Pela sexta vez seguida, desde o fim do regime militar, o Brasil vai hoje às urnas escolher um presidente - e com ele 27 governadores, uma nova Câmara, dois terços do Senado e 27 novas Assembleias Legislativas. São 135,8 milhões de eleitores que, entre 8 e 17 horas, decidirão em 5.565 cidades o futuro do País e de uma multidão de 22.555 candidatos.
Por 12 semanas, os eleitores assistiram - ou não - a uma campanha morna, sem programas e sem emoção, marcada em muitos casos pela ausência de disputa, tal a vantagem do primeiro colocado nas pesquisas.
Esse cenário mudou nos últimos dois dias. Na mais crucial das escolhas, a de quem sucederá os oito anos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o clima de "quase certeza" da vitória de Dilma Rousseff (PT) deu lugar a tensão após a divulgação, ontem à noite, da pesquisa Ibope/Estado/TV Globo. Nos novos números, Dilma teria 51% dos votos válidos, contra 49% dos demais. Só no fim da noite de hoje se saberá, enfim, se as margens de erro lhe garantem evitar o segundo turno.
Situação idêntica ocorreu no maior colégio do País, o de São Paulo, onde votam 30,3 milhões de eleitores, ou 22% do total do Brasil. O tucano Geraldo Alckmin, segundo o Ibope, vive igual incerteza, somando também 51% dos votos válidos.
A campanha deixa, na memória, alguns pontos marcantes. Um deles é que nunca antes um chefe da Nação se envolveu tão ferrenhamente na defesa de seu nome preferido. Outro, que as mulheres são o principal colégio eleitoral, com 70,3 milhões de votos, 5 milhões a mais que os homens. Terceiro, uma discussão rasa dos problemas nacionais, marcada pela despolitização. O que levou o historiador Boris Fausto a constatar: "Acho que o que há é um desencanto mesmo."
Por fim, as eleições revelam um País que avança e se moderniza, mas continua injusto e desigual. Em 61 cidades vai valer um inédito sistema de identificação biométrica dos eleitores. Mas, entre estes, nas 420 mil seções eleitorais, 64 milhões - quase metade - são analfabetos ou têm o 1.º grau incompleto.