A campanha do candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, sofreu um revés a dois dias da eleição presidencial. O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, declarou ontem que não votará no tucano e liberou correligionários de seu partido para apoiarem o candidato que desejarem.
O PTB, ao lado do DEM e do PPS, era um dos principais partidos aliados aos tucanos na corrida presidencial. O apoio ao PSDB, referendado em convenção em junho, serviu principalmente para engordar o tempo de TV do presidenciável – o apoio do partido rendeu 46 segundos por bloco na propaganda de Serra.
"A coisa azedou desde a convenção. Eu não quero mais. Quem joga sozinho perde sozinho", declarou Jefferson. Questionado pelo Estado sobre a razão de fazer o anúncio na véspera da eleição, afirmou: "Isso tem de ser feito na hora certa. Reagi na hora que tinha de reagir".
Em caminhada ontem por Osasco, na Grande São Paulo, Serra evitou comentar. Disse que não tinha conhecimento do assunto e que estava sabendo do tema pelos próprios jornalistas que o acompanhavam.
Roberto Jefferson fez o anúncio ontem no Twitter: "Como presidente do PTB, libero meus companheiros a escolherem seu candidato a presidente do Brasil". Aproveitou para anunciar que o seu voto para presidente será para Plínio de Arruda Sampaio (PSOL). Também ligou para integrantes do PTB nos Estados para falar sobre sua decisão.
No final da tarde, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra (PE), telefonou para Jefferson para tentar apaziguar a situação. Não adiantou. "Faz algum tempo que Roberto vem sustentando divergências. Considero ele um líder de muita qualidade", disse o presidente tucano.
Indagado sobre a repercussão que o anúncio de Jefferson poderia ter na campanha do PSDB, Sergio Guerra afirmou que "não necessariamente" haverá perdas de votos para o candidato.
Durante a campanha, a relação de José Serra com alguns líderes de partidos aliados se deteriorou. O candidato chegou a bater boca por telefone com o presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), em razão de uma declaração do aliado a um jornal.
Jefferson também já havia manifestado sua insatisfação com os rumos da campanha e com a forma como o candidato não defendia seu apoio publicamente. "Ele ficava constrangido em dizer que tinha meu apoio", disse. A participação de Serra no Jornal Nacional, em agosto, quando foi questionado sobre o apoio de Jefferson e disse que "não tinha compromisso com erro", também incomodou o petebista.
Para os tucanos, os desentendimentos com integrantes de legendas aliadas passam pela distribuição de recursos da campanha e pelo fato de Serra estar em desvantagem nas pesquisas de intenção de voto mais recentes – sem a perspectiva de poder, aliados se sentiriam mais livres para costurar o futuro político.
Administração. Serra aproveitou a caminhada para dizer que, se eleito, pretende fazer um governo de "mãos limpas". "Precisamos ter uma administração limpa, sem escândalos, onde não se perca dinheiro com propinas e desperdício. É para utilizar o dinheiro em benefício do povo. Essa é a questão fundamental", disse. Defendeu uma "economia forte" e disse que, se vencer, ampliará a oferta de emprego.
Fez um breve balanço sobre a campanha presidencial. "Tirando a violação da intimidade de família, tirando essas coisas, eu diria que foi bom. Mas, infelizmente, aconteceram esses episódios muito desagradáveis, principalmente de parte do PT", afirmou o candidato em referência aos casos de quebra de sigilo fiscal de pessoas de sua família.
O candidato também comentou o debate de anteontem, na Rede Globo. "Foi um bom debate. Mas debates são sempre engessados. Não dá para ser de outra maneira", declarou Serra.
Durante a visita ao centro de Osasco, o tucano seguiu o script de presidenciável. Acompanhado do candidato a governador de São Paulo pelo PSDB, Geraldo Alckmin, conversou com eleitores, entrou em lojas e até dançou o hit "Ah, muleque". (com informações do jornal O Estado de São Paulo)