A possibilidade cada vez menos improvável de que o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, abrace a carreira política, faz o cenário eleitoral do Paraná entrar em ebulição. O Podemos, do senador Álvaro Dias, e a Rede, de Marina Silva, têm, sutilmente, disputado o passe de uma das estrelas da operação. O negociador da Lava Jato, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, também teria sido sondado pelos mesmos partidos. Ironicamente, o PT local torce para que eles se decidam pela nova carreira.
Os primeiros sinais vieram do próprio Dallagnol. Em suas palestras, o procurador tem citado a necessidade da renovação política. Claro que o discurso tem levado à inevitável pergunta: "O senhor é candidato?" Durante o 8º Congresso Internacional de Mercados Financeiro e de Capitais, em Campos do Jordão, no interior paulista, Dallagnol chegou a declarar que quatro partidos o haviam procurado - ele, no entanto, não revela os nomes das legendas. No mesmo evento, não descartou "servir em diferentes posições públicas ou privadas".
Dallagnol voltou a tocar no assunto em entrevista ao jornalista Ricardo Boechat, na Band News FM, quando disse que não pretende ser candidato agora, mas não descartou essa hipótese no futuro.
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As pesquisas, entretanto, não esperam o futuro chegar. O instituto Paraná Pesquisas perguntou ao eleitor do Estado em quem ele votaria para o Senado em 2018. Dallagnol apareceu com 29,6% - atrás de Roberto Requião (PMDB), com 31,4%, na frente do tucano Beto Richa (22,2%) e muito à frente de nomes tradicionais da política paranaense, como o ex-prefeito de Curitiba pelo PDT Gustavo Fruet e a senadora petista Gleisi Hoffmann. Como Requião deve disputar o governo, o procurador teria chances no Senado.
A pesquisa teria aumentado a pressão dos partidos sobre Dallagnol. Segundo pessoas próximas ao núcleo duro da Lava Jato, mesmo entre os procuradores existe um desejo de que algum integrante da força-tarefa se viabilize politicamente.
É aí que surge o nome de Carlos Fernando dos Santos Lima. Tão conhecido quanto Dallagnol, Santos Lima teria a seu favor o fato de ser mais velho (53 anos) e com "menos a perder" do que Dallagnol (37 anos). Santos Lima estaria sendo cotado para deputado federal.
Assim que seu nome passou a ser cogitado, Santos Lima se apressou em desmentir, no Facebook, a hipótese: "Antes de mais nada, não serei candidato a nenhum cargo político nas próximas eleições e muito menos fui procurado ou conversei com qualquer partido".
No Paraná, pessoas ligadas ao universo político dizem que ele pode ser convencido do contrário. O próximo levantamento do Paraná Pesquisas sobre as intenções de voto no Estado testará o nome do procurador.
O Estado procurou os membros do Ministério Público Federal. A resposta veio pela assessoria: "Nenhum procurador da força-tarefa em Curitiba é pré-candidato a nenhum cargo eletivo. Isso é boataria".
‘Chapa dos sonhos’
O Podemos de Álvaro Dias é quem tem demonstrado maior interesse nos procuradores. A "chapa dos sonhos" para o partido teria o próprio senador como candidato à Presidência, Osmar Dias, irmão de Álvaro, como candidato ao governo e Dallagnol saindo para o Senado.
Nos bastidores, as conversas são intensas. Oficialmente, Álvaro Dias é mais contido. "Nunca conversei com Dallagnol sobre candidatura. Apenas discutimos a questão do foro privilegiado. Mas seria uma honra ter Dallagnol em nossos quadros."
A Rede, que tem uma estrutura mais modesta no Paraná, também tem feito essa aproximação. O senador Randolfe Rodrigues (AP) chegou a levar Dallagnol para um encontro com artistas, na casa de Caetano Veloso, no Rio. Oficialmente, não se falou em candidatura. Randolfe disse que "isso nem sequer foi cogitado". Segundo relatos, o encontro foi "cordial". Além dos anfitriões (Caetano e Paula Lavigne), estavam presentes artistas como Marcelo Serrado, Christiane Torloni e Marisa Monte.
Já a Rede do Paraná se anima com a hipótese de um procurador candidato. "Por respeito ao trabalho dele não estamos tratando do assunto, mas seria uma honra tê-lo na Rede", afirmou a porta-voz da legenda, Valéria Cristina.
Quando falam de "futuro", Podemos e Rede estão falando de março de 2018 - antes disso nenhum procurador vai assumir uma eventual candidatura.
O PT do Paraná também tem se manifestado sobre a possibilidade de ver os procuradores da Lava Jatos participando de uma eleição. "Eu torço por isso. Seria uma forma de deixar desmascarar o quanto o trabalho desses procuradores é político", disse Doutor Rosinha, presidente do PT-PR. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.