e também os estudantes que se submeterão a algum concurso.

AMBIGUIDADE

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O vocábulo "ambiguidade" é usado para indicar a existência de duplo sentido em uma frase. Quando o autor de um texto não o relê atenciosamente, corre o risco de o escrever sem a clareza devida. Foi o que ocorreu numa notícia de jornal, cujo título era o seguinte: "MP investiga sabonete com bactérias em UTI". Curioso, li o texto, que começava assim: "O Ministério Público do Paraná investiga a distribuição de um lote de sabonete líquido supostamente contaminado pela Prefeitura de Ponta Grossa".

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PREFEITURA CONTAMINANDO SABONETE?

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Pensei cá comigo: "Como pode alguém da prefeitura contaminar o lote de sabonete líquido que seria destinado a uma UTI? É muita maldade!". Continuei, porém, a leitura e constatei que não se tratava disso. Ninguém havia contaminado nada. Leia mais um trecho da notícia: "...os exames realizados teriam determinado que a contaminação do produto aconteceu na produção. Mas a possibilidade do problema ter sido causado no transporte não está totalmente descartada".


SEQUÊNCIA INADEQUADA

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Agora está esclarecido: a Prefeitura adquiriu um lote de sabonete líquido sem saber que estava contaminado. A maneira como foi escrito o texto, porém, levou-me a pensar que ela própria houvesse praticado a contaminação. Isso ocorreu em virtude da sequência inadequada dos termos da oração. Analisemos o trecho mal-ajambrado: "O Ministério Público do Paraná investiga a distribuição de um lote de sabonete líquido supostamente contaminado pela Prefeitura de Ponta Grossa".
O que o MP investiga? "a distribuição de um lote de sabonete líquido supostamente contaminado". O lote foi distribuído por quem? Pela Prefeitura de Ponta Grossa.
É exatamente esse o problema! A Prefeitura de Ponta Grossa é o elemento agente da distribuição, e não da contaminação. O termo "Prefeitura de Ponta Grossa" deveria, portanto, estar próximo do substantivo "distribuição": "O Ministério Público do Paraná investiga a distribuição pela Prefeitura de Ponta Grossa de um lote de sabonete líquido supostamente contaminado". Assim se evitaria a criação do sentido indevido.


LIGAÇÃO POR AFINIDADE

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Para que os textos tenham a clareza necessária, é importante que seu autor saiba que os termos da oração devem ser ligados por afinidade: o sujeito próximo do verbo; o verbo perto de seus complementos; as circunstâncias (tempo, lugar, modo, causa...) ligadas ao termo a que se referem, e assim sucessivamente.


OUTRO CASO DE DESARMONIA

Leia outro caso de desarmonia entre os termos de uma oração:
"O artista apresenta a exposição ‘Arte e Sensibilidade’ no Museu Brasileiro de Escultura de suas obras que acabam de chegar ao Brasil".
Nesse caso não ocorre o duplo sentido, mas há um estranhamento considerável na leitura da frase. Como deixá-la mais clara? Ligando-os por afinidade. Vamos lá, então:
O que o artista apresenta? "a exposição de suas obras que acabam de chegar ao Brasil". Esses elementos devem ficar próximos: "O artista apresenta a exposição de suas obras que acabam de chegar ao Brasil".
Onde ele as apresenta? "no Museu Brasileiro de Escultura": "O artista apresenta, no Museu Brasileiro de Escultura, a exposição de suas obras que acabam de chegar ao Brasil".
Falta, agora, colocar o nome da exposição. Se o colocarmos ao lado do substantivo "exposição", ocorrerá outro estranhamento. O ideal, então, seria criar um novo termo: "O artista apresenta, no Museu Brasileiro de Escultura, a exposição de suas obras que acabam de chegar ao Brasil, denominada de ‘Arte e Sensibilidade."
Assim se produz textos mais bem estruturados sintaticamente. Eu sei que a análise sintática é um terror para a maioria dos que se encorajam a estudar a nossa gramática, mas também sei que ela é extremamente necessária para a adequada construção de textos. Análise sintática e compreensão de leitura andam juntas. Se o autor do texto não se preocupar com a sintaxe, ou seja, com as relações existentes entre os termos das orações, o leitor pode ter problemas para compreender o que fora escrito.


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