Não se espera que o novo papa rompa com a visão da Igreja Católica sobre o divórcio, o aborto ou relações entre pessoas de mesmo sexo. Mas o tom da discussão entre os cardeais às vésperas do conclave é de mudança, segundo vaticanistas.
"Os cardeais estão descontentes com a administração da igreja. O Vaticano está em meio a muitos escândalos, como Vatileaks (documentos confidenciais do Vaticano vazados à imprensa) e a recente renúncia do cadeal escocês (Keith O'Brien, que admitiu ter assediado sexualmente jovens padres)", disse o vaticanista americano Robert Mickens, em entrevista à BBC Brasil.
Em Roma acompanhando o conclave, o autor do livro The Vatican Implosion (A Implosão do Vaticano) diz que neste momento os cardeais ainda buscam "o canidato certo". O anúncio do Vaticano de que o Conclave terá início na próxima terça-feira, 12, se deu em um dia de garoa e céu encoberto em Roma. Dentro do Vaticano, na chamada Congregação Geral, o tempo parece ter clareado, e haveria transparência nas discussões, segundo relatos da reunião vazados à impresa italiana.
A pressão é por uma reforma na Cúria. O corpo administrativo da igreja foi, nos últimos tempos, permeado por escândalos de ordem financeira e sexual. A perda de controle da situação teria motivado a renúncia de Bento 16.
"A discussão sobre tudo isso foi franca, embora fraterna", relatou o jornal La Stampa, sobre a reunião de sexta-feira. "Vários cardeais de peso têm abordado a questão sem rodeios, pedindo informações sobre o Vatileaks, falando sobre a necessidade de uma mudança de direção na gestão da Cúria e do Secretário de Estado desde o último período".
Segundo o autor do texto, o vaticanista Andrea Tornielli, quem quer que seja o eleito, o novo papa não poderá ignorar a pressão de reforma, mesmo que seja um candidato ligado aos cardeais da atual Cúria, as quais não interessaria as reformas.
Quanto tempo durará o conclave?
"Será um conclave rápido", arrisca o vaticanista Giacomo Galeazzi, em conversa com a BBC Brasil.
"Depois de tanto escândalo, a Igreja vai querer mostrar união e os cardeais vão tentar escolher um papa o mais rápido possível", disse.
A opinião de Galeazzi, no entanto, não é consensual. Robert Mickens diz que "será um conclave mais longo do que o últimos". "Não há candidatos realmente favoritos. Eles levarão tempo para chegar a um nome, em meio às divisões entre os cardeais próximos à Curia e os que querem reforma", disse.
O conclave que elegeu Bento 16 durou apenas dois dias, mas à ocasião o então cardeal Joseph Ratzinger exercia grande liderança entre seus pares e era visto como um dos favoritos.
A expectativa também era de um papado curto, após três décadas de João Paulo 2 no poder. O contexto agora é diferente. O certo, no entanto, é que a duração do conclave ou o nome do papa são apenas especulações. Os dois vaticanistas ouvidos pela reportagem dizem que Dom Odilo Scherer, de São Paulo, é um candidato com grande potencial.
O cardeal brasileiro é membro do comitê do IOR (Instituto de Obras da Religião), o nome oficial do Banco Vaticano. Ele teria trânsito entre a Cúria e é latino-americano, com ascendência alemã.
O jornal La Repubblica publicou artigo dizendo que neste momento, no entanto, o favorito entre os cardeais é Angelo Scola, arcebispo de Milão.