Londrina

Escolas fecham laboratórios de informática

22 ago 2003 às 19:47

No Colégio Estadual Professor Paulo Freire (zona sul de Londrina) apenas dois computadores - eram três mas um foi para a secretaria - reinam solitários sobre dezenas de cadeiras e bancos de madeira em um simulacro de laboratório de informática. A sala, construída há quatro anos, aguarda até hoje o resto das máquinas prometidas pelo governo do Estado.

Do outro lado da cidade, no conjunto Luís de Sá (zona norte), a situação é ainda pior. Doze computadores completos, que até maio atendiam 1,5 mil estudantes do Colégio Estadual Ubedulha de Oliveira, estão trancados por falta de dinheiro. As duas situações refletem o sucateamento do sistema. Diante do quadro, o governo do Estado está fazendo uma mapeamento das escolas para propor mudanças na forma de administrar os laboratórios.

Na escola da zona norte, o que mantinha o computadores funcionando - já que não há verba específica para manutenção de máquinas - era uma parceria com um ex-aluno. Ele ficou responsável pela manutenção das máquinas e cobrava serviços de impressão, internet e dava alguns cursos de infomática básica para a comunidade.


Parte do valor era repassado a Associação de Pais e Mestres (APM) a título de aluguel. No início do ano, porém, uma determinação estadual proibiu esse tipo de acordo, considerado comercial por gerar lucro. A escola fechou as portas do laboratório.

''Não temos condições financeiras de manter os computadores e nem professores para lidar com o equipamento'', comenta o vice-diretor Claudinei Ferreira do Nascimento. Segundo ele, o laboratório também prestava serviços a pais de alunos. ''A comunidade também perdeu, pois esse tipo de serviço (internet e impressão) não é comum na região'', diz.

Quem reclama mais são os alunos, que já tinham se acostumado com as ferramentas de pesquisa possibilitadas pela informática. ''Usava para fazer trabalho e fiz um curso básico na escola. Mas, pelo menos, eu ainda tenho computador em casa, pior quem não tem'', afirma o estudante Lucas Henrique Matias da Silva, 14 anos.


É esse o caso da maioria dos alunos do colégio, inclusive a estudante Greicieli da Veiga, 13 anos. ''A gente usava bastante para fazer pesquisa, digitar trabalhos e usar a internet. Agora tem que escrever na mão, o que é um absurdo. Hoje, o mercado de trabalho exige conhecimento em informática e nem todo mundo tem o privilégio de ter um computador em casa'', reclama. Ela também lamenta ter perdido a chance de ter um e mail. O cadastramento de todos os alunos em endereço eletrônico estava para começar quando o laboratório foi fechado.


Além da falta de dinheiro para manutenção, há o problema da falta de máquinas. No Colégio Estadual Paulo Freire, por exemplo, apenas dois computadores atendem uma demanda de 860 alunos. ''Não tem como colocar uma turma de 40 alunos para dois computadores. Só alguns professores se aventuram'', afirma o diretor Paulo César Zanoni. Por falta de uso, o laboratório de informática acabou virando auditório. ''Fazemos reuniões e o espaço é também usado para aulas de reforço'', conta.

O chefe do Núcleo Regional de Ensino (NRE), Rony dos Santos Alves, não só admite os problemas como aponta outro: a falta de capacitação dos professores para trabalhar com informática. ''O governo anterior fez salas mas não equipou. Na verdade, nem as secretarias (das escolas) tem máquinas suficientes para trabalhar'', afirma.

Segundo ele, a disposição da Secretaria de Estado da Educação em proibir a realização de parcerias objetiva a reestruturação do sistema. ''Os NREs estão levantando a situação nas escolas para depois promover a aquisição de máquinas'', diz. Segundo ele, a verbas estão previstas para o orçamento do ano que vem.

Alves afirma também que o governo está estudando o repasse de verbas para manutenção dos equipamentos e que o processo de capacitação já começou. ''Na próxima segunda-feira começa um curso de capacitação para os professores da rede'', afirma.

A funcionária do NRE responsável pelo levantamento das escolas estava em viagem de trabalho e não foi possível levantar o número de escolas estaduais que mantém laboratórios em Londrina.


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