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LIBERTANDO-SE DOS GRILHÕES DA CÚRIA

27 jul 2013 às 13:20

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O padre jesuíta Jorge Bergóglio, agora papa, ainda calça simbolicamente as sandálias do santo de Assis, que é seu patrono, porque não quiz trocar os velhos sapatos pretos pelos calçados papais. Um minúsculo detalhe, entre outros, mas é fundamental que agora é ele quem realmente manda na Igreja, até aqui sempre subserviente ao poder da Cúria Romana. Isso não significa arrogância e sim a posse de uma prerrogativa que lhe cabe, sem a qual não fará o que o destino entregou em suas mãos, certamente com o aval da superior autoridade divina. "A Igreja tem de praticar aquilo que prega" - ele disse em alto e bom som, e isso irá ribombar com grande intensidade sob as abóbadas dos templos católicos, e certamente com reflexos também sobre os demais.
O Vaticano transfere-se virtualmente de Roma e irradia-se pelo mundo. O papa latino-americano, apreciador do futebol e do tango mas sobretudo um homem de índole santa, que sempre focou seu olhar no drama da pobreza, da fome e do desconforto de milhões neste mundo de tanta riqueza mal distribuída, busca libertar-se dos grilhões da Cúria, que tem em seu seio poderosos cardeais renitentes. Ele já era assim quando arcebispo em Buenos Aires. Talvez por isso, num lampejo divino, os cardeais votantes e oriundos de diferentes países e conhecedores dos graus de riqueza e miséria das regiões que habitam, o elegeram.
O vaticanista Andreas Englisch diz que "ele é impressionante, porque é a primeira vez na história que um papa tenta seguir à risca a vontade de Jesus Cristo", e ''nenhum dos outros papas quiz viver (humildemente) da forma como viveu Francisco de Assis". O que fazia na Argentina, o bispo de Roma (como ele quer que o chamem) o faz como pontífice
: todas as manhãs, quando as irmãs arrumadeiras sobem ao aposento papal, na Casa de Santa Marta, já encontram a cama arrumada. E quem a arruma? Ele mesmo. Ali só há uma cama de solteiro, um armário, um criado-mudo e um crucifixo. Também é ele que faz seu café, logo ao levantar-se. Porque sempre o fez. Verdade que o papa Bento, quando cardeal, andava pelas ruas de Roma dirigindo um fusca, e o papa João Paulo II passou a dormir no chão.
A família humana deverá ser, doravante, a igreja de Francisco. Este é sem dúvida o alvorecer de um novo tempo, que está se manifestando de várias formas e agora também no organismo do mais populoso conglomerado de fiéis.
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