Hoje* o dia começou mais triste: o poeta Manoel de Barros deixou a vida aos 97 anos. Quando morre um poeta, não é apenas um escritor que se encerra: é o mundo que fica menor. O poeta tem aquele poder de revelar coisas humanas que a própria natureza desconhece. É do seu ofício fabular aquilo que não é palpável, tornar palavra aquilo que antes era suposta imagem, algo interno em movimento.
Manoel escrevia de forma simples, inventiva, celebratória, e sempre com uma curiosidade de criança que descobre o mundo. A sua poesia era uma espécie de inocência, algo muito raro no nosso mundo tão objetivo e pragmático dos dias de hoje. Os dias de Manoel eram os dias na fazenda, de contemplação amorosa e observação da vida. Um dia ele disse: "eu sou o que me falta". Guardo comigo essa declaração, pois ela é uma das frases mais preciosas sobre a nossa jornada.
Para os amigos que também amam esse poeta, hoje o mundo ficou mais triste. Manoel foi ao encontro dos filhos que havia perdido e lamentado tão profundamente, mas nos deixa aquela imagem de homem sereno e tranqüilo que encontrou a maior riqueza do mundo dentro de si.
Você é aquilo que nos falta, Manoel. Boa passagem!
*Texto escrito a 13 de novembro de 2014.