Administração e Tecnologia

A indiferença da razão administrativa

01 mar 2010 às 16:08


"...ao menos aos meus olhos, ao menos para um eterno sonhador, que ainda acredita em sentimentos, apesar de não gostar deles, são de tal forma parte minha que esquecê-los seria como abandonar a mim mesmo."

Em qualquer obra de ficção científica, fica muito claro que, por mais sensacionais que sejam as capacidades dos denominados "ciborgues", sua falta de emoção e de sentimento, torna-os, cedo ou tarde ameaças mortais. A falta de emoção, por mais contraditório que possa parecer, muitas vezes, impede um bom entendimento dos procedimentos lógicos que regem as máquinas, que funcionam em apenas dois estágios: "sim" e "não". Durante muito tempo, esse comportamento "binário" me pareceu bastante adequado, pois exige que nos concentremos em um objetivo até sua conclusão e nos faz evitar as variáveis externas, alheias ao processo em desenvolvimento.


O mundo capitalista nos faz pensar e considerar que o dinheiro e o sucesso no mundo dos negócios seja o mais importante e se transformam em nossos grandes objetivos. Abandonamos nossas emoções, que nesse mundo extremamente competitivo, acabam atrapalhando às vezes, pois nos torna vulneráveis, afetando nossas decisões, que significam a morte ou vida de uma corporação, principalmente numa época de crise tão intensa e tão pouco compreendida em sua essência: não se sabe direito como começou e muito menos como fazer para findá-la. Não faz muito tempo, a escolha de profissões era determinada pela paixão, pela vocação e não norteada pelo sucesso econômico-profissional.


A ausência de paixão fez as empresas se transformarem em relógios, perfeitamente sincronizados, funcionais, precisos, confiáveis... Mas qual relojoeiro é tão bom para consertar um desses relógios tão perfeitos e caros num momento de emergência, senão os apaixonados pela profissão, aqueles que sentem verdadeira satisfação na precisão e perfeito funcionamento da peça?


Claro, o sucesso econômico é importante, como contradizer isso no momento de mercado em que estamos inseridos? Mas é preciso repensar nossos valores, nossos papéis e que tipo de sociedade queremos construir. O comunismo, por mais utópico que tenha sido, tinha uma visão de futuro, de continuidade, para todos. O Capitalismo tem uma visão de momento e de um futuro para poucos, selecionados por critérios tão pouco compreendidos.


O sucesso deveria ser resultado de nossa dedicação às nossas paixões, do nosso esforço, de nosso empenho em fazer aquilo que escolhemos, por afinidade, por desejo. Trabalhar apenas por dinheiro, pode ser muito ruim, sob diversos aspectos. Aquele muro de proteção que construímos à nossa volta, na verdade, nem sempre nos protege, mas simplesmente afasta e distancia de tudo que não faz parte de nosso mundo tão bem planejado e organizado. Felizmente, vez ou outra, alguém consegue penetrar nessa barreira, e faz com que sintamos novamente, aquela paixão que a tanto esteve esquecida.


Porém, a opção pelo racionalismo, não vem apenas em função do anseio pelo dinheiro ou sucesso, é uma das melhores maneiras de nos proteger daquilo que não compreendemos, fácil explicar e desenvolver fórmulas matemáticas, tão difícil explicar as nuances de nossos sentimentos. Nosso envolvimento pessoal deve permanecer do lado de fora da empresa, é o que sempre aprendemos. Muitas vezes, procurando uma razão racional, plausível, alguma coisa que se possa confrontar com o cérebro, que funciona em binário, as coisas sempre precisaram fazer sentido, uma necessidade inerente de controlar os acontecimentos, de não tomar decisões erradas.


Mas o que são decisões erradas? Nesse momento, a paixão demonstra sua importância, porque os critérios de certo e errado racionais, nunca são totalmente corretos, afinal, nós não negociamos, trabalhamos ou vendemos para máquinas, mas para pessoas... Os recursos humanos. Todos são pessoas, tão individuais na sua essência quanto a própria individualidade. Cada um é único, singular, convivendo num equilíbrio precário, baseado num conjunto de regras extremamente frágil, onde valores distorcidos moldam uma sociedade que não terá futuro, a menos que os valores voltem aos seus devidos lugares...


Nada tão distante quanto o sonho comunista, mas um equilíbrio real, pela construção de uma sociedade que possa trabalhar naquilo que tem paixão, ter resultados positivos, ter poder de compra e dessa forma, tenhamos para quem vender nossos produtos, que o dinheiro circule no mercado, que o equilíbrio aconteça não por interesses idealistas, mas pelo interesse egoísta de que as empresas mantenham seus mercados, pelo interesse egoísta que tenhamos nossos empregos, nossas carreiras e que nossas famílias possam viver bem. No final, a conclusão, mais ilógica de todas, é que não existe nada mais egoísta do que desejar que todos vivam bem.

Que tenhamos um ótimo 2009.


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