A Polícia Civil prendeu temporariamente o médico ginecologista e obstetra Felipe Sá Ferreira, 40, por suspeita de ter praticado os crimes de violação sexual mediante fraude, importunação sexual e tentativa de estupro de vulnerável em um episódio envolvendo hipnose. O médico foi preso na última quinta (15) no consultório dele, em Maringá (Noroeste).
De acordo com o delegado Dimitri Tostes, as vítimas são três pacientes mulheres com idades entre 26 e 35 anos, e os crimes relatados pelas vítimas ocorreram entre 2021 e 2022.
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Procurado pela reportagem, o advogado Leonardo Batistella, responsável pela defesa do médico, divulgou uma nota nesta segunda (19). "Não tive acesso a todas as provas ainda, mas as alegações não condizem com o histórico profissional do dr. Felipe. No mais, todos os elementos da defesa serão apresentados no curso do processo judicial."
A prisão é válida por 30 dias e poderá ser prorrogada. Ele foi levado para a cadeia pública de Maringá.
Após a prisão, na última quinta (15), outras mulheres entraram em contato com a polícia. "Possivelmente teremos pelo menos dez relatos de vítimas", disse o delegado à Folha, na sexta (16).
Em nota, o CRM-PR (Conselho Regional de Medicina do Paraná) afirma que instaurou um procedimento para apurar "possível desvio ético cometido pelo médico" a partir do que está sendo divulgado pela imprensa. O médico está regularmente inscrito no órgão desde fevereiro de 2011.
"Como determina o Código de Processo Ético-Profissional, o trâmite ocorre sob sigilo, assegurando-se os requisitos de contraditório e ampla defesa", acrescenta a nota.
A polícia também cumpriu mandados de busca e apreensão na casa e no consultório do suspeito. Foram apreendidos o celular pessoal do médico e dois computadores, que serão encaminhados para perícia. Segundo o delegado do caso, o médico forneceu a senha do celular aos investigadores.
De acordo com o delegado, Ferreira "tinha um discurso para cativar as mulheres".
"Antes mesmo dos exames, ele abordava a temática do empoderamento feminino, da desconstrução, do papel da mulher na sociedade, para criar um acesso às mulheres, para elas sentirem confiança nele", disse.
Ele conta que as três mulheres começaram a conversar sobre o comportamento do médico e resolveram entrar em contato com a delegacia no final do ano passado para relatar os episódios.
"Tinham medo de serem desacreditadas, mas elas começaram a compartilhar os casos entre elas e, uma encorajando a outra, tiveram a iniciativa de procurar a delegacia", diz o delegado.
Segundo o investigador, houve "estupro de vulnerável na forma tentada" quando o médico se utilizou de hipnose em uma das mulheres para "diminuir o discernimento da paciente".
"Em uma das vítimas ele tentou empregar hipnologia, para reduzir a capacidade de compreensão dela. E aí passou a pedir para que ela se tocasse sexualmente", afirma o delegado.
"Em outros casos, a pretexto de realizar exame ginecológico, ele passava a estimular a zona sexual dela sem qualquer tipo de prévio aviso", diz o delegado, em relação ao crime de violação sexual mediante fraude.
"[Ouvimos também] uma quarta mulher, que também falou de massagem na zona sexual, sem aviso, sem relação com a finalidade do exame."
Em relação ao crime de importunação sexual, o delegado diz que o médico pediu para que a vítima mostrasse os seios por 12 vezes, sem que isso tivesse vínculo com o exame.
O investigador também afirma que, além das declarações das mulheres, há registro de mensagens do médico enviadas a uma paciente. "Ele tentou uma aproximação sexual via rede social, falando que tinha sonhos picantes", afirma o delegado.
CANDIDATO A DEPUTADO
Em 2022, Ferreira foi candidato a deputado federal pelo partido Novo no ano passado, mas não se elegeu. Ele obteve 2.516 votos.
De acordo com informações disponíveis no site do consultório, Ferreira é formado pela UFG (Universidade Federal de Goiás), especialista em ginecologia e obstetrícia pela UEM (Universidade Estadual de Maringá) e já foi professor em faculdades.
A página informa, ainda, que ele é mestre pela Faculdade de Saúde Pública da USP e trabalha há mais de uma década em Maringá e região.
No site, ele diz defender a "humanização da ginecologia e obstetrícia".
"Não há mais espaço para o paternalismo médico, onde a figura do doutor é a mais importante, passando muitas vezes por cima da autonomia da mulher, sob seus desejos, seu corpo e autoconhecimento", diz o texto.