A crise argentina já refletiu nas exportações de algumas empresas de Londrina e região. O Brasil, segundo a Câmara de Comércio Exterior (Camex), acumula perdas de US$ 1 bilhão no primeiro trimestre do ano por causa da retração das importações de produtos brasileiros pelo país vizinho.
A Itamaraty Indústria e Comércio S/A suspendeu todas suas exportações de biscoitos para a Argentina. Segundo o diretor comercial da indústria de alimentos de Rolândia, Antonio Chequin, a interrupção dos negócios com o mercado argentino foi provocada principalmente por causa da ‘insegurança’ em relação ao câmbio. ‘Como os negócios são feitos em dólar, os importadores preferiram encerrar as compras por receio de a moeda estar muito cara na hora de liquidar o débito’, comentou.
Chequin disse que a Itamarty contava com um distribuidor exclusivo na Argentina. As exportações de biscoitos, segundo ele, somavam US$ 1,5 milhão/ano. Mesmo com a perda de um cliente, o diretor comercial da indústria informou que a Itamaraty não teve prejuízos. ‘Redirecionamos os negócios para o mercado interno e também para outros países. Contratamos uma pessoa exclusivamente para abrir novos mercados no exterior’, comentou.
A Itamaraty já exporta seus produtos para os Estados Unidos, Japão, Bolívia, Uruguai, Portugal e Inglaterra. Segundo Chequin, o volume exportado pela indústria representa 7% do faturamento. Ele não revelou o volume faturado pela empresa. ‘Mas nosso objetivo é ampliar para 10% ou 15% a participação das exportações nos nossos resultados’, disse.
Outra empresa que também deixou de exportar para a Argentina foi a Simbal Sociedade Industrial Móveis Banron, de Arapongas. Segundo a assistente de Comércio Exterior da Simbal, Lucimar Vieira Tokano, a indústria exportava para os argentinos um volume que variava entre US$ 50 mil e US$ 100 mil por mês. Os embarques eram basicamente compostos por estofados e móveis da linha madeira (estantes, mesas, etc).
As exportações foram suspensas no início do ano e, segundo Lucimar, a indústria teve algumas dificuldades para receber de seus importadores. ‘Os atrasos foram provocados principalmente pelas turbulências no sistema bancário argentino, mas todos os nossos credores acabaram saldando suas dívidas’, afirmou. Lucimar disse que a perda do mercado argentino por causa da crise já foi substituída pelas exportações para os Estados Unidos.
A indústria de agroquímicos Milenia Agro Ciência, de Londrina, também mantém negócios com a Argentina. Mas segundo o diretor para assuntos cooporativos da empresa, Luiz César Guedes, como as vendas para o país vizinho são sazonais (produtos agrícolas dependem da safra), a crise ainda não refletiu nos negócios. ‘Neste primeiro semestre os negócios foram mais fracos.’ Segundo ele, a Milenia exportou em 2000 US$ 6,5 milhões e no ano passado o mesmo volume. Ele também afirmou que a indústria não teve problemas para receber dívidas dos importadores.
‘Mas como o período de implantação de lavouras é mais intenso no segundo semestre, só teremos idéia dos reflexos da crise a partir de junho’, comentou Guedes. O diretor da Milenia observou que como a crise afetou basicamente o poder de consumo da população argentina, a expectativa é de que os negócios com agroquímicos não sintam tanto os reflexos da crise. ‘Como não vendemos produtos para consumidores comuns e sim para produtores, que negociam suas produções em dólar, talvez o reflexo não seja tão grande’, avaliou.