Se estamos numa floresta, sabemos dos perigos que ali existem, como os animais ferozes, as cobras, o cipoal e os espinhos, assim como a pureza do ar, a beleza da folhagem e das flores, os animais dóceis, o canto dos pássaros, a dança e o assovio das árvores pelo sopro do vento. Se um animal nos ataca temos de nos defender, mas sem o sentimento de raiva porque assim é a natureza dele.
A sociedade é como uma floresta, onde encontram-se belezas e horrores. Somos iguais a tudo que habita uma floresta. Nos defendemos mas também somos atacantes perigosos, porque derrubamos as árvores e com elas os ninhos das aves, assim prejudicando seu meio de subsistência e a procriação. E as sufocamos pelas queimadas. Temos nosso componente sadio mas também nossa porção predadora e corrompida.
É do meio social que saem os governantes, os empresários, os educadores, os comunicadores sociais, os líderes religiosos, os maus cidadãos e também os benfeitores da humanidade. Porque o meio tem essa diversidade de mesclas. Por isso não podemos pretender que, sobretudo os políticos, sejam todos santos homens se o meio não é plenamente constituído de santos.
Os governantes têm as características da sociedade. Temos de saber conviver com esta realidade. Sem conformismo e indiferença mas serenos e responsáveis. Porque neutralidade não pressupõe harmonia mas fuga de responsabilidade. Cada um de nós é partícipe e feitor de coisas boas mas também das más.
Os governantes têm as características do conjunto social. A luta, então, é nos melhorarmos conjuntamente. Devemos saber, como na lei da floresta, que a serpente ataca mortalmente, que a picada do marimbondo arde como fogo e que os espinhos dilaceram a carne. Assim é este mundo da terceira dimensão.
Políticos e nós próprios temos nossas garras afiadas e língua ferina e somos capazes de atrocidades com a natureza e com nossos iguais, assim como temos atributos de docilidade e carinho. Se colocamos uma serpente dentro de casa, sabemos que em determinado momento ela nos atacará; se damos poder a alguém sabidamente corrompido, não podemos esperar outra coisa senão um bote idêntico ao da serpente.