O pequeno príncipe é um livro infantil feito para adultos. Talvez a intenção do autor tenha sido demonstrar que os adultos temos de voltar à ingenuidade infantil para vivermos melhor, mais emotivamente e menos racionalmente. Nós, adultos, somos muito intolerantes com as emoções, próprias e alheias. A primeira experiência que ele teve com essa intransigência adulta ocorreu aos seis anos, quando desenhou uma jiboia digerindo um elefante, e as pessoas grandes viam um chapéu; isso o frustrava deveras. Os adultos, segundo ele, precisam de explicações para tudo; têm necessidade de seriedade absoluta e usam sempre a razão, esquecendo-se da emoção. Ele, porém, não era assim; por isso tornou-se solitário.
DESENHA-ME UM CARNEIRO
Sua solidão durou até o momento em que, com o motor de seu avião quebrado em pleno deserto, encontrou o Pequeno Príncipe pedindo-lhe que lhe desenhasse um carneiro. O desenho, ele o levaria consigo em uma caixa também desenhada, como se realmente fosse um carneiro. Aliás, era de fato um carneiro (Eu sei que lhe é difícil entender isso; afinal você é adulto, e os adultos não toleram essas infantilidades). O objetivo era o carneiro comer os brotos de baobás, árvores enormes cujas raízes são poderosas e podem rachar o solo de seu planeta e destruí-lo. Os baobás são ‘ervas daninhas’, por isso é preciso eliminá-las antes que se tornem prejudiciais.
A MENTE É COMO UM JARDIM
A propósito, sobre isso escreveu James Allen em seu livro Como um homem pensa: "a mente do homem é como um jardim, que pode ser inteligentemente cultivado ou deixado às ervas, mas, quer cultivado quer negligenciado, produzirá. Se nenhuma semente útil for plantada, uma abundância de ervas daninhas brotará da terra, e os resultados serão plantas inúteis e impuras. Em outras palavras, tudo o que deixarmos entrar em nossas mentes dará frutos". E você, caro leitor, que tem deixado entrar em sua mente? Bons pensamentos ou ervas daninhas? A escolha é exclusivamente sua. Você é o único responsável por aquilo que entra em sua mente.
HOMEM SÉRIO
Há quem, por levar-se muito a sério, jamais cheire uma flor ou aprecie as estrelas. São, porém, esses mesmos que se deixam levar pela vaidade e não vivem intensamente os relacionamentos por se prenderem aos grandes acontecimentos, perdendo os detalhes, que enriquecem a relação entre as pessoas. Enxergam ‘grande e longe’, mas perdem as particularidades próximas. São esses também os que julgam os demais pelas palavras, não pelos atos, porque não têm olhos para enxergá-los, apenas ouvidos para ouvi-las.
TODOS SÃO REIS
Para um rei, todos os homens são súditos, mas todo homem se julga rei e não há súditos para todos, por isso exige dos outros exatamente o que estes podem dar-lhe, na ilusão de que detém o poder sobre os demais e de que é admirado por eles. Esses julgam ter autoridade, mas são somente autoritários. Todos são reis e vaidosos, por isso se tornam surdos aos discursos alheios a não ser que sejam elogios a si e passam a considerar a sua voz a mais bela, o seu destino o mais promissor e a sua vida a mais interessante. Embriagam-se da sua pseudoautoridade e se esquecem de semear belas flores em seu jardim da mente.
RESPONSÁVEL PELO QUE CATIVA
O homem sério acaba sendo um mero executor de tarefas, fiel aos regulamentos a que ele obedece cegamente, sem mesmo averiguar sua utilidade. Torna-se apenas um dentre os demais e não percebe que é singular, único dentre todos. Por isso é preciso aprender a ter tempo para as demais pessoas, a criar laços mais afetivos e a ter necessidade de estar com ou outros, que se tornam mais importantes, pois passam a ser vistos com o coração, não com os olhos. É preciso aprender a ser responsável por aquilo que cativa, como ensina O Pequeno Príncipe. É preciso aprender a ser feliz como uma criança o é.
Vale a pena ler O Pequeno Príncipe, mas não se esqueça de o ler com os olhos e o coração da criança que já foi um dia, sem os julgamentos e as conclusões próprios de um adulto.