Romances são vidas colocadas entre margens. Entre as quatro linhas da moldura, um pedaço de realidade (ou de sonhos, irrealidades, não importa) é descrito. Nossas existências, grosso modo, são construídas sobre quatro ou cinco situações fundamentais, transformadoras, que acontecem de maneira isolada ou combinada. A descoberta do amor, perda do amor, morte de alguém muito querido, um fato determinante no trabalho, um episódio de sorte ou azar que muda o rumo da vida. O resto, a imensa maioria dos dias, são situações cotidianas, vazias e rotineiras.
Como descrever vidas, literariamente? Talvez o desafio maior para escritores e leitores seja manter-se firme até ultrapassar os momentos em que o texto prepara as situações determinantes. Insisto, como na vida. Viver a sensaboria do cotidiano sem perder a esperança de que algo bom e surpreendente acontecerá.
Quem já leu "Moby Dick" lembra-se de que mesmo as longas e exaustivas descrições da vida no mar, da anatomia das baleias, dos instrumentos de caça, arpões, cordas, velames, do tédio dos dias e dias navegando sem que nada acontecesse. No entanto, não se pode chamar essa rotina de "enchimento", pois tudo está encaixado na narrativa como um todo. Sem esses dias longos e tediosos as batalhas cruciais estariam empobrecidas, a personalidade obsessiva do capitão Ahab e sua determinação em caçar a baleia branca não estariam tão bem caracterizadas.
Há quem diga que Melville fez de "Moby Dick" um romance enciclopédia. Uma boa referencia, mas incompleta. O simbolismo da luta do bem contra o mal, a amostragem de um universo inteiro contido no baleeiro Pequod, com seus personagens representativos dos sentimentos do mundo o tornam, como disse Borges, um "romance infinito."
Se, como queriam os gregos, a arte imita a vida, os romances geniais o fazem de maneira mais bonita possível. Inventam vidas metafóricas que nos permitem aprender com as experiências alheias. Algo como bons mapas que nos sugerem os melhores caminhos, mas não mostram o ponto de chegada.
Esse é por nossa conta e risco.
Como descrever vidas, literariamente? Talvez o desafio maior para escritores e leitores seja manter-se firme até ultrapassar os momentos em que o texto prepara as situações determinantes. Insisto, como na vida. Viver a sensaboria do cotidiano sem perder a esperança de que algo bom e surpreendente acontecerá.
Quem já leu "Moby Dick" lembra-se de que mesmo as longas e exaustivas descrições da vida no mar, da anatomia das baleias, dos instrumentos de caça, arpões, cordas, velames, do tédio dos dias e dias navegando sem que nada acontecesse. No entanto, não se pode chamar essa rotina de "enchimento", pois tudo está encaixado na narrativa como um todo. Sem esses dias longos e tediosos as batalhas cruciais estariam empobrecidas, a personalidade obsessiva do capitão Ahab e sua determinação em caçar a baleia branca não estariam tão bem caracterizadas.
Há quem diga que Melville fez de "Moby Dick" um romance enciclopédia. Uma boa referencia, mas incompleta. O simbolismo da luta do bem contra o mal, a amostragem de um universo inteiro contido no baleeiro Pequod, com seus personagens representativos dos sentimentos do mundo o tornam, como disse Borges, um "romance infinito."
Se, como queriam os gregos, a arte imita a vida, os romances geniais o fazem de maneira mais bonita possível. Inventam vidas metafóricas que nos permitem aprender com as experiências alheias. Algo como bons mapas que nos sugerem os melhores caminhos, mas não mostram o ponto de chegada.
Esse é por nossa conta e risco.