Uma nova tendência no mercado imobiliário surgiu com a quarentena imposta pela pandemia do Covid-19 no Brasil: desde abril, a busca por casas maiores aumentou em relação aos anos anteriores, de acordo com os dados informados pelas principais imobiliárias de São Paulo. Os números comprovam: no Imovelweb, a busca por casas na Vila Mariana (capital paulista) passou de 4%, em abril de 2019, para 57% do total no mês passado. Na Lello, a busca por casas subiu 41% entre janeiro e abril deste ano.
Além de espaços mais amplos, a vontade de ter mais quartos e o sonho de um quintal demanda planejamento. "Fica evidente que a tendência de apês pequenos deixou uma lacuna na vida nos moradores, que precisaram abdicar de espaço nesses imóveis. Além disso, a análise desses dados demonstra que as pessoas desejam ter a sua própria estrutura, em detrimento da proposta atual de compartilhar áreas comuns nos edifícios”, relativiza Cristiane Schiavoni, à frente do escritório de arquitetura que leva o seu nome.
Atentas ao novo movimento do mercado, que refletem às expectativas do morar pós-pandemia, Cristiane Schiavoni e as arquitetas Isabella Nallon, à frente do Isabella Nalon Arquitetura, Júlia Guadix, do escritório Liv’n Arquitetura, e Carina Dal Fabbro, do Carina Dal Fabbro Arquitetura, expõem suas experiências e pontos que devem ser observados para a realização dessa mudança.
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Primeiros passos
A primeira dica é unanimidade entre as profissionais consultadas: antes de começar a busca da sonhada moradia, é imprescindível fazer uma lista de necessidade dos moradores. Ter em mente o que se quer x o que realmente precisa.
Nesta lista entram pontos que englobam a estrutura da futura residência, como o número de quartos desejados, banheiros e a existência ou não de escada, como também questões fundamentais como a localização. "Essa lista auxilia na eliminação dos imóveis que não estão de acordo com a nova demanda e possibilita focar nas oportunidades que realmente poderão atender. "Gosto de orientar para que meus clientes usem a internet e pesquisem as distâncias da possível residência para o local de trabalho e a escola das crianças, bem como analisar sobre a rua, o bairro... Apenas depois disso é hora de sair para conhecer as opções”, revela Isabella Nalon.
Na hora da visita, tudo precisa ser analisado de forma minuciosa para não cair em erros. Tendo o imóvel atendido aos desejos, outros fatores devem ser levados em consideração antes do fechamento do negócio. A arquiteta Júlia Guardix relaciona que a segurança deve fazer parte. "Pesquisas na internet e conversas com vizinhos são muito recomendadas para se aprofundar nas questões de boa convivência, criminalidade no bairro e a existência de empresas que realizam rondas. Além disso, é interessante quando a casa já oferece sistema da câmera, internet e um portão automático eficaz para a abertura e o fechamento”, detalha.
Olhar atento na visita ao imóvel
Como estamos falando de uma casa pronta que passará apenas por reformas, ao entrar no imóvel o futuro comprador precisa seguir com outra lista em mãos. "Quem está saindo de um apartamento deseja, impreterivelmente, ter mais contato com sol e o verde”, relata Carina Dal Fabbro.
Por isso, a visita se configura como uma oportunidade para verificar a existência de uma área verde – ou a perspectiva de construí-la –, bem como saber sobre a presença do sol. "Onde e em quais momentos a luz solar incide nos ambientes da casa? É muito desconfortável, principalmente nessa época de outono, quase inverno, ter uma casa gelada, resultado do pouco sol que o imóvel recebe. Além do conforto térmico, o sol é muito importante para quem tem o desejo de um quintal com gramado, um jardim... o sonho não pode ser frustrado”, adiciona Carina. Ainda sob esse aspecto, visitar o imóvel em diferentes horários e dias da semana é o ideal.
Mofos e infiltrações são sinônimos de problemas na saúde do imóvel e geralmente estão relacionados à falta de ventilação e infiltração. "Em muitos casos não basta somente ‘arrumar as paredes’, pois as situações podem reincidir e serem prejudiciais para moradores comorbidades respiratórias”, comenta a arquiteta Cristiane Schiavoni.
Avançando etapas, a saúde do imóvel deve ser avaliada. O telhado não pode ser esquecido, pois a falta de manutenção do antigo morador pode ter ocasionado telhas quebradas ou caibros acometidos por cupins, por exemplo.
Para Isabella, a idade do imóvel também diz muito sobre ele e permite que o profissional de arquitetura saiba mais sobre os métodos construtivos e materiais utilizados na obra. A infraestrutura também pede bastante atenção aos futuros moradores, que precisam avaliar com muito cuidado a parte elétrica e hidráulica. "Avaliar se a fiação já foi refeita alguma vez – assim como o quadro de luz, verificar se a tubulação de água ainda é de ferro ou cobre e observar a capacidade e material da caixa d´água, são itens fundamentais antes de selar a compra”, reforça a profissional.
Olhar profissional
Geralmente, quem está em um processo de compra nunca gosta de fechar negócio sozinho. Além de contar com as impressões de familiares e amigos durante as visitas ao imóvel, o olhar profissional transmite a segurança.
Para tanto, arquitetos realizam esse tipo de consultoria e uma análise criteriosa para avaliar não só o estado do imóvel, como também a viabilidade das reformas dentro do contexto almejado pelo proprietário. "Hoje em dia vivemos essa experiência gostosa de integrar a área social da casa com uma varanda e ter uma cozinha dos sonhos. Mas muitas vezes a existência de pilares e outras condições, que compõem a planta original da residência, podem inviabilizar esses planos”, explica Júlia Guadix.
No campo burocrático, apurar a documentação do antigo proprietário e do imóvel evita dores de cabeça no futuro. Além disso, a conferência na prefeitura indica a validação (ou não) do habite-se e a existência de impostos atrasados.
Hora da reforma
É fato que o estado e a configuração do imóvel antigo não oferecerão as condições plenas para a mudança no novo morador, que precisa considerar a execução de reformas. Todavia, todo o processo precisa fazer valer o investimento para que, em algum dia, as benfeitorias executadas possam beneficiar o novo proprietário em uma futura venda.
Ao fechar a compra, o melhor caminho não é realizar a reforma por conta, mas sim contratar um profissional especializado. Contar com a experiência de um escritório de arquitetura assegura a decisão pelo melhor projeto e planejamento dentro do orçamento disponibilizado pelo cliente. "O lado financeiro do cliente norteia o projeto e a escolha dos materiais. Minha equipe trabalha para ajustar o melhor dentro da verba disponível e sem gastos extras que não estava previsto”, conta Cristiane.
Junto com o arquiteto, os moradores devem informar o que gostam da casa antiga e o que almejam para o melhor estudo de layout. Além da planta baixa, o projeto 3D facilita o entendimento do cliente, que consegue enxergar o resultado da obra.
Como economizar
A primeira dica para quem está com o orçamento enxuto é ter clareza e estabelecer as necessidades e orçamento. "Sempre digo para os clientes que, em hipótese alguma podemos economizar na infraestrutura. Quando trabalhamos em com investimento mais curto, os ajustes acontecem na escolha dos revestimentos e na finalização da obra. De forma alguma podemos apresentar alguma inconsistência na reforma”, preocupa-se Cristiane.
Ainda no quesito revestimentos, a compra da quantidade completa para a instalação nas paredes e pisos colabora para uma melhor negociação. Nesse volume, um mesmo porcelanato, por exemplo, pode ser utilizado para os ambientes de salas, varanda e dormitório, traduzindo em amplitude e a sensação de continuidade.
Por fim, durante o processo de decoração a economia pode se fazer presente na decisão pelas peças que irão compor o mobiliário, nos itens de iluminação e objetos de decoração.