Angela Rô Rô chegou aos 50 anos e descortinou um novo mundo. Os excessos ficaram no passado e o presente sinaliza um futuro mais tranquilo, com todas as possibilidades que ele pode oferecer. Cautelosa, a artista não quer desfraldar bandeiras nem soltar rojões, mas está confessadamente satisfeita consigo mesma. Essa nova Rô Rô é a que o público verá esta noite no bar Era Só O Que Faltava, a partir das 22 horas.
No programa estarão alguns dos seus grandes sucessos ao lado de clássicos jazzísticos como "As time goes by". Mas o reencontro com os fãs acontece mesmo quando a cantora puxa o fio de seus sucessos e manda à platéia suas confissões mais românticas, como "Amor, meu grande amor", "A mim e a ninguém mais", "Só nos resta viver".
A platéia do Era Só O Que Faltava - que se espera faça silêncio, ao contrário do que aconteceu com a estréia de Cida Moreira - terá assim contato com o repertório do novo CD da artista, que está sendo lançado pela Jam Music. Depois de sete anos fora dos estúdios - o último foi ao vivo pela Som Livre -, vem aí um disco onde o jazz e as suas próprias composições estarão harmonizados, traduzidos pela voz rouca da intérprete.
Com certeza terá uma série de viagens para divulgação do trabalho, e isso também faz parte dos lucros que a vida está trazendo. Mas Angela Rô Rô não vai ficar por muito tempo sob as asas da gravadora, que já marcou o dia 16 de dezembro para uma sessão na casa Tom Brasil, em São Paulo.
Inquieta, dará continuidade aos shows que realiza pelo Brasil, como este que leva hoje em Curitiba. Aliás, ela mesma diz que o espetáculo não se restringirá à época do lançamento. Ele vai existir indefinidamente, porque tem as características de uma récita que não sofre o desgaste do tempo.
Enquanto planos e projetos têm andamento, Angela Rô Rô vive aquilo que ela chama de "um grande milagre". A diferença à primeira vista está nos 33 quilos a menos que ostenta orgulhosamente. Feliz com a vitória, diz que vai se desfazer de mais uns dez.
Mas, o melhor de tudo, está nas linhas invisíveis de sua escrita existencial: há menos de um ano saiu do poço de todos os vícios que carregava. Largou das drogas, da bebida e do cigarro. Tudo de uma vez. "Eu era a única ruína cultural deste país que ninguém visitava", brinca. Fora desses sufocos descobriu o grande lance que é viver:
- Acordei para algumas coisas, mas não quero acordar para outras, senão me torno executiva, ao invés de poeta. Hoje o palco para mim tem sabor. Não importa se bom ou ruim, mas é o sabor da vida. Antes eu estava anestesiada.
A porta que se abriu aos 50 anos, depois de uma década de total abandono de si mesma - foi quando atirou-se à parede, sem proteção alguma - trouxe-lhe outros entendimentos, como o valor que ela dá a essa oportunidade da existência. "Preciso demais dessa porta aberta", confessa. "Quero encarar a terceira idade com muitas coisas boas, muita curtição, muito trabalho".
As doidices do passado deixaram uma "bagagem pesada". Mas se episódios ruins aconteceram foi porque a artista não era, realmente, aquilo que aparentava. "Sempre fui tímida, banana, medrosa. Daí fiz a figura de corajosa". Uma fachada que tinha por princípio a proteção, deixou-a mais desprotegida. Até que a máscara caiu e Angela se viu, de repente, perante uma suavidade que seus olhos não percebiam.
Na fase aguda do desgosto, perdeu a mãe. Apesar de estar muito doente, já à beira da morte, a mulher tinha a voz límpida, forte, perfeita. Era o sinal evidente de sua fibra; e com certeza ela ajudou a filha a reerguer-se. "Se fiquei nove meses na barriga de mamãe, por que não carregá-la em mim por toda a eternidade?", indaga Angela, devidamente emocionada, tomando água mineral.
Serviço: Angela Rô Rô no bar Era Só O Que Faltava (Avenida República Argentina, 1334, telefone 342-0826), hoje, a partir das 22 horas. Ingressos: R$ 5,00. Mesas serão vendidas antecipadas (preços a combinar).