Aquilo que se deseja se alcança, porque a vida nos dá o que dela se espera. Narro três fatos expressivos que aconteceram comigo, aparentemente impossíveis à época em que os vislumbrei mas que se tornaram realidade. Menino ainda e vivendo numa minúscula cidade - e a família com baixos recursos financeiros - eu nem pude dar sequência aos estudos. Mas havia fixado na mente sair daquele lugar um dia e conhecer cidades grandes e todas as coisas deslumbrantes que eu via nas revistas e escutava pelo rádio. Eu dizia, para uma tia bem próxima, que ainda seria recebido pelo presidente da República. A figura presidencial era, ao olhar do menino da roça que eu era, o posto máximo que um homem poderia atingir. (E se isso em parte era verdade, eu viria a conhecer também outros valores idênticos ou superiores).
Como escutava estações de rádio estrangeiras, que entravam bem em ondas curtas naquele extremo sul de Santa Catarina - até porque o dial do aparelho Zenith que meu pai comprara ainda não estava saturado por tantas emissoras - eu ouvia a Orquestra Filarmônica de Berlim e declarei, para mim mesmo, que um dia iria ver e ouvir de perto aquela coisa indescritível, cujos instrumentos musicais eu nem conhecia. E, lendo as histórias que falavam de príncipes e princesas, eu sabia pelos livros que ainda havia monarquias no mundo, e decretei que iria conhecer um deles. Aquilo não era obsessão mas uma fé convicta, embora as aparentes limitações do meio em que eu vivia e onde mais ninguém compartilhava de ambições semelhantes às minhas.
O tempo foi passando e aos 16 anos fui trabalhar numa cidade próxima, bem maior, mas com aqueles sonhos ainda vivos. O destino me faria mudar de Estado, onde acabei jornalista - naqueles tempos não havia faculdade de jornalismo e, como eu gostava de ler e escrever, acabei aterrissando dentro de um Jornal, onde até hoje me encontro. Pois bem, como jornalista não foi difícil ver um presidente da República. Porque, em missões profissionais, acompanhando caravanas reivindicantes, por várias vezes acabei indiretamente sendo recepcionado no palácio presidencial e cumprimentar tão importantes chefes de Estado. Foi então que, de abrupto, vi um dos meus sonhos se realizando. Era o menino da roça vendo as coisas acontecerem. Numa solenidade ligada a jornalismo, até fiz discurso diante de um presidente da República.
E, sem que eu de pronto percebesse, o mesmo aconteceu com relação à Orquestra Filarmônica. Estando em Berlim, meu guia chegou certo momento com o convite para vermos a grande orquestra. Tive um impacto, porque de imediato me veio à lembrança o dito pronunciado em criança. Ouvindo a orquestra em seu próprio e grande templo - um moderníssimo edifício de arrojada arquitetura contemporânea - assisti com arrepios de emoção no corpo e na alma àquilo que eu encontrava só em paragens do inimaginável. E para completar, o maestro Herbert von Karajan regendo. Tinha de ser ele!
E a história dos príncipes? Esta foi a mais fascinante. Numa viagem ao Japão, integrando comitiva oficial de empresários e autoridades paranaenses, uma tarde o nosso condutor credenciado - o deputado federal Antonio Ueno - anuncia que o principe Akihito (hoje imperador) e sua mulher, a princesa Michiko, nos receberiam no dia seguinte. Foi uma nova emoção - a de ver os monarcas e de constatar que o meu terceiro grande sonho até então, outrora mirabolante, se realizava.
Durante mais de meia hora, em vasto salão do Palácio Imperial - todos em pé, desfrutando de um leve coquetel - pude ver os príncipes, cumprimentá-los, trocar palavras, e como a princesa em certo momento me dirigiu a atenção e fez-me uma pergunta, tive a oportunidade de um diálogo. Coisa aparentemente simples, mas não se a interlocutora é uma princesa. Ela é uma bela e refinada mulher, e como fala vários idiomas a conversa foi possível.
No momento em que o príncipe Naruhito (sucessor do trono japonês) visita o Brasil neste junho de 2008, incluindo várias cidades paranaenses nesta Imin-100, ocorre-me narrar este fato, que se deixa extravasar um pouco de vaidade visa principalmente exaltar que desejos, se bem formulados e mantidos com convicção - sem um momento sequer de recuo ou descrença - se tornam realidade.