"Sou um intérprete, só interpreto o que sinto, porisso que não faço jingles". A franqueza de Alecir Carrigo é impulsionada pelo amor que ele tem pela música, especialmente pelo fandango. Nascido em Antonina, cresceu ouvindo histórias e lendas de Paranaguá contadas pelo avô, ao mesmo tempo que tocava violão, com afinação de viola caipira. Ao ouvir Tião Carreiro deixou o violão, tornou-se exímio violeiro caipira e, integrado à essa arte, gravou o CD "Vida Caiçara".
O disco foi lançado sábado em Curitiba sem show e sem palco. Carrigo escolheu o estúdio da Rádio Educativa FM 97.1 para mostrar ao público na íntegra as faixas do CD. O batismo aconteceu às 16 horas, no programa apropriadamente intitulado de "Lançamento". Antes, porém, deu uma prévia aos ouvintes do "Som Nativo", na Educativa AM. "Essa é uma rádio que sempre ajudou não só a mim mas também a outras pessoas. Ali eu me sinto em casa", confidenciou.
"Vida Caiçara" começou a ser concebido na década de 80, quando Carrigo ainda era o Alecir de Antonina. Prefere o sobrenome por questões afetivas, que vão fundo nas raízes impregnadas de sons, areia e mar. Obviamente seria um LP e iria se chamar "Meu Naturá". O tempo passou, os planos se alteraram mas a capa permaneceu a mesma: a foto de um barco preso às águas, por uma velha corrente. O registro foi feito pelo artista plástico Eduardo Nascimento.
A simbologia com o litoral é forte, mas o artista deixou o universo interiorano para viver nas capitais. Passou alguns anos no Rio de Janeiro, há tempos mora em Curitiba. Apesar de sua produção ser voltada ao mundo e às cores do fandango, ainda assim há outras interferências. Carrigo discorre sobre as vertentes musicais que o atingem:
- Sou compositor fandangueiro, mas como diz a jornalista Adélia Lopes, sou urbano. Não nego a minha urbanidade, sou contemporâneo dos Beatles, e isso foi uma coisa muito forte e decisiva na minha vida. Sempre cito meu orgulho de ter sido de Antonina e ter conhecido a musicalidade dos Beatles. Então meu trabalho não poderia ser simplesmente aquele caiçarinha, tocando daquele jeito. Seria um mentiroso se assim me expressasse.
A ancestralidade dos tocadores une-se ao talento nato do instrumentista. Desse encontro de águas surgem as composições carregadas pelas memórias de infância, e dos causos ouvidos dos mestres fandangueiros nos tempos em que se dedicou à pesquisa.
Carrigo deu o nome de "afandangado" aos ritmos que ele cria. "Dei esse nome porque tem uma contemporaneidade, uma proposta mais moderna em termos de concepção, de harmonia e de arranjos, sem perder a essência do fandango. É a minha leitura".
"Vida Caiçara", CD do compositor e violeiro caipira Alecir Carrigo. À venda na loja Savarin. Contatos para shows: Carrigo (41) 352-6417.