Cerca de 580 sem-teto entre homens, mulheres e crianças, invadiram uma área no Jardim da Ordem, em Curitiba, na tarde de sábado. O terreno invadido, de aproximadamente, dois alqueires, fica junto a linha do trem, próxima à Rodovia do Xisto e é de propriedade particular.
Os invasores passaram todo o domingo cortando e queimando gravetos, demarcando seus lotes e construindo barracas cobertas com lona e cobertores de lã. "A nossa idéia não é ficar aqui de graça e, tampouco, estamos destruindo árvores. Somente estamos fazendo gravetos para podermos limpar a área e montarmos nossas barracas. Na realidade não temos condições de pagar aluguel. Existem pessoas aqui que estão na fila da Cohab (Companhia de Habitação de Curitiba) há cinco anos e até agora nada. Queremos negociar com eles", disse Rogério dos Santos. Desempregado, ele levou a mulher e os quatro filhos para a área e disse não pretender sair do local.
Entre todos as pessoas que estavam no terreno, sempre a mesma reclamação. A demora da Cohab em chamar os inscritos em seu sistema de venda de lotes e casas.
"Resolvi invadir porque não tenho onde morar. Vivo na casa de uma amiga, com quatro filhos e estou desempregada", contou Valdirene Aparecida dos Santos. Segundo ela, a idéia da invasão surgiu num loteamento que que fica próximo à área e ninguém sabe quem teve a iniciativa.
A presença da Polícia Militar até as 19 horas de ontem era tímida. Havia dois carros da PM, com cerca de oito homens, na beira da estrada de terra que liga a Rodovia do Xisto ao local da invasão. Segundo o tenente da PM, identificado apenas por Mota, a informação que eles tinham era de que a prefeitura já sabia da invasão. "O que sabemos é que existem umas 300 pessoas e que há muitas crianças lá. Não pretendemos tomar nenhuma atitude para tirá-las", garantiu.
Apesar da afirmação do tenente de que a polícia não tomaria nenhuma atitude para retirar as famílias, o clima no acampamento era de tensão. "Espera anoitecer para ver como eles vêm nos tirar daqui. Não é a primeira vez que há invasões nessa região e eles sempre batem no povo", disse Alex de Lima, desempregado que resolveu aderir ao movimento de invasão por desespero. "Tenho mulher e dois filhos para criar. Não posso viver na rua. Desse jeito pode ser que a prefeitura faça alguma coisa para nos ajudar."