O prefeito de Londrina, José Joaquim Ribeiro, confessou que recebeu propina de pelo menos R$ 150 mil de empresários envolvidos na fraude de licitação para fornecimento de uniformes escolares. Os próprios empresários também teriam admitido o pagamento da vantagem indevida ao chefe do Executivo.
Em entrevista coletiva, o promotor de Defesa do Patrimônio Público, Renato de Lima Castro, informou que o prefeito relatou que o destino do dinheiro seria para caixa de campanha. "É ato de improbidade administrativa e crime contra a administração pública. Estava marcada uma nova oitiva, mas ele não compareceu, certamente, aconselhado por advogados", disse.
Castro lembrou que o depoimento foi gravado e que Ribeiro foi cordial e espontâneo, além de apresentar detalhes sobre o fato. "Essa propina foi paga para favorecimento de um grupo de empresas. Há uma confissão expressa e há várias outras declarações que foram categóricas de que José Ribeiro recebeu dinheiro a título de propina, quer em seu escritório, quer em sua casa, quer no estacionamento do Royal (shopping) e também na rua Maranhão", informou o promotor.
"Em quatro oportunidades, ele recebeu aproximadamente R$ 270 mil. Ele nega que esses valores foram recebidos, afirmando que foi recebido apenas R$150 mil", acrescentou. Conforme o depoimento de Ribeiro, o dinheiro teria sido dividido em três partes de R$ 50 mil, destinadas ao atual prefeito (vice na época), ao ex-secretário de Fazenda, Lindomar dos Santos e ao ex-prefeito Barbosa Neto (PDT).
De acordo com Castro, as provas são convergentes e não foram baseadas apenas na confissão detalhada de Ribeiro. "Mas, elas se corroboram com outros elementos de provas, como transferências do grupo G8 para uma outra empresa também do mesmo grupo e saque em dinheiro contabilizado na própria empresa para que uma pessoas entregasse em mãos a propina ao prefeito Ribeiro", declarou.
Questionado se o atual prefeito teria retido toda a propina, Castro respondeu: "Com certeza ele ficou com parte do dinheiro e repassou a outra parte", sem detalhar quem mais teria sido beneficiado pelo esquema. Ele ainda informou que parte do dinheiro foi recebido antes do contrato em 2010 e o restante posteriormente.
O depoimento de Ribeiro foi colhido na segunda-feira (3) na Promotoria de Investigação Policial, no Fórum de Londrina. "Na saída desta entrevista, ele foi visto dando tchau aos promotores e juízes com bastante desenvoltura", lembrou o promotor. Na tarde desta quarta-feira, o advogado do prefeito de Londrina, Paulo Nolasco, foi até o Gaeco, por volta das 16h, para pedir a anulação do depoimento de Ribeiro, que foi ouvido sem o acompanhamento de um advogado.
A oitiva foi colhida pelo delegado do Gaeco, Alan Flore, que destacou que Ribeiro pode ser indiciado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, peculato e corrupção passiva. Ele lembrou, também, que o chefe do Executivo é um de diversos agentes públicos envolvidos no escândalo. "Temos indícios de que o ex-prefeito Barbosa e diversos servidores públicos da última administração participaram das irregularidades", destacou, lembrando dos nomes dos ex-secretários Marco Cito, Fabio Reali, Lindomar Mota dos Santos e Karin Sabec.
Flore contou que o Gaeco pretende finalizar o inquérito até o final da tarde desta quinta-feira. "Temos até amanhã para concluir a apuração e encaminhá-la para o Tribunal de Justiça do Paraná, já que o prefeito tem foro privilegiado." Entretanto, ele lembrou que os nomes dos demais envolvidos serão encaminhados ao Ministério Público, que ficará responsável pelo oferecimento da denúncia.
"Pelo menos no momento, todas as pessoas serão indiciadas na mesma qualidade. Mas vale lembrar que algumas delas aceitaram colaborar com as investigações e, com isso, podem ser beneficiadas mais para frente", enfatizou.
(Atualizado às 17h19)