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A sabedoria nos chega quando já não serve para nada.

01 dez 2009 às 15:59

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A SABEDORIA NOS CHEGA QUANDO JÁ NÃO SERVE PARA NADA.


Gabriel Garcia Marques escreveu uma história de amor que durou uma vida inteira: Florentino Ariza amou Fermina Daza por mais de cinquenta anos sem ao menos a encontrar. Como o próprio narrador do livro "O amor nos tempos do cólera" nos conta, foram cinquenta e um anos, nove meses e quatro dias sem contato algum com sua amada. Carregava consigo as lembranças do namorico que houve na adolescência, em que se corresponderam por meio de cartas por alguns anos, sem nunca terem tido contato físico algum. Fermina, porém, casa-se com Juvenal Urbino, homem bem-sucedido e bem-apessoado. Um casamento que durou meio século; tiveram uma vida conjugal perfeita, com filhos e a admiração da sociedade, até a morte de Juvenal aos oitenta e um anos. É aí que Florentino volta a manter contato com Fermina, depois de mais de cento e trinta cartas sem resposta. A história completa, você terá de ler o livro para sabê-la. Eu não vou estragar esse deleite que certamente terá ao ler essa história.
O que me levou a escrever sobre "O amor nos tempos do cólera" não foi a história propriamente dita, mas sim uma frase dita por uma das personagens, já com a idade avançada: "A sabedoria nos chega quando já não serve para nada". Essa é uma convicção que a maioria das pessoas tem: enquanto jovens, somos inexperientes; crescemos e ganhamos conhecimento, mas ninguém tem mais sabedoria que aquele que já viveu setenta, oitenta anos. Antigamente se respeitavam muito os idosos em virtude de sua sabedoria. Os mais velhos eram ouvidos pelos mais jovens com reverência. Hoje, talvez por estes terem mais conhecimentos tecnológicos, por saberem lidar melhor com computadores, internet, celular, MP3, etc., julgam também ter mais sabedoria, mas se enganam, pois sabedoria não se adquire com manuais de instrução, e sim pela soma das experiências vividas. Ter sabedoria não é somente ter conhecimento, embora o sábio possua-os em abundância.

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Não é pelo acúmulo de conhecimentos que se atinge a sabedoria, e sim vivendo em conformidade com a razão e com a moral, agindo com prudência e sensatez e procurando o equilíbrio e o comedimento nas ações cotidianas. Porém, o conhecimento, no tocante ao conjunto das informações e dos princípios acumulados pela humanidade, facilita-nos sobremaneira o objetivo de atingir a sabedoria. Não se deve, porém, tentar adquirir conhecimento pelo próprio conhecimento, mas sim buscá-lo para alcançar o aperfeiçoamento pessoal, o que se consegue por meio da mudança do padrão de pensamento, da mudança do padrão de comportamento.
Vamos a um exemplo para esclarecer essa ideia: pense numa pomba branca. Qual a primeira palavra que lhe vem à mente quando vê a fotografia de uma pomba branca? A maioria das pessoas certamente dirá a palavra "paz". Esse é um padrão de pensamento. A maioria das pessoas pensa em "paz" quando se refere a uma pomba branca. Outros poderiam dizer a palavra "liberdade". Mais um padrão: quem nunca ouviu a frase "quero ser livre como um pássaro"?


MUDANÇA DE PADRÃO DE PENSAMENTO

Mudar o padrão de pensamento é pensar diferentemente do habitual. É saber que a maioria tem o mesmo padrão de pensamento e esforçar-se para pensar diferente. Isso desenvolve o raciocínio e faz a mente ficar mais alerta, o que leva ao próprio desenvolvimento pessoal. Mudar o padrão de pensamento em relação ao nosso assunto, a pomba branca, seria, por exemplo, pensar em "esforço". Explico melhor: penso em esforço ao analisar a pomba, pois imagino o esforço que um pássaro tem de empreender para alçar um voo e para enfrentar o atrito do ar.
Mudar o padrão de comportamento é comportar-se diferentemente do habitual. Não é, concernentemente aos relacionamentos, agir como muitos o fazem, não querendo que as pessoas com as quais convivem lhes apresentem problemas quando querem ficar em paz. Não temos de procurar ‘ficar em paz’ nos nossos relacionamentos, e sim enfrentar os problemas tentando solucioná-los. Não é querer a liberdade para fazer tudo o que bem entender; é ter a liberdade de escolha e escolher a família como o cerne da vida.
Mudar o padrão não é querer paz e liberdade o tempo todo, e sim esforçar-se para conseguir um bom entendimento com os familiares e com as pessoas mais íntimas. O esforço tem de ser a nossa meta; esforço para ter uma vida de reflexão e rica em afetividade. Assim, quem sabe, conseguiremos alcançar a sabedoria antes da época em que ela já não serve para nada.


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