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Um país de livros - Bate-papo com Nils Skåre, de L-Dopa Publicações.

16 dez 2018 às 10:19
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NILS SKÅRE. Guarde bem este nome. Ele é jovem e traduziu os escritores mais cool do planeta. Traduziu H.P. LOVECRAFT, ISAAC ASIMOV. E como se não bastasse, BAUDELAIRE, PHILLIP K. DICK. Pense num escritor muito descolado, e o Nils já traduziu. Nils é cérebro irrequieto, em L-Dopa Publicações.


Nils Skåre autografa seus livros e traduções. O espaço da Editora l-Dopa foi o maior stand da XVI Feira do Livro Editora UFPR 37ª Semana Literária & Feira do Livro SESC.

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Escritor, tradutor, editor. Foram mais de 60 títulos editados, traduzidos e escritos em poucos anos. Esta "força da natureza" escreve todos os dias e mantém um rigoroso padrão de qualidade literária em todos os produtos de sua editora. Nils Skåre é Homem de Letras. Cidadão do mundo. Nascido no Brooklyn (bairro de Nova Iorque/USA), criado na União Européia (Suécia), e radicado em Vila Amélia (bairro de Curitiba/PR). Da casa com floresta irradia literatura, duma maneira que vêm modificando a forma que os leitores vêem o mundo.

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Regina Bostulim é jornalista, poetisa e artista plástica.
(Regina enviou essa matéria para que seja publicada gratuitamente e autorizou a publicação).

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Nils Skåre, 38 anos, é o"ditador espiritual" da prestigiosa L-Dopa Publicações, que vem sendo reconhecida como uma das mais criativas do planeta. A editora se destaca na cena literária global como das mais dinâmicas e arrojadas. E possivelmente galgou a árdua escada da fama por seus métodos editoriais humanitários. Escolhe para editar livros inusitados e fora de catálogo, que são vendidos a cerca de dez reais. A meta: divulgar a cultura, disseminar os clássicos, fazer o livro estar presente na vida das pessoas. Com a palavra, Nils Skåre, editor, tradutor, e, sobretudo, escritor. "Homem de Letras", como ele mesmo se define. "Gentil cavaleiro de brilhante armadura", de ideais ecológicos e budistas, para quem o mais importante é a ética: vem primeiro o ser humano.



Retrato do jovem editor em tempos de chuva: livros humanistas em meio à crise de valores mundial.


A jogar xadrez com Nils Skåre.

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Em uma cena do filme sueco de Ingmar Bergman, O Sétimo Selo (1957). Morte joga xadrez com valente cavaleiro (o jovem Max Von Sidow) e perde. Num dos mais terríveis momentos da Idade Média – a Peste Negra – o prêmio é deixar a trupe do artista inocente (Nils) sobreviver.


Regina Bostulim, jornalista independente (a "Morte") – Como você se descobriu editor? Com que idade?
Nils Skåre, editor, L-Dopa Publicações (o "Cavaleiro de brilhante armadura") – Eu me considero mais um escritor que edita do que um editor que escreve. Comecei a editar quando surgiu a editora, mais ou menos em 2006. Me descobri editor fazendo o trabalho de edição. Não parei em um momento e decidi ser editor. O primeiro livro que editei foi de Howard Zinn, Você não pode ser neutro num trem em movimento.
Quem sugeriu o título foi Klaus Weber, que fundou a editora comigo e que atualmente ocupa o cargo de Conselheiro Adjunto na editora.
Eu tinha 26 anos.

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Bostulim – Quando descobriu que era capaz de escrever?
Skåre – Desde muito criança que escrevo.
Escrevi primeiro conto.
"Tentei evitar a constatação inevitável de que eu era escritor. Mas não teve como evitar, era mais forte que eu".


"Estar sozinho
é de certa forma
estar escrevendo"

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Bostulim – Você acha que escrever é solitário?
Skåre – A escrita é solitária na medida que a solidão também é algo de escrita.
Estar sozinho é de certa forma estar escrevendo.


Bostulim – Qual sua formação?
Skåre – Estudei Ciências Sociais e Letras. Abandonei os cursos no final.

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Bostulim – Por que abandonou os estudos? E logo na reta final?
Skåre – Minha opinião sobre o sistema de ensino está no livro Deschooling Society (A sociedade desescolarizada, 1971), de Ivan Illich.


"A universidade
está voltada
para a validação do saber"

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Bostulim – O estudo "apara as asas"?
Skåre – "É mais complexo que isto".
Escola vem do grego skholé (σχολή), que significa lazer.
Os gregos não tinham idéia de uma escola como nos dias de hoje, de formação para o mercado.
"E em alguma medida a universidade está voltada para a validação do saber que para o saber propriamente dito".


Bostulim – Como se descobriu tradutor?
Skåre – Meu amigo Weber me propôs traduzir Zinn e me aprofundei com um grupo de estudos de tradução da Ufpr, principalmente quanto à poesia.


"Por que as pessoas iriam abdicar
do prazer de ler Shakespeare?
Para ver reality shows?"


Bostulim – Que línguas fala fluentemente e quais é capaz de traduzir?
Skåre – Falo o inglês, o francês, e mais uns arremedos de alemão e de japonês; mas também tenho noções do sueco, do grego antigo e também do pali (parente do sânscrito, no qual estão os escritos originais budistas).


Bostulim – E sobre a edição de Goura Nataraj, "O grande meio-dia"?
Skåre – O Goura é meu amigo de adolescência e ganhou proeminência no movimento cicloativista em Curitiba. Ele me procurou com um livro de ensaios que tangenciam essa vivência dele e eu achei interessante publicar. Acho que, independentemente dos méritos políticos que ele angariou como vereador e agora, deputado, o livro se sustenta e segue cheio de questionamentos e reflexões pertinentes.


Bostulim – Qual o seu processo criativo?
Skåre – "O processo do artista está ligado à liberdade. O artista acaba desenvolvendo uma disciplina desta liberdade. O processo criativo é a maneira como o artista vai se aproximar da liberdade para o continuar existente.
"A literatura é um prazer do qual não consigo abdicar".
"Não quero educar alguém, doutrinar alguém. Por exemplo, Shakespeare. Por que as pessoas iriam abdicar do prazer de ler Shakespeare? Para ver reality shows?".
Horácio tem uma fala sobre educar.


"Ler
é conhecer
pessoas"


As pessoas podem ler Sherwood Anderson e obter prazer com isto.
Podem até sair da depressão lendo Sherwood Anderson, Winnesburg, Ohio.
A gente somatiza nossas experiências antes delas virarem realidade.
Tem gente que tem consciência disto e pode driblar este sentimento.
Ler é conhecer pessoas.
Lendo Winesburg, Ohio, o primeiro conto é sobre um solitário, e pode ajudar na própria solidão.
Uma mulher com problemas com o marido pode ler, por exemplo, contos de Guy de Maupassant, os livros nos fazem companhia.


"Escrevo
pelo menos
todo dia"


Bostulim – Quantas horas escreve por dia?
Skåre – Escrevo pelo menos todo dia. Stephen King propõe escrever 2.000 palavras por dia, ou ao menos em 2-3 dias.
Nos últimos anos escrevi um conto por semana.
Escrevi 5 livros, sendo livros de contos e novelas.
Traduzi mais ou menos 20, 25 autores.


"aquele que não
provou do (...) mel
é um insensato".


O processo de escolha do autor é afetivo. O livro que eu gostaria de ler, que viesse para minha estante.
A editora publicou uns 25, 30 livros.
"Não tenho uma concepção de tradução subjetivista. É como a resolução de uma fórmula matemática. Mas seria falso dizer que não existe criatividade nisto".
Lautrèamont diz, em Cantos de Maldoror: "Ó matemática severa, aquele que não provou do vosso mel é um insensato".


"Quanto menos livros
eu tenho,
mais livros eu leio".


Bostulim – À parte de sua vida como editor, tradutor e esxcritor, quais são os seus hobbies?
Skåre – Li 83 livros este ano. Chego a 100.
Leio 2 por semana.
Gosto de Ray Bradbury, especialmente de "|Crônicas Marcianas".
Não tem autor que eu goste mais.
Sou eclético.
Estou me desfazendo dos livros de minha biblioteca. Não tem necessidade de guardar se outros podem ler.
Quanto menos livros eu tenho, mais livros eu leio.


"minha política
ontem, hoje e sempre
é o livro"


Bostulim – Qual a importância das mídias digitais para a L-Dopa? E sobre ter disponibilizado livros até mesmo de graça no site da editora?
Skåre – Caio é responsável pelas mídias digitais e livros disponibilizados no site. É o gerente comercial.


Bostulim – Como surgiu a idéia de reimprimir livros fora de catálogo e em editar e traduzir obras consideradas das mais "malditas" e "inusitadas"?
Skåre – O processo editorial é marcadamente afetivo. E às vezes se percebe que um autor está fora de catálogo. Mas minha política ontem, hoje e sempre é o livro. A experiência do livro.


"O livro pode levar você
a um ponto muito longe.
Não tenha medo de ir..."


Bostulim – Você tem 38 anos, é jovem para um editor. Sua equipe editorial é das mais jovens e dinâmicas. São amigos. Qual o segredo do sucesso? Serem acima de tudo leitores? Leitores antenados?
Skåre – Acho que para você se tornar mestre em alguma coisa, é preciso trabalho e também prazer. Se você não se diverte fazendo o que faz, está se subaproveitando.


Bostulim – O que gostaria de dizer aos jovens leitores?
Skåre – "O livro pode levar você a um ponto muito longe. Não tenha medo de ir até esse ponto".


Bostulim – Uma reflexão sobre o momento atual no Brasil e no mundo.
Skåre – Num barco salva-vidas, se uma pessoa ficar calma, maiores as chances das pessoas serem salvas.
Não devemos incentivar a paranóia cultural.
Quem se beneficia de nossa ansiedade?
George Bush foi à TV após WTC e sugeriu que as pessoas fizessem compras.
Ansiedade corre lado a lado com o consumismo.


"Um imperador chinês (...)
mandou queimar
todos os livros"


Bostulim – É difícil garimpar as palavras, engastá-las em jóias. E depois as vende barato, até as dá de graça, pois acha que os pobres também têm direito a ter um livro!!!
Skåre – "Tudo o que merece ser feito, merece ser bem feito".


Bostulim – E sobre censura, civilização versus barbárie?
Skåre – Um imperador chinês do século V mandou queimar todos os livros.


Bostulim – Grata Nils, pela oportunidade desta entrevista e desta conversa. Deus o abençoe e proteja nesta sua luta pela arte, pela cultura, e pelos livros.
Skåre – Muito obrigado!
Obrigado mais uma vez!



Por fora, originalidade gráfica e editorial nas coleções da Editora L-Dopa.
No interior, a precisão das traduções de Nils Skåre.



Links:


L-Dopa:
http://ldopa.com.br/


Livro de Emma Goldman, download gratuito:
http://ldopa.com.br/produto/vivendo-minha-vida-digital/

Podcast com Nils Skåre:
http://ldopa.com.br/podcast/podcast-como-prevenir-a-depressao-com-winesburg-ohio/


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