Único candidato com experiência no Executivo, pedetista também sugere aderir ao naming right para deslanchar Teatro Municipal
Candidato pela coligação “Quem manda é o povo” (PDT e Federação Psol/Rede), Barbosa Neto (PDT) é o primeiro prefeiturável ouvido pela sabatina realizada pelo Grupo Folha de Londrina. As entrevistas, que começam a ser publicadas nesta terça-feira (3) e seguem até 12 de setembro, ficarão disponíveis em formato de videocast no canal da Folha de Londrina no YouTube.
Barbosa quer retornar à prefeitura para o cargo do qual foi cassado em julho de 2012. Na entrevista, ele diz que a perda de mandato foi um ato político em retaliação por não fazer negociatas com outros políticos e que tem orgulho por ser o único ex-mandatário nos últimos 50 anos que não precisou se aliar ao belinatismo e ao PT para ser eleito e que não tem origem em família abastada.
Retomando feitos de sua primeira gestão, Barbosa comenta quais ações pretende retomar em um eventual novo governo, sugere buscar parcerias até com a iniciativa privada para dar continuidade ao Teatro Municipal por meio de naming rights (modelo em que uma empresa paga para renomear um espaço), reforçar o Programa Saúde da Família no município para desafogar urgências, emergências e altas complexidades e rever o papel dos agentes de trânsito e o contrato de operação dos radares nas vias londrinenses.
Confira parte da entrevista a seguir e assista à sabatina completa no final do texto.
Barbosa, por que o senhor pretende voltar para a prefeitura?
Porque eu fui o prefeito mais bem avaliado nos três anos que eu estava à frente da prefeitura. Eu enfrentei um sistema, rompi com muitas alianças nefastas para cidade, que culminou com a minha saída da prefeitura. O tempo mostrou que isso foi um golpe. E eu quero ver Londrina de novo, como foi no meu tempo, a cidade que mais gerava emprego, até mais do que Curitiba. A limpeza da cidade, avaliada pela própria população, em votação popular, a nota era 8.9. Eu fui prefeito empreendedor do Sebrae, eu fui prefeito amigo do catador [de recicláveis], fui prefeito amigo da criança. Londrina vivia um outro momento, numa crise que a gente enfrentava num país, mas Londrina era um oásis. A imprensa nacional registrou isso. Bom, se a gente fosse falar tem tanta coisa que me aprovou e que a população se lembra. Eu tenho certeza que, com o debate, [haverá] a oportunidade das pessoas verem que foi uma mancha - que foi retirada da minha biografia - a cassação política. Eu nunca fui condenado, nunca fui preso, nunca fui afastado pela justiça, nunca usei tornozeleira eletrônica. Mas, as pessoas ainda têm essa lembrança. Sou o único prefeito que veio de baixo, sem ter família rica, sem ser [aliado] dos Belinati ou do PT nos últimos 50 anos, o único prefeito que rompeu realmente com essas elites políticas dominantes. Eu rompi com esse sistema, então, é natural que venha uma saraivada para cima da pessoa.
Então, no caso da sua cassação, o senhor acredita que foi uma ato meramente político? Não houve irregularidade nenhuma? No que se apegaram para cassá-lo?
Se fosse só eu que que acreditasse nisso, né? Mas, versões existem, claro. A maioria das pessoas não sabe exatamente do rito todo que aconteceu. Primeiro, a decisão da Câmara, que foi política. Vários vereadores tinham interesses contra mim. "Você vai cortar a torneira da corrupção?", que eles estavam acostumados a fazer. Entra uma pessoa que rompe com isso. Se você pegar o histórico, foram mais de 80 nulidades do episódio da minha cassação, isso [apontado] pelo Tribunal de Justiça. A Câmara recorreu, foi para o STJ (Superior Tribunal de Justiça), foi até para o STF (Supremo Tribunal Federal) e eu ganhei em todas as instâncias. Então, eu só queria saber qual é a parte que as pessoas que conhecem verdadeiramente da política, não entenderam a respeito desse episódio. Porque é a única coisa que eles querem falar. Nessa polarização, [apontam] "esse cara é corrupto", mas, onde que eu fui corrupto? Eu fui o contrário. Eu fechei a porta para corrupção. Eu acho que tem muita coisa que, às vezes, a população desconhece, porque as manchetes são garrafais na condenação e minúsculas na absolvição. É assim que funciona. Respondi a 26 ações e fui inocentado de todas elas. Então, existem versões, por parte dos adversários, que querem, é claro, colocar uma pecha negativa [em mim]. Essa própria questão da cassação, é histórica e um dia os livros, os anais, vão registrar isso.
Barbosa, são 12 anos desde do fim da sua gestão. Quais projetos dessa sua primeira experiência na prefeitura o senhor acredita que podem ser replicados agora?
As pessoas não se recordam, mas vou lembrar para você como nós fomos inovadores. Primeiro, eu reduzi o valor da tarifa do transporte coletivo, tiramos fardos pesados da própria administração. Na Cohab, eu fiz a renegociação de dívidas, permitindo que as pessoas pudessem alongar o perfil da sua dívida até os 85 anos, coisa que antes era impossível, isso facilitou muito a vida de pessoas que estavam em dívida com a Cohab. Eu fiz o maior programa de escrituração fiscal, dando a posse do terreno e a escritura para as pessoas que estavam em situação irregular, sem cobrar um único centavo. Eu fiz o programa de regularização fiscal, Profis, na minha época, que não premiava o devedor, mas foi também uma conquista. E, se for ver pelos feitos que nós fizemos, por exemplo, o ISS Tecnológico, que retira da empresa o imposto que ela tem que pagar progressivamente, priorizando as empresas menores. Nós fizemos a redução do ISS para as empresas de consórcio aqui em Londrina. Essa área gerou, de janeiro a maio, R$ 140 bilhões. Londrina se tornou um polo atrativo para essas empresas. No meu novo governo, nós vamos descentralizar fazendo uma espécie de Poupatempo, junto com o Sebrae e o Governo do Estado, até para acesso ao microcrédito. Criei a Secretaria de Emprego, Trabalho e Renda. Tudo era comigo, eu não coloco secretário como anteparo da minha vida. Nós não tínhamos pichações, nós não tínhamos poluição sonora, nós fiscalizávamos, a cidade era organizada. Não tinha um morador de rua – tinha um só, que nós resolvemos o problema.
Candidato, no seu plano de governo, o senhor fala no término das obras do Teatro Municipal, que já está parado há 10 anos, e outros espaços culturais, como o Zaqueu de Melo e o Museu de Artes. Como o senhor pretende efetivamente tirar do papel a restauração e a conclusão desses espaços públicos?
Envolvendo pessoalmente a figura do prefeito e a vontade política de realizar. O projeto do Teatro Municipal, eu fui entregar no último dia administrativo do governo federal. O Teatro Municipal, se tivesse sido dado sequência, era para estar pronto. Qual é o mal nisso? Tinha emenda de bancada, que estava orçada em R$ 75 milhões, só investiram R$ 8,5 milhões. Faltou vontade política para resolver. Hoje, talvez nem precise do dinheiro do governo federal, não vai sair nada até da dos cofres da prefeitura. Se tiver que dar uma contrapartida, vamos fazer no modelo de naming rights, que é como funciona nas arenas de futebol. As empresas pagam para explorar aquela imagem por 30, 40 anos. Então, falta envolvimento, porque acham que cultura não dá voto, que não é importante. Eu coloco a cultura no topo.
O seu plano de governo fala em contratar mais médicos, enfermeiros e outros funcionários para a saúde. Também propõe construir mais uma unidade médica infantil. A prefeitura tem caixa para isso ou dependeria de parcerias com os governos do Estado e federal? Como de fato fazer esse reforço de pessoal e de estrutura para a saúde de Londrina?
Eu acho que a primeira coisa é a questão da gestão. Dinheiro existe, né? A saúde tem o maior orçamento, depois da educação. De um orçamento de quase R$ 4 bilhões, mais de R$ 1 bilhão é investido na saúde. A gestão está sendo deficitária. Não é possível numa cidade igual a Londrina, que tem uma tradição na área de startups, na área da tecnologia da informação, permitir que não haja um sistema gerenciando o fluxo de pacientes, consultas, cirurgias, fazendo tudo isso pela Inteligência Artificial. Há outras alternativas, como fortalecer o Programa Saúde da Família. Fazendo a visita casa a casa, evita que várias pessoas tenham que procurar a unidade básica de saúde. Quando você só atende a média e alta complexidade ou você cura a pessoa, ou ela morre, ou ela permanece mal curada e vai voltar para o sistema. Isso fica muito caro, a urgência e emergência e também a alta complexidade, tudo acaba sendo responsabilidade do município.
O seu plano de governo fala em construir casas e apartamentos com preços que as pessoas consigam pagar. Como isso vai funcionar e qual sua proposta para a Cohab?
A Cohab nunca construiu casas, é um instrumento de gestão. Temos que criar uma Secretaria de Habitação em Londrina para agilizar melhor os processos e a Cohab voltada para o interesse social. Nós estamos há quase oito anos sem uma habitação popular. Casos que não se resolvem como lá no Jamile Dequech, que começou na minha época aquele projeto até hoje as pessoas não tomaram posse dos seus apartamentos. O Flores do Campo, que começou também comigo, mas que passaram-se 12 anos. É inadmissível ficar da forma como eles estão lá e hoje. E hoje tem tecnologias modernas. Aqui no Paraná, conheci o projeto Fábrica de Prédios, que constrói milhares de moradias com rapidez. Hoje é tudo modular, com baixos custos e pequeno impacto ambiental também. Hoje são 64 ocupações irregulares em Londrina, tem quase 60 mil pessoas na fila da Cohab, isso precisa mudar e é inteligente para a cidade porque a resposta mais rápida para a economia vem da construção, porque você dá emprego para o pedreiro, servente, para o encanador, para o pintor, o eletricista. A compra do material é feita nas lojas de materiais de construção, então, isso gira a roda da economia.
O senhor propõe a revitalização do centro de Londrina, inclusive do Calçadão, que sofreu mudanças durante o seu governo, como a retirada dos quiosques. Hoje, o senhor defende essa medida?
Os quiosques, se você se recordar, eram onde a polícia fazia o maior número de prisões. As pessoas ficavam ali, ociosas, furtavam as calças, objetos das lojas e enfiavam debaixo dos quiosques. Aquele petit-pavê era inapropriado para o terreno da nossa cidade. Não deu problema nenhum. Eu enfrentei a briga e coloquei o paver. Até hoje o Calçadão está lá, nós resolvemos o problema e não deu um desnível. Mas, faltou manutenção.
Londrina é uma cidade que tem uma economia muito calcada no comércio e nos serviços, que são setores que empregam bastante, mas os salários não são altos. Qual sua proposta para melhorar a renda do londrinense? E como fazer para atrair indústrias para Londrina?
Olha, no meu tempo, Londrina gerou mais empregos do que Curitiba. Hoje, Londrina é a sexta cidade na geração de empregos. Com a segunda em população, o PIB nosso entre 3º e 4º lugar. Londrina está empobrecendo, está perdendo o terreno para outras cidades. A primeira coisa é fortalecer a micro e pequena empresa. Nós vamos trabalhar em parceria com entidades como o Sebrae dar agilidade e um fundo de aval, um crédito para as pessoas regularizarem as suas profissões. Isso é simples, com cadastro negativado, a pessoa tem acesso a R$ 20 mil. Uma parceria com o governo do Estado, o Fomento Paraná faz isso. Paga em até 48 vezes e tem uma carência. É só destravar e o prefeito ter coragem de buscar empresas. Eu trouxe a Atos para Londrina, disputando com Campinas e com Curitiba, uma empresa que paga salários altíssimos. A Tata, que todo mundo sabe que fui eu quem fui à Índia buscar e, agora, tenho autorização para trazer para Londrina uma montadora.
Barbosa, o senhor propõe a redução do número de radares e uma ação mais propositiva por parte dos agentes de trânsito, de orientar ao invés da aplicação de multa. Também diz que vai acabar com os congestionamentos. Como fazer isso, já que o plano de governo não detalha essas ações?
A gestão do trânsito com o uso da tecnologia já deveria ter sido implantada aqui em Londrina, mas a CMTU abre mão, querendo contratar uma empresa de fora para fazer a gestão do sistema semafórico drenando dinheiro da cidade. O agente de trânsito não pode ser colocado para atrapalhar a vida da pessoa. Criou-se uma aversão contra o agente de trânsito porque ele deixou de fazer o seu papel, que é orientar, e não apenas multar. Também vou rever os contratos, começando por essa indústria da multa. Está no oitavo aditivo, são R$ 10 milhões que Londrina paga para duas empresas de Pinhais fazerem a fiscalização desses 82 radares espalhados pela cidade. Quanto custam esses R$ 10 milhões, são quase R$ 900 mil por mês que se gasta com isso. A Zona Azul, implacável, que deveria ter uma tolerância maior. Na própria revitalização do centro nós vamos rever isso.
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