O genial matemático Albert Einstein era um homem religioso, sem no entanto professar religião alguma. Tocava piano e violino e era alegre e bom. Mas antes de tudo um místico. Sua célebre Teoria da Relatividade, analiticamente pouco compreendida até pelos seus pares, talvez não seja o mais importante referencial de sua vida e sim a sua permanente sintonia com o universo cósmico, de onde lhe chegavam intuitivamente todas as respostas.
``Penso 99 vezes e nada descubro; deixo de pensar e mergulho no silêncio, e eis que a verdade me é revelada´´. Palavras desse ilustre cientista. Ele afirmava que tudo pode ser captado pela intuição e que a focalização no Uno (a unicidade cósmica) abre os caminhos e revela todo o campo dos efeitos. Ele se estribava no pensamento intuitivo e não no meramente analítico. E certa vez revelou que as coisas lhe aconteciam como uma iluminação súbita, quase um êxtase. Tinha consciência de que Deus era a Lei, a voz da natureza.
Desde jovem Einstein tinha uma revolta contras as autoridades. Alemão de origem judaica e refugiado nos Estados Unidos nos últimos 20 anos de sua vida (fugindo da perseguição de Hitler), perguntava porque a sinagoga, a igreja e o próprio governo não diziam a verdade sobre Deus, sobre o mundo e sobre o homem. Que intenções secretas – indagava – tinham as autoridades civis e religiosas para manter o homem nessa ignorância?
Ele ensinava que os fatos (os efeitos) devem ser analisados mas que a Realidade (a emanação de Deus) nos é revelada. Intuía que há uma única Fonte, e ela se esparrama sobre nós se estivermos em sintonia – ou seja, receptivos. Sobre o meditar, dizia que não era pensar mas esvaziar os canais de toda a substância e colocar-se diante da plenitude da Fonte.
``Lá estava um homem cujo corpo ainda vivia na Terra mas a mente habitava as plagas do Cosmo´´ – escreveu o filósofo brasileiro/catarinense Huberto Rhoden , que conviveu com Einstein na Universidade de Princeton, nos EUA. Tão desprendido do mundo era esse sábio homem que certa vez sua empregada encontrou um cheque de elevado valor, com grande atraso, marcando a leitura de um livro. Muitas vezes ele não se lembrava se havia almoçado e não sabia o número do telefone de sua casa. Dizia-se dele que não se perderia no espaço cósmico, mas sabe-se que tantas vezes perdeu o rumo do lugar onde morava.
Einstein era um místico concentrado, pois vivia mentalmente no grande Além. Numa entrevista à revista ``Time´´, revelou nunca ter feito experiências empírico-analíticas para descobrir a Teoria da Relatividade, mas que esta lhe viera por intuição. Para ele, a certeza intuitiva era anterior a qualquer prova.
O autor Robert Clark perguntava-se repetidas vezes porque um cientista como Albert Einstein falava tanto em Deus, embora os teólogos o considerassem uma ateu. É que Einstein – mais iluminado que os teólogos racionalistas – não admitia um Deus pessoal, mas um Deus supremo, onipresente e onisciente que estava no centro de todos os lugares e de todas as coisas, como já o intuíra Santo Agostinho. Isto fazia Einstein sentir-se em meio a uma grande fraternidade universal – ou seja, a consubstanciação da Cosmo-Consciência, em síntese Deus.
Para ele Deus não era uma personalidade, capaz de premiar ou punir, mas a Invisível Realidade do Universo. É óbvio que Albert Einstein – se utilizava-se primordialmente da intuição – trabalhou a vida inteira na teoria do campo unificado, a unidade e a identidade de todas as energias e a inexistência de tempo e espaço. Porém ele considerava esses esforços como preliminares. Como o pensar 99 vezes até que as respostas lhe chegassem intuitivamente, ou seja, até a perfeita sintonia com a Fonte – o silêncio dinâmico onde tudo já está pronto e acabado.
Certa vez o professor Ernst Mach, da Universidade de Viena, propôs a Einstein que os cientistas partissem do ponto zero e não aceitassem mais nada que não fosse provado experimentalmente. Einstein meneou a cabeça, em sinal de desaprovação. Porque ele farejava algo mais, que estava além dos sentidos. O homem pode não achar Deus, mas Deus o achará. Se o homem naturalmente não esconder-se d´Ele – dizia.
Absorto em suas buscas, às vezes ele não era muito dedicado à esposa, com quem tinha dois filhos, mas amava as crianças e ficava horas tocando violino à cabeceira de uma tia doente. Einstein nunca se considerou uma pessoa excepcional e detestava a mesquinharia, a brutalidade, o militarismo, a guerra.
Justamente por isso cultivava uma simpatia peculiar pela América Latina, sobretudo pelo Brasil, onde tinha parentes por parte da mãe e aqui estivera. Rhoden escreveu que Einstein sentia que a América Latina era, entre todos os povos, a parcela da humanidade que preservava, inadulterada, a alma humana, e que a coisa mais bela que o homem poderia experimentar era o mistério. Porque esta emoção estava na raiz de todas as coisas.