Em cerca de 30 dias, o bancário Maurício Meyer, acusado de matar a mulher e queimar o corpo numa churrasqueira, poderá ser colocado em liberdade. Ele foi julgado anteontem no 2º Tribunal do Júri, com sede em Curitiba, e condenado a oito anos de prisão, por homicídio privilegiado, em regime semi-aberto. Como já ficou preso um ano e sete meses - o que corresponde a mais de um sexto da pena sentenciada - poderá ter progressão do regime. O julgamento durou mais de 12 horas.
A família da vítima, Josiane Schustak Meyer, ficou chocada com o resultado. "Recebemos essa notícia com muita surpresa e tristeza", afirmou Marcelo da Cruz, primo de Josiane. Ele acompanhou todo o julgamento e disse ter tido a impressão de que não era o Maurício que estava sendo julgado e sim a vítima. O depoimento da maioria das testemunhas acusou Josiane de comportamento agressivo. "Por mais que ela fosse nervosa, não justifica o que ele fez", desabafou ela.
Cruz criticou a atuação do promotor público, Cassio Roberto Chastalo, dizendo que "faltou maior desempenho". Ele questiona o fato de que nem mesmo a destruição do corpo foi considerada na condenação. "Teve muitos pontos que não foram muito bem explicados." Cruz não descartou a possibilidade da família pedir anulação do julgamento. "Estamos dicutindo o assunto."
De acordo com o Cartório da 2ª Vara do Tribunal do Júri, o juiz João Kopytowski deu "suspensão condicional" para o crime destruição do cadáver, baseado na lei nº 9.009. A pena só incidirá, caso Meyer cometa delito semelhante, num prazo de cinco anos. A possibilidade de anulação só é considerada se forem apresentadas provas contundentes contra o réu, num prazo de cinco dias. Já as provas a favor do acusado podem apresentadas a qualquer momento.
O bancário Maurício Meyer chorou ao ver as fotos dos filhos, apresentadas pelo advogado de defesa, durante o julgamento. Nas mais de três horas que durou seu depoimento, Meyer disse que não havia premeditado o assassinato da mulher, Josiane Meyer. O bancário afirmou que ela era agressiva e que apenas tentou se defender.
Meyer contou que no dia 13 de setembro de 1999, tinha deixado os filhos na escola e voltou para a casa. Josiane teria o seguido até o quarto e o ameaçado com uma faca, atingindo-o no ombro direito. O bancário afirmou que tentou se defender e apanhou um martelo que estaria sob a cama. Quando ela tentava investir novamente, direcionou o martelo para a mão dela para desarmá-la. Na hora, Josiane teria abaixado a cabeça, onde foi atingida. Mesmo ferida, ela teria continuado a atacá-lo. "O martelo escapou da minha mão, não sei se bateu nela ou não", disse Meyer. Ele disse não saber quantas vezes atingiu a mulher.
Perguntado pelo juiz sobre o que pensou na hora, Meyer afirmou: "eu achei que ela estava sendo injusta". Quando percebeu que Josiane estava morta, ele disse só ter pensado nos filhos e escondeu o corpo na churrasqueira. "Eu não aceitava aquela situação. Fui tomado de desespero total", disse. Depois juntou lençóis e fronhas sujos de sangue, jogou álcool e riscou um fósforo.