O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um desabafo sobre o desgaste emocional sofrido em um ano no exercício do cargo. Em discurso durante a cerimônia de entrega de medalhas de Ordem do Mérito Cultural, na manhã desta sexta-feira, no Palácio do Planalto, ele disse se sentir sozinho, mesmo estando sempre cercado por assessores.
"A solidão acontece porque não posso mais freqüentar os mesmos lugares de antes. Quando quero beber uma cerveja, levam três caixas à minha casa", revelou.
Falando de improviso, Lula comparou o Brasil a uma criança e o desgaste vivido por ele ao de uma mãe que, mesmo sabendo da dor do filho ao ser vacinado, não deixa de levá-lo ao posto de saúde. "A mãe leva a criança chorando prá tomar vacina porque quer que ela no futuro seja saudável. Nós somos assim, temos um caminho muito grande a ser percorrido e muito a fazer", afirmou Lula.
Bem humorado, o presidente prometeu que suas palavras seriam breves. "Ontem [quinta-feira] fiz um discurso de 153 páginas. Disseram que eu tinha plagiado o Fidel". A seguir, referindo-se aos vários músicos presentes, ironizou os comentários de que viaja muito. "Se eu pudesse, convidaria vocês para virem aqui tocar todos os dias, mas aí o povo falaria que, além de viajar, só fico ouvindo os grupos".
Entre os 40 agraciados com a medalha, estavam o músico Herbert Vianna, a atriz Marília Pêra e a dupla sertaneja Zezé de Camargo e Luciano. O instrumentista Antonio Nóbrega, um dos homenageados, pôs o presidente e o ministro da Cultura, Gilberto Gil, para dançarem ao som da rebeca. O instrumento, como definiu o músico nordestino, é "um violino feito pelo povo com madeira brasileira".