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Cleópatra, de Júlio Bressane

31 dez 1969 às 21:33
Alessandra Negrini como Cleópatra - Divulgação
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O cinema é uma forma de pensamento. Assim querem alguns teóricos; e dessa forma Bressane se expressa. "Cleópatra" é tudo, menos uma narrativa convencional. Em certa medida, ao longo do filme, vamos nos deparando com um grande comentário relativo a um determinado tema. E como Bressane é nosso contemporâneo, por que não encontrar no filme paralelos com o que vivemos hoje em dia?

Somos aquilo que encontramos. Assim sugerem alguns escritores. E enquanto espectador de Bressane, podemos confirmar que essa possibilidade é realmente válida. Pois estar diante de um filme como "Cleópatra" é estar na máxima potência, podendo encontrar múltiplos significados entre cores, sons, músicas, rituais, expressões, falas, enfim, tudo aquilo que compõe um quadro e que nos é apresentado como um plano.

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Cinema não é teatro, muito menos literatura. Disso sabemos, e Bressane sabe disso melhor que todos nós. Seu discurso, aparentemente teatral (no caso de "Cleópatra"), evoca outra ordem, outra esfera comunicativa: não se trata exatamente de alegoria, muito menos de uma versão abrasileirada dos fatos. Trata-se de uma releitura criativa, que aponta possibilidades, e potencializa o mito.

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A seu modo pessoal, Bressane talvez seja o único cineasta hoje no Brasil capaz de criar uma dimensão única, uma atmosfera simbólica que traduz sua visão de mundo sem ser didático, muito menos conclusivo. "Cleópatra" nos instiga nesse sentido: é um filme a ser revisto, pensado, comentado, relembrado. Permanece como algo vivo e ao mesmo tempo misterioso. A ritualística, nesse caso, nos aproxima do real; e, como dizia Glauber: "só o real é eterno".


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