É muito comum ler e ouvir que "o direito ao voto é uma das grandes vitórias da democracia". Sem dúvida, o processo eleitoral é o que determina os integrantes do cenário político de uma nação, sendo representantes da vontade popular, servindo como voz das reinvindicações e necessidades apresentadas pela comunidade, pelos cidadãos, que depositam na urna (agora digitam) não apenas um voto, mas a esperança de tempos melhores.
O processo é muito bem montado, com regras claras e procedimentos adequados, inclusive como referência mundial, com a utilização de tecnologia mais intensamente até mesmo que os Estados Unidos, grande modelo da democracia. Fico imaginando do entanto o motivo de ainda utilizarem cédulas na terra do tio Sam. Afinal, o sistema eletrônico minimiza a possibilidade de fraude? Quem já viu o algoritmo das urnas? O código não deveria estar disponível para verificação da população? Nesse momento, vou assumir que o sistema está totalmente adequado e correto.
Sou um grande fã do processo eleitoral, mas tal qual outras situações, gostaria que ele fosse realmente democrático, permitindo que o momento do voto realmente fosse um sinônimo de mudança, de escolha, de escolha real e não como temos sido democraticamente obrigados a acreditar numa fórmula que se mostra tão inepta quando a inexistência do processo.
Minha motivação nesse texto é compartilhar a insatisfação que sinto em passar de "proibido" a "obrigado" a votar. Do asco em ter que escolher entre o ruim, o pior e o péssimo, de não ter a possibilidade de dizer um "não quero votar em nenhum desses candidatos, por favor, monte um novo conjunto para escolha". A liberdade é amplamente praticada, temos um número exagerado de partidos, trazendo ao processo eleitoral uma situação que muito me incomoda, o tal "voto da legenda". Ainda não consigo entender o que isso significa exatamente.
Importante ressaltar que não estou acusando ou defendendo esse ou aquele partido, mas sim a forma que o processo está estabelecido. Se apoiamos tanto a liberdade, o voto jamais poderia ser obrigatório. Existe uma vertente de apoio ao voto obrigatório. Alguns de meus amigos acreditam que a obrigatoriedade serve para evitar que apenas os "mal-intencionados" acabem registrando suas opiniões, pois é de conhecimento de todos que uma parcela significativa vota por motivações particulares e nem sempre estão pensando no melhor para a coletividade, apenas pensam em benefícios particulares que não representam a verdadeira intenção do processo eleitoral.
Mais uma vez, quero registrar que, se o processo trouxer segurança aqueles que dele participam, que seja percebido que a mudança pode acontecer a partir do registro na urna, a participação acontece. Existe uma desmotivação generalizada quanto ao processo e é isso que torna o voto uma chateação e não uma oportunidade de mudar.
Além do bom processo para "contratar" (sim, os representantes não estão lá porque são legais ou apenas porque querem realizar alguma coisa importante, são remunerados – e bem remunerados – para exercer seus mandatos) precisamos de um processo igualmente eficiente para "demitir", pois é assim que acontece com os profissionais todos os dias, temos que ser os melhores o tempo todo, sendo avaliados e questionados quanto de nossa importância a corporação a qual estamos vinculados. Por que na política é diferente?
É fundamental (é o mínimo, na verdade) aqueles que servem a população, prestem contas de seus atos, na mesma proporção que é comum a todos. Somos bombardeados por "melhorar constantemente", "manter a empregabilidade", "capacitar-se", "aprimorar" e mais um conjunto sem fim de exigências para manter nossa posição profissional, ou a empresa pode optar por nos substituir, deveríamos ter a possibilidade de agir da mesma maneira com nossos políticos.
O nível de escolaridade e conhecimento exigido pelas empresas ao contratar um profissional, as vezes, beira o absurdo. É no mínimo cômico (pra não dizer bizarro) que tão pouco se exija daqueles que tomam decisões em nome de uma população inteira.
Pense!