Depois de ouvir de setores do Ministério da Defesa e do próprio Palácio do Planalto que escolher um militar como novo ministro da Saúde poderia gerar desgastes, o presidente Jair Bolsonaro indicou a aliados que recuará da ideia de nomear um integrante das Forças Armadas para o cargo, mesmo com perfil técnico, como cogitava fazer na semana passada.
Segundo auxiliares, Bolsonaro passará a avaliar nomes de médicos que estejam alinhados às suas ideias para combater o coronavírus, mas fará a análise dos candidatos com calma. A tendência, dizem aliados, é que ele deixe o general Eduardo Pazuello, atual ministro interino, à frente da pasta até que tenha segurança na escolha de um novo nome.
Esse período pode variar de uma semana até o final da pandemia, como disse o presidente a pessoas próximas. Isso significa, no entendimento de aliados, que Bolsonaro poderia deixar o militar no comando do Ministério até que haja uma queda do número de mortes e estabilidade no número de contaminados pela doença.
Deputados bolsonaristas, porém, têm defendido que sejam indicados o presidente da AMB (Associação Médica Brasileira), Lincoln Lopes Ferreira, ou o youtuber Ítalo Marsili, que diz ser psiquiatra. Este último viajou nesta segunda-feira (18) a Brasília e poderia ter uma reunião com a equipe do presidente. Ele mesmo divulgou sua ida à capital e, no fim de semana, reproduziu pedidos de apoiadores de Bolsonaro que defendiam seu nome para o posto.
O que há de consenso entre pessoas próximas ao presidente é que Pazuello ficará interino na Saúde até concluir a mudança na diretriz sobre o uso da cloroquina em pacientes com coronavírus. O documento está pronto e prevê que o remédio poderá ser usado em estágio inicial da doença. O texto será levado a Bolsonaro para aprovação.
Na semana passada, o presidente avaliava colocar no lugar de Nelson Teich o diretor de Saúde da Marinha, o contra-almirante Luiz Fróes, ou efetivar Pazuello. O presidente considerava a melhor opção, segundo aliados, efetivar Pazuello. Ele é de confiança e tem disposição de encampar o que o presidente prega para o combate à pandemia do coronavírus.
A possibilidade gerou resistências tanto entre os comandantes das Forças Armadas como entre integrantes da cúpula fardada do Palácio do Planalto.
Eles dizem que, se Bolsonaro escolhesse um militar da ativa, caso de Pazuello e Fróes, passaria a imagem de que são as Forças e não o governo que lideraria o enfrentamento ao coronavírus. Além disso, há o receio de que a escolha de um militar possa prejudicar a imagem da corporação caso a gestão não seja bem-sucedida.
A avaliação foi repassada ao presidente. Segundo relato feito à reportagem, ele concordou com a ponderação e disse que busca um nome de um médico com opiniões similares à dele contra o coronavírus.
Segundo auxiliares presidenciais, o próprio Pazuello comunicou ao Planalto que não gostaria de se tornar efetivo no cargo. Ele disse que pretende voltar às suas funções no Exército quando a "missão for concluída".
Nos últimos dias, foram sugeridos mais dois nomes de médicos ao presidente: do pediatra e toxicologista Anthony Wong e do virologista Paolo Zanotto, professor da USP (Universidade de São Paulo). Os dois têm apoio entre aliados do presidente.
No fim de semana, Bolsonaro também disse que não tem pressa em indicar um sucessor para Teich. O presidente ressaltou que não pretende fazer uma escolha rápida que possa ter o mesmo desfecho da anterior: uma mudança com prazo de validade de menos de um mês.
A ideia, segundo ministros palacianos, é que ele dedique os próximos dias a encontros e reuniões com nomes para a pasta, podendo deixar a escolha para o final do mês. Os requisitos são os mesmos: a defesa tanto do uso da cloroquina na fase inicial da doença como da flexibilização do isolamento social.
Apesar de o presidente ter repetido em caráter reservado que busca um nome técnico e sem vinculação política, o ex-ministro e deputado Osmar Terra (MDB-RS) também é citado como uma opção para o cargo por aliados do presidente.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta avaliou que a ampliação do uso da cloroquina, como quer Bolsonaro, pode elevar a pressão por vagas em centros de terapia intensiva e provocar mortes em casa por arritmia.
Ele afirmou que resultados iniciais de estudos que recebeu ainda no governo federal já indicavam riscos no uso do medicamento. Para Mandetta, o país atravessou até o momento apenas um terço da crise e deverá ter pelo menos mais 12 semanas duras adiante.