Política

Desvio em Maringá pode chegar a R$ 100 milhões

23 nov 2000 às 17:22
Os desvios de recursos da Prefeitura de Maringá podem chegar a R$ 100 mlhões, como resultado da ação criminosa e sistemática de uma organização que envolve cerca de 40 pessoas numa rede que vinha operando livremente há vários anos. O valor equivale à dívida do município – Maringá é um dos que mais devem no País – e está muito próximo do orçamento para 2001.
O cálculo sobre o montante do rombo é de uma fonte da Folha que prefere não ser identificada neste momento. Investigações feitas pelo Ministério Público (MP), revelam, até agora, um desvio de R$ 3,1 milhões, O principal acusado é o ex-secretário de Fazenda, Luis Antônio Paolicchi, que teve sua prisão preventiva decretada e está foragido. Segundo o MP, deste total, R$ 549 mil da prefeitura foram encontrados na conta do prefeito licenciado, Jairo Gianoto (PSDB), que estava na sexta-feira em sua fazenda, no município de Nova Mutum (MT) e não foi encontrado pela reportagem.
Outra fonte da Folha ouvida na sexta-feira garantiu que Gianoto estaria articulando uma operação de aquisição de notas frias em Mato Grosso, para tentar ‘‘esquentar’’ os valores depositados por Paolicchi em sua conta. A fonte revelou que a idéia do prefeito é afirmar à Justiça que Paolicchi repassou os recursos para o prefeito afastado comprar insumos para sua fazenda, já que o ex-secretário estaria ‘‘com o nome sujo’’ para realizar negócios.
Assim como Paolicchi, o servidor licenciado da prefeitura, Waldemir Ronaldo Corrêa, teve seus bens colocados em indisponibilidade pelo juiz da 1ª Vara Cível de Maringá, que acatou a ação civil pública proposta pelo promotor da Defesa do Patrimônio Público, José Aparecido da Cruz. Segundo o MP, 45 cheques emitidos pela prefeitura, com valores entre R$ 3,9 mil a R$ 162 mil, foram depositados na conta de Corrêa. Parte desse valor foi repassado para a conta do ex-secretário de Fazenda.
A auditoria interna feita pela prefeitura informou nesta semana que em 96 houve um desvio de R$ 4,2 milhões, durante a administração de Said Ferreira (sem partido). Nessa época Paolicchi já comandava a Secretaria de Fazenda. O ex-prefeito disse que autorizou o MP a promover a quebra de seu sigilo bancário. ‘‘Tenho certeza que nas minhas contas esse dinheiro não foi parar’’, afirmou.
Corrêa teria conhecido Paolicchi após 91, quando começou a trabalhar na Secretaria de Fazenda de Maringá. Há dois anos ele pediu licença e passou a trabalhar na Mineradora Rainha, no município de Igaraçu, empresa onde Paolicchi seria sócio majoritário. Levantamento feito pela Folha mostra que a empresa estaria avaliada em R$ 2 milhões.
Waldemir Ronaldo Corrêa foi localizado em Maringá pela reportagem da Folha, mas preferiu não comentar o escândalo. Segundo o advogado de Paolicchi, Wagner Pacheco, de Umuarama, Corrêa disse que pouco sabe e que deixou a Mineradora Rainha há poucas semanas. ‘‘Estou desempregado e não posso falar, até por ordem judicial. Prefiro me manter incomunicável até as coisas clarearem’’, disse à reportagem. Waldemir Corrêa não quis comentar sobre os valores que teriam sido desviados da prefeitura.
Presidente do Conselho de Ética do PSDB, Wagner Pacheco disse que Paolicchi nega as ‘‘informações que estão aparecendo’’ e só deve se apresentar após a conclusão das duas auditorias que estão sendo feitas na Prefeitura de Maringá, uma interna e outra pelo Tribunal de Contas do Estado (TC). Segundo o advogado, as duas auditorias devem ser concluídas em 15 dias. ‘‘Ele vai dar todas as informações possíveis. Não há interesse em mantê-lo foragido até porque queremos um habeas corpus ou a revogação da preventiva. Com ele ausente não vamos conseguir’’, afirmou.
Pacheco preferiu não dar qualquer pista sobre o paradeiro do ex-secretário e disse apenas que assume a ‘‘guarda de Paolicchi’’, que garantiu não ter envolvimento com o narcotráfico, como afirmou à Folha o deputado federal Padre Roque (PT-PR), membro da CPI das Drogas. Segundo o advogado, a informação consta de um contrato entre Paolicchi e ele. ‘‘Estabeleci em contrato que ele estava me informando não ter nenhuma ligação com o narcotráfico ou com o tráfico, o que seria condição para rompermos o contrato. Ele reafirmou essa posição e confio nele’’, alegou. À Folha, Padre Roque disse que Paolicchi está sendo investigado pela CPI desde o final do ano passado. ‘‘O Padre Roque é bem-intencionado, mas acredita em fantasmas’’, ironizou Pacheco.

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