Caminhos de ascensão

ALÉM DO OLHAR COMUM

10 abr 2011 às 14:08
Num novelo de linha já estão delineados belos bordados. Na pedra adormecem esculturas, já com todas as suas formas. Nas areias estão armazenados, em vida latente, delicados vitrais e candelabros. Nas tintas residem as pinturas, bastando ordená-las. Os minérios guardam entesourados os motores, as engrenagens, as ferramentas, os foguetes espaciais, o televisor, o celular. E também os tanques de guerra. No tronco das árvores repousam mesas, cadeiras, armários, cabos de enxadas.

Meu violão foi extraído de um desses troncos. Ele já residia ali, esperando que a mão humana o revelasse - o homem servindo a uma das funções da árvore e, em reciprocidade, a árvore servindo às necessidades do homem. Se eu queimo uma árvore eu queimo muitos violões, queimo mobiliário, queimo berços e altares.

Na pele dos animais estão nossos sapatos, cintos, bolsas, estofados e adornos. (A propósito, talvez ninguém, no íntimo, tenha se lembrado de agradecer a eles por isso, ao menos como exercício de gratidão). Em suas folhas, cascas e raízes, processadas ou em estado natural, as plantas guardam a substância das curas.

O ramo ainda tenro da roseira já armazena a rosa. Numa minúscula semente estão o tronco, os galhos, as folhas, as flores e os frutos. E mais sementes, para que se perpetue a espécie e, assim, de apenas uma dessas partículas formem-se imensuráveis florestas. Se abrimos a semente, não vamos encontrar nada dentro dela, mas tudo já está lá.

O tempo e a natureza fertilizam a vida, e sabemos que toda a tecnologia e o alimento à mesa são resultantes do que se extrai do solo. Pergunto novamente quantos de nós agradecem à generosa mãe Terra por isso. Talvez pensemos que este corpo que flutua no espaço e nos serve de morada e sustentação da vida não tenha sensibilidade.

Nos metais nobres que jazem nas entranhas do planeta repousam virtualmente anéis e colares, coroas e tiaras. No ventre da parreira adormece o vinho. Cada célula humana contém a síntese do Universo. E na essência de todos os seres vivos e de todas as coisas está Deus. Não o vemos, mas Ele está ali.

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