Paraná

Cirurgia reduz efeitos do Mal de Parkinson

20 mai 2001 às 17:27

A cura ainda não foi descoberta, mas uma cirurgia pode dar aos portadores do mal de Parkinson a esperança de reduzir os efeitos da doença. Caracterizada pela degeneração de células de uma região do cérebro, a doença de Parkinson afeta principalmente os sintomas motores. As causas desse processo ainda são desconhecidas. No entanto, essa nova cirurgia - que já é desenvolvida no Paraná - inibe esses efeitos e devolve ao paciente a capacidade de realizar tarefas antes consideradas penosas.

Trata-se de uma intervenção na região do cérebro conhecida como substância negra, afetada pela doença de Parkinson. A cirurgia interrompe uma "conexão" do cérebro e devolve o equilíbrio motor ao paciente. Pioneiro na realização dessa cirurgia no Paraná, o neurocirurgião Murilo de Meneses conta que já operou cerca de 150 portadores da doença e que a melhora ocorreu em 100% dos casos. "A cirurgia reverte os sintomas, mais ainda não pode ser considerada a cura", alerta o médico.


Meneses explica que a doença é progressiva e invalidante. Quando os sintomas começam a aparecer, revela, a enfermidade já está bem avançada. O problema é que o diagnóstico não é simples de ser realizado e apenas quando os tremores começam, o mal Parkinson torna-se perceptivo. Além dos problemas motores, há também sintomas como alterações emocionais, de memória, comprometimento da mastigação e do funcionamento do intestino, fatores que interferem na qualidade de vida do paciente.


Esses sintomas aparecem porque alguns neurônios da substância negra do cérebro morrem ou deixam de funcionar, deixando de produzir uma substância chamada dopanima. A dopanima atua como um mensageiro da estrutura motora do cérebro e quando ela é danificada, causa tremores nas mãos, pés, queixo e mandíbulas, rigidez muscular, redução de movimentos e distúrbios de equilíbrio. Segundo Meneses, antes mesmo do distúrbio de movimento começar, a pessoa fica depressiva, tem dificuldade em realizar tarefas simples e de expressar algumas reações.


Existem diversos estudos para identificar as causas da doença, mas essas causas ainda são uma incógnita para os especialistas, assim como a cura definitiva. O tratamento é realizado por meio de remédios que estimulam a produção de dopamina e agora por meio de intervenção cirúrgica. Existem pelo menos três formas de intervenções.


Além da cirurgia que interrompe a conexão dos neurônios, conforme explica Meneses, há também outras duas formas de cirurgia capazes de reduzir pelo menos os tremores dos pacientes, mas ambas ainda não são desenvolvidas com frequência.


Uma delas utiliza transplante de células de feto e é realizada raramente por questões éticas. "Os resultados são satisfatórios, mas poucos centros do mundo realizam essa cirurgia porque geralmente os fetos são resultado de abortos", explica. Uma opção é a cultura dessas células e Meneses já obteve autorização do Conselho Regional de Medicina (CRM) para desenvolver essa técnica no Paraná.


A outra cirurgia que vem obtendo êxito na reversão dos sintomas do mal de Parkinson é a utilização de um marcapasso, que ao contrário de coagular uma parte do cérebro, como acontece na cirurgia realizada atualmente, utiliza um eletrodo para monitorar os movimentos. "Esse é o melhor método, a única desvantangem é o custo e a manutenção, já que o aparelho deve ser trocado a cada três anos", esclarece Meneses.


Detalhes dessa cirurgia, bem como as mais recentes descobertas sobre o mal de Parkinson serão revelados no livro "Doença de Parkinson", de autoria de Meneses. O livro será lançado no segundo semestre, pela editora Guanabara Koogam.


Famosos


Personalidades como o papa João Paulo II, o ex-campeão de box Muhammad Ali e o ator Michael J. Fox -que fez sucesso com a trilogia "De Volta para o Futuro" nos anos 80- são portadoras do mal de Parkinson. Em Curitiba, uma importante personalidade convive com a doença há 23 anos. Osni Bermudes foi pioneiro na história do rádio e da televisão no Estado. Descobriu a doença aos 45 anos, mas continuou trabalhando até os 60, quando se aposentou. A doença, no entanto, não interrompeu o seu desempenho no trabalho.


Hoje, Bermudes está com 67 anos, desenvolve poucas atividades, fala pouco e já está com parte da memória afetada. No entanto, a mulher dele, Helena Maria Bermudes, conta que o tratamento ininterrupto da doença foi fundamental. "Ele também fez fisioterapia, mas cansava muito, então optou pela jardinagem", comenta Helena.


Ela diz que encontrou no Paraná, o tratamento adequado para Bermudes e agradece aos especialistas que o trataram. "Cumprimos tudo o que nos mandaram fazer e certamente isso contribuiu para que ele continuasse suas atividades", revela.


Bermudes criou as traquitanas, bonecos animados utilizados para fazer as primeiras vinhetas da televisão. Ele também fez parte do cenário da comunicação do Estado e sua história se confunde com a própria história do rádio e da tevê paranaense. Ele tem um raro acervo de equipamentos utilizado desde a década de 50. Parte desse acervo pode ser vista no Vintage Café, no centro de Curitiba. O restaurante é uma homenagem do filho de Bermudes, Gilberto Gil Bermudes e de Marcelo Marcondes e reproduz o cenário da história da comunicação no Paraná.


Apesar de não existir um levantamento dos portadores do mal de Parkinson no Brasil, a Sociedade Brasil Parkinson (SBP), com sede em São Paulo, estima que pelo menos 200 mil brasileiros tenham a doença. O índice é baseado em pesquisa internacional, que aponta que 1% das pessoas acima de 60 anos são portadores da enfermidade. Embora o mal de Parkinson prevaleça em pessoas idosas, jovens também podem desenvolvê-lo. Em ambos os casos, a doença tem uma consequencia ainda maior que os seus sintomas: a tendência ao isolamento social.


Quem faz o alerta é a coordenadora geral da SPB, Teresa Freitas. Ela explica que a associação foi criada há quinze anos justamente com o objetivo de informar aos portadores as possibilidades de tratamento e de atividades que possam garantir a qualidade de vida do paciente. O ideal, segundo ela, é que a pessoa não interrompa suas atividades cotidianas e mantenha o convívio social.


O isolamento é favorecido quando a doença já está bem avançada e os tremores causados pela lesão no cérebro são incontroláveis. Segundo especialistas esses tremores aumentam com a ansiedade do paciente. "Nesses casos, a terapia pode ajudar e a fisioterapia é fundamental", revela Teresa.


A Sociedade Brasil Parkinson presta todas as informações sobre a doença, assim como divulga os avanços no tratamento. Ainda assim é pouco conhecida pelos portadores. Apenas cerca de três mil pessoas são associadas, 65 delas no Paraná.

Para receber maiores informações sobre a entidade, basta acessar o site www.parkinson.org.br ou ligar para (0xx11) 578 8177.


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