Em janeiro passado, numa sexta-feira calorenta no Rio de Janeiro, os principais executivos da operadora espanhola Telefónica e da Portugal Telecom se reuniram com a imprensa no Copacabana Palace para anunciar que iriam fundir suas operações de telefonia móvel no Brasil. A aliança deverá formar a maior operadora de celulares da América do Sul, avaliada em 10 bilhões de dólares. Terá uma fatia de 9,3 milhões dos 23 milhões de usuários de telefones móveis do Brasil.
O anúncio reforçou boatos no mercado de que as duas empresas poderiam estar negociando a união não apenas das operações de telefonia celular no Brasil, mas de todos os seus ativos. Oficialmente, os executivos das empresas desmentem qualquer negociação. "Isso não tem fundamento. Nosso acordo com a Telefónica é apenas no negócio de celulares no Brasil", disse a Ponto-com Francisco Murteira Nabo, presidente da PT Telecom. "Outro dia fui almoçar com o Michel Bon, presidente da France Télécom, e logo a imprensa começou a dizer que estávamos negociando uma fusão com a operadora francesa."
Mas os boatos, além de negativas das empresas, suscitaram também a pergunta: faz sentido uma união entre as duas empresas ibéricas? Até gente de dentro de casa acredita que sim. "Uma fusão faz sentido porque as participações cruzadas entre as duas empresa vêm aumentando e o negócio traria economias de escala", diz um executivo do Grupo Telefónica.
De fato, as relações entre portugueses e espanhóis têm se estreitado. Além da união no ramo de telefonia celular no Brasil, eles são sócios, por exemplo, na telefônica gaúcha CRT. Havia também boatos fortes no mercado de que o portal Terra, da Telefónica, estaria negociando a compra do Zip.net, no qual a PT tem uma participação. O Zip.net acabou se associando ao Universo Online (UOL), dos grupos Abril e Folha, mas a diretoria do Terra nunca desmentiu as negociações com o portal ligado à PT. "Não comentamos esse assunto", disse Marcelo Lacerda, diretor-executivo do Terra no Brasil, pouco antes do anúncio da união entre UOL e Zip.net.
Juntas, a Telefónica e a PT formariam um gigante difícil de ser derrotado nos mercados de língua portuguesa e espanhola. Um gigante com faturamento anual de 35 bilhões de dólares (pelo balanço de 2000), valor de mercado de 62,3 bilhões de dólares e 77 milhões de clientes (veja quadro abaixo). As duas empresas também controlariam empresas como a Emergia, de redes de fibra óptica, o portal global Terra Lycos, e a Telesp Celular, a maior do ramo no Brasil. Na Internet brasileira, formaria-se uma associação ao mesmo tempo esdrúxula e poderosa. Os dois maiores concorrentes no negócio de portais, o UOL (do qual a PT se tornou sócia por causa da associação com o Zip.net) e o Terra (da Telefónica), passariam a fazer parte do mesmo grupo empresarial.
Mas alguns analistas acreditam que esse gigante pode nunca chegar a existir. "As antigas operadoras estatais européias, antes donas de monopólios, se lançaram numa cruzada de aquisições para se tornarem mais competitivas após a abertura de seus mercados locais", diz o analista Patrick Cormack, da consultoria Guzman & Co. "Agora elas estão mais preocupadas em arrumar a casa, especialmente em diminuir as dívidas contraídas com as aquisições, do que em fazer novas aquisições ou fusões." Isso é especialmente verdade no caso da Telefónica, que, após a era de aquisições agressivas de Juan Villalonga, tem dívidas de 51,1 bilhões de dólares, quantia que equivale a 97,5% de seu valor de mercado, de 52,4 bilhões de dólares. Para comparar, outras operadoras européias consideradas bastante endividadas, como a France Télécom e a Deutsche Telekom, têm respectivamente dívidas de 56 bilhões de dólares, ou 60% do valor de mercado, e 53 bilhões de dólares, ou 51% do valor de mercado. A Portugal Telecom está endividada em 9,5 bilhões de dólares, para um valor de mercado de 9,9 bilhões.
Diante desses fatos, a fusão sai ou não sai? Ninguém parece querer arriscar um palpite - talvez nem executivos das duas empresas. "É sabido que as operadoras pretendem cooperar em telefonia celular no Brasil", diz Chi Chan, analista do escritório londrino do banco Credit Suisse First Boston. "Se elas vão fundir todas as operações, é uma outra história. Não podemos comentar esse assunto."
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